Eu já conhecia a logomarca dos Douro Boys (ao lado) e sempre imaginei que fosse um galho de videira com algumas folhinhas. Ontem à noite, durante a Masterclass Douro Boys, realizada no Leblon, com a presença dos próprios, é que fiquei sabendo que é uma estilização do rio Douro com a localização das vinícolas que atendem por essa marca. Sim, porque o grupo já virou uma marca, digamos até uma DOC dentro do Douro, a DOC Douro Boys, que é uma garantia de qualidade e criatividade naquela já prestigiada região.
Pois bem, o animado grupo é um espetáculo que prende a atenção da platéia, não só pelos vinhos, mas também pelas tiradas, que algumas vezes até escorregam para o politicamente incorreto: "- O Douro somos nós, o resto não interessa!" Claro que em tom de brincadeira, mas é brincando que muitas vezes dizemos o que pensamos...
Mas, afinal, o que são os Douro Boys, de que todos falam mas nem sempre sabem exatamente do que se trata? É um grupo de cooperação de 5 produtores durienses - Quinta do Vallado, Niepoort, Quinta do Crasto, Quinta do Vale D. Maria e Quinta do Vale Meão - que trocam conhecimentos com o intuito de elevar, cada vez mais, a qualidade dos vinhos que elaboram. Com fortes laços familiares, sejam de sangue, sejam por casamento, às vezes me dá a impressão que são todos descendentes de D. Antonia Ferreira, a Ferreirinha, famosa empresária que foi um expoente dos vinhos do Porto no século XIX e que tanto colaborou para a melhoria dos métodos de produção da estrela maior dos vinhos portugueses.
Pelo que eu me lembro, esse foi um dos eventos de vinho mais disputados que aconteceram aqui no Rio de Janeiro. A quantidade de gente que me pediu convites bateu todos os recordes anteriores, como se fosse eu o distribuidor dos mesmos. Infelimente, não era, e o evento tinha estrito número de assentos, o que fez os enófilos cariocas disputarem a garrafadas a oportunidade de comparecer.
E os felizardos que conseguiram, puderam conferir que realmente valia a pena a briga. Foram apresentados, em 7 rodadas, nada menos do que 22 rótulos dentre aqueles que o Douro tem de melhor para exibir, com uma diversidade incrível e uma qualidade muito parelha.
1ª rodada: Vinhos brancos |
Desta vez, Portugal se lembrou que produz vinhos brancos e nos trouxe uma amostra deliciosa daquilo que está sendo elaborado no Douro. São todos vinhos provenientes das cotas mais altas da região, mas a diferença de estilos era marcante: Crasto Branco 2010, Vallado Moscatel Galego 2010, Van Zellers Douro Branco 2009 e Redoma Reserva Branco 2009. Minha preferência recaiu sobre o VZ, elaborado com Rabigato e Códega de vinhas antigas, sem passagem em madeira, com toques minerais intensos, seco e de bela acidez. Mas correndo logo atrás, ficou o Redoma, com sua complexidade decorrente da passagem em madeira e uma excelente cremosidade.
2ª rodada: Quinta do Vale D. Maria |
Cristiano Van Zeller trouxe duas safras do Quinta Vale D. Maria, 2007 e 2008, e o Curriculum Vitae 2008. Dentre os 2 primeiros, não tive dúvidas em escolher o 2007, um vinho estupendo, com muito perfume, flores a dar com o pau e excelente estrutura. Mas o CV 2008 foi o que mais me encheu os olhos e as narinas com seu exuberante nariz floral e frutado, e uma boca fresca, aveludada e muito elegante. |
3ª rodada: Quinta do Vale Meão |
A terceira rodada foi a mais curtinha, já que essa vinícola produz apenas dois vinhos de mesa: o Meandro 2008 - que Olazabal chama de seu 2º vinho - e o portentoso Quinta do Vale Meão 2008. Além de mais curta, foi também a mais fácil de escolher o melhor. O vinho principal, carinhosamente apelidado de Barca Nova, com predominância de Touriga Nacional (50%) e Touriga Franca (30%) e aromas florais e de chocolate, é um gigante, com muita concentração, untuosidade e uma respeitável quantidade de fruta.
4ª rodada: Quinta do Vallado |
João Ferreira era o único dos Douro Boys que eu conhecia pessoalmente até então. E ele trouxe para nos apresentar 3 vinhos da safra 2008: Vallado Douro, Quinta do Vallado Touriga Nacional e Quinta do Vallado Reserva Field Blend. O Touriga era especial, com aromas de ameixas pretas e cacau, gordo e intenso, embora tenha me parecido um pouco quente. Já o Field Blend era para ninguém botar defeito: elaborado com vinhas velhas, onde as castas são todas misturadas e daí o nome - o que não explica a inesperada anglofilia - e envelhecimento em barricas de carvalho francês (80% novas), era concentradíssimo, complexo e harmonioso, que recebeu merecidos 94 pontos da Wine Spectator.
5ª rodada: Quinta do Crasto |
Composta de 4 vinhos da safra de 2009 - Crasto, Crasto Superior, Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas e Quinta do Crasto Touriga Nacional - a quarta rodada foi uma batalha toda particular entre os dois últimos vinhos. Mas não sobraram muitas dúvidas, pois embora o Reserva fosse elegante e concentrado, venceu a minha preferência pela Touriga Nacional, que elegi não apenas o melhor da rodada, como também o melhor da noite. Seu nariz era avassalador, com muito perfume de rosas e baunilha que me deixaram perdidamente apaixonado, completando com uma boca macia, volumosa, suculenta e um final que parecia que nunca mais iria embora. Grandioso!
Última rodada de vinhos secos, a Niepoort apresentou 3 de seus respeitados e lacônicos rótulos: Redoma 2008, Batuta 2008 e Charme 2007. Depois de tantos vinhos de cor profunda, escuros, intransponíveis, o Charme chegou causando estranheza com seu descoramento, que mais fazia parecer um Pinot Noir da Borgonha. Vinificado por Dirk Niepoort a partir das tintureiras castas do Douro, como uma homenagem aos complexos vinhos franceses que ele tanto aprecia, seria bem interessante degustá-lo às cegas. Mesmo de olhos bem abertos, alguns o comparavam a um Gevrey-Chambertin, enquanto outros mais afoitos chegavam a dizer que degustavam um La Tâche. Era bom mesmo, mas minha preferência recaiu foi sobre o Batuta e sua intensidade aromática, seus toques minerais e seu agradável frescor, oferecendo uma boca aveludada, equilibrada e muito looooooonga.
7ª rodada: Vinhos do Porto |
Depois de tantos e maravilhosos vinhos secos, eu nem prestei atenção aos Vinhos do Porto. Como de costume, ficaram intocados em minhas taças o Quinta do Vallado Vintage 2009, Quinta do Vale Meão 2008 e o Niepoort Vintage 2007.
Oscar Daudt |