
Mattia Vezzola, um dos mais respeitados e festejados enólogos italianos, recebeu a honraria máxima que um enólogo de seu país pode alcançar: foi escolhido pelo guia Gambero Rosso como o Miglior enologo italiano per l'anno 2008.
Mattia é diretor geral e enólogo da Bellavista, uma das mais aclamadas vinícolas de Franciacorta, a região da Lombardia que elabora os melhores espumantes italianos, capazes de rivalizar com os mais finos exemplares de Champagne. Essa vinícola é uma das pouquíssimas casas italianas que leva no ombro 2 honrosas estrelas, também oferecidas pelo famoso guia do camarão.
Mas não foi para apresentar os espumantes dessa vinícola que o enólogo esteve no Rio de Janeiro participando de um jantar na Bergut Castelo. É que Mattia encontra tempo também para produzir seus próprios vinhos, na Costaripa, empresa que é propriedade de sua família desde 1936 e que está localizada na pequena cidade de Moniga del Garda, com vinhedos que desfrutam de uma bonita vista para o famoso lago. E foram os vinhos lá produzidos que tivemos a oportunidade de degustar harmonizando com o jantar.
Em 1994, aproveitando uma viagem de seu pai, o jovem Mattia decide unilateralmente mudar os métodos da Costaripa, aplicando as técnicas que aprendera na Borgonha: cortou o rendimento dos vinhedos pela metade, utilizou maceração a frio e passou a envelhecer em barricas os vinhos elaborados com a nativa Groppello. Os resultados foram tão animadores que, a partir daí, a responsabilidade técnica da empresa passou a ser dele.
Um dos mais curiosos casos contados pelo enólogo é a origem do vinho Compostarne Garda Classico Rosso, que foi servido durante o jantar. Os mais jovens nem devem saber quem é Christiaan Barnard, mas quem tem mais de 50 não consegue esquecer desse médico sul-africano que realizou o primeiro transplante de coração em humanos, tornando-se, da noite para o dia, uma celebridade mundial. Pois foi a pedido de Barnard, que desejava um vinho saudável para ser prescrito tanto para jovens quanto para idosos, que a Costaripa desenvolveu exatamente o Compostarne, que naqueles tempos chamava-se Costaripa Christiaan Barnard Foundation e é disputado, hoje em dia, a cortes de bisturi pelos colecionadores.
Mas a vocação da Costaripa são mesmo os rosés, paixão do enólogo, que visa homenagear as mulheres com vinhos de cores deslumbrantes. O Espumante Costaripa Brut Rosé é elaborado com Chardonnay e Pinot Nero, com aromas frutados, fresco e equilibrado.
O Rosamara 2008, com efusiva cor floral, é um vinho cujo complexo corte traz Groppello, Marzemino, Sangiovese e Barbera, e que o enólogo identifica com um vinho multi-funcional, podendo acompanhar os aperitivos por seu frescor, desfilar com os demais pratos de uma refeição por sua boa estrutura, ou simplesmente ser bebido distraidamente à beira do lago em uma tarde quente de verão por sua leveza.
Embora não tenha sido nos servido, a Costaripa ainda produz um inédito vinho rosé de sobremesa, o PalmArgentina, um colheita tardia cujo corte traz, além da Groppello e Marzemino, a Moscato Rosa, resultando em um vinho de lindíssima cor que sua embalagem, em vidro jateado, só faz tornar ainda mais sedutora.
Oscar Daudt |