
Situado no coração da zona histórica do Chianti Classico, em Gaiole in Chianti, o Castello di Ama, com seus 90ha de vinhedos, iniciou suas atividades em 1972. Mas foi 10 anos depois que o prestígio da vinícola despontou, com a chegada do jovem e promissor Marco Pallanti que, em 2003, foi reconhecido com o melhor enólogo da Itália, pelo respeitado guia de vinhos Gambero Rosso.
Produzindo cerca de 350.000 garrafas ao ano, o Castello di Ama exibe em sua carteira alguns dos vinhos mais importantes da região, como os Chianti Classicos single vineyard e um surpreendente Merlot, todos habitualmente arrebatando tre bicchieri.
Cristiana Beltrão, a dinâmica empresária que comanda o restaurante Bazzar, é fanzoca de carteirinha do Castello di Ama e colecionadora compulsiva de seus melhores vinhos, comprando-os na baixa para beber na alta. E de posse dessa credencial, convidou o enólogo para vir "apresentar" seus vinhos aos cariocas durante um jantar harmonizado. Embora o preço fosse acima da média de eventos similares (230 reais), a receptividade foi grande e em poucos dias os convites estavam esgotados.
Mas eu explico o porquê das aspas no verbo "apresentar", no parágrafo acima: na verdade, não houve apresentação nenhuma, conforme estamos acostumados, com o produtor descrevendo seus vinhos, as castas e os métodos de produção. Foi uma apresentação, digamos, indireta. Era vinho na taça e pronto!
Para quem olhasse de relance as 6 garrafas alinhadas no balcão, bem poderia pensar que beberíamos apenas um vinho a noite toda. Os rótulos são praticamente iguais, e do mais simples ao mais sofisticado, compartilham o mesmo desenho, a mesma fonte, quase as mesmas cores. Mas, uma vez abertas as garrafas, as diferenças são marcantes. E os destaques da noite, em termos etílicos, foram dois: o L'Apparita IGT Toscana 2007, 100% Merlot, profundo, potente, grandioso. Mas com uma etiqueta de apavorantes 575 reais (na importadora, não no restaurante), é como eu digo, tem a obrigação de ser maravilhoso. E era...
Bem mais acessível (142 reais), mas quase tão espetacular, era o Castello di Ama Chianti Classico 2007 que, com seus encantadores e possantes aromas, levou ao entusiasmo a jornalista Bruna Talarico que reconheceu no mesmo os aromas do cremoso e quase adocicado alho negro que havíamos comido uma hora antes. Pode ser, o alho tinha aromas de ameixas passas...
Jantar com indicação de procedência |
Em minha recente viagem ao Piemonte, pude ver que, nos melhores restaurantes, muitos pratos eram identificados com a Indicação de Procedência de seus ingredientes. Na Itália, isso é fácil, pois há centenas e centenas de produtos assim certificados. Aqui no Brasil, que eu saiba, é só "Cachaça de Paraty" e olhe lá!
Mas isso não desencorajou a incansável Cristiana que passou a certificar, ela mesma, seus fornecedores, orientando-os, criticando, sugerindo, até obter o produto com a qualidade que ela busca. E o cardápio da noite era quase um relatório dessas atividades, com múltiplas descrições da origem daquilo que iríamos provar (como pode ser visto nos nomes dos pratos, abaixo). Tanta preocupação assim com a qualidade é louvável e atiça a curiosidade do cliente. Ah, se todos fossem iguais ao Bazzar...
Oscar Daudt |