
Conheci os vinhos da Condessa Noemi Marone Cinzano em 2008, quando ela mesma veio apresentá-los em um memorável almoço no Garcia & Rodrigues. Naquela ocasião, Noemi apresentou não só a produção da Cantina Argiano, uma belíssima propriedade em Montalcino, como também da Bodega Noemia, diametralmente localizada na Patagônia argentina.
Desta vez, não tivemos os vinhos sul-americanos, nem a presença da Condessa, mas em compensação nossos olhos foram presenteados pela beleza nórdica e gelada da diretora comercial da Argiano, a dinamarquesa Anne-Louise Mikkelsen.
O estranho nome do primeiro vinho, Non Confunditur, cujas iniciais destacadas no rótulo confundem-se com as de Noemi Cinzano, é na verdade o grito de armas que aparece no brasão dos antigos proprietários da vinícola, a família Gaetani d'Aragona. Mas deixemos de lado esses assuntos heráldicos e vamos ao que interessa: dentro da garrafa existe um corte de Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e um pouquinho de Sangiovese, só para dizer que é italiano. O estilo é moderno, com muita fruta, bem macio, poderoso e marcante. E por menos de 100 reais, apresenta excelente relação qualidade-preço.
Também na mesma relação de custo-benefício, por menos de 100 reais, o vinho seguinte foi o Argiano Rosso de Montalcino 2008, com um estilo oposto ao primeiro: o destaque é o equilíbrio, o frescor e a elegância, e um marcante caráter gastronômico que pede um bom prato italiano para acompanhar.
Já em outra faixa de preço, a 212 reais, o Argiano Brunello di Montalcino 2005 é também uma outra faixa de vinho: equilibrando-se entre a força e a delicadeza, é um vinho complexo, com um ramalhete de flores no nariz, macio e grandioso, mostrando todo o caráter que um Brunello caprichado pode ter. De novo, um vinho extremamente gastronômico que representa a quintessência da elegância italiana.
A etiqueta de 330 reais do Solengo 2005 assusta nossos bolsos, mas degustá-lo - quando mais sendo de graça - faz passar o susto, pois esse supertoscano, de Syrah, Merlot e Cabernet Sauvignon é uma coleção de superlativos: concentradíssimo, frutadíssimo, musculoso, mastigável e gostosíssimo, é um vinho de meditação que pode - e deve - ser bebido em um ritual solo. Cheio de especiarias, com madeira notável, é um vinho para o topo da pirâmide.
No início de 2010, tive uma experiência frustrante com o Quadrifoglio e desde então nunca mais havia estado por lá. O convite da Vinci foi a oportunidade para reatar as relações com essa casa tão tradicional quanto simpática. E motivos não faltaram para que os laços de amizade entre ela e eu se estreitassem com convicção.
O serviço foi irretocável: cadenciado, eficiente e, principalmente, com requintes de atenção.
E o cardápio ainda me faz salivar... De surpresa, já que não constava do menu do almoço, o Shot de cogumelos era simplesmente delicioso e seu único defeito era ser... um shot, pois eu com certeza bateria um prato fundo com a maior tranquilidade. E o antipasto, um Involtini di Bandita, recheado com funghi e beringela e acompanhado com rúcula, era fresco e sutil.
O primeiro prato, com o engraçadíssimo nome de Strangolapreti (estrangula padre, em tradução literal), eram levíssimas bolinhas de ricota com espinafre e molho de tomates e fizeram a cabeça das mulheres da mesa que ali enxergaram a forma perfeita para se deliciar sem ganhar aqueles quilinhos a mais.
E para finalizar, o segundo prato era um elaboradíssimo Fiocco di Manzo al vino rosso, cipolle, champignon e pancetta con patate novelle e carciofi, nome interminável e bem apropriado para um prato que leva alguns dias para ser preparado. Das várias etapas que a fraldinha recebe, eu lembro apenas das 48 horas em marinada e do cozimento de várias horas em fogo baixíssimo. Como resultado a carne é absurdamente macia, quase um paté, que bem poderia ser espalhado sobre uma fatia de pão italiano. Show de bola!
Bem, ainda teve uma sobremesa para acompanhar o Solengo: Parmigiano Reggiano com miele di vaniglia, mas eu pedi - e fui prontamente atendido - que o meu queijo viesse à cowboy, sem o mel. Combinação perfeita...
Oscar Daudt |