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Chile
Chez l'Ami Martin

Concorrência em família
Eu sempre pensei que as duas empresas fossem a mesma coisa, separadas apenas por um hífen: World Wine-La Pastina. Mas descobri que, na verdade, as duas importadoras de Celso La Pastina são entidades jurídicas totalmente independentes, cada uma com sua própria estrutura e, inclusive, competindo entre si.

Enquanto a World Wine aposta no setor de vinhos finos, voltada para a venda direta ao consumidor, a La Pastina tem forte atuação no mercado de produtos alimentícios gourmet com uma grande força de vendas espalhada pelo Brasil. Mas quanto aos vinhos, esta última contava com rótulos nem tão finos assim, onde destacava-se o desengonçado Gato Negro.

Celso, é claro, logo viu que os vendedores da La Pastina, interagindo com as mais requintadas delicatessen, não dispunham de vinhos do mesmo nível de suas iguarias para oferecer aos clientes e resolveu corrigir os rumos. Agora o catálogo dessa empresa oferece Brunellos, Barolos, Portos e outros rótulos festejados. E em suas páginas, um dos maiores destaques é a vinícola chilena Emiliana e sua linha de vinhos orgânicos e biodinâmicos.

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Em mais um exemplo de concorrência em família, em 1986, a Concha y Toro decidiu se dividir, criando a Emiliana, vinícola batizada em homenagem à mulher do famoso Don Melchor. Em pouco tempo, a nova empresa tomou a decisão estratégica de apostar na agricultura orgânica e biodinâmica e, atualmente, é a maior empresa do mundo certificada nessas práticas. Eu fico entusiasmado com os métodos orgânicos e acredito que o futuro esteja por esse caminho. Já quanto às crendices esotéricas da biodinâmica, acho que ficam melhores em um reunião de druídas...

Quem chegasse ao jantar oferecido pela La Pastina, no Chez l'Ami Martin, enquanto era exibido o vídeo promocional da vinícola, bem poderia pensar que estava no lugar errado. Com uma linguagem piegas, descrevia as atividades da empresa: apicultura, criação de alpacas, fabricação de chapéus de palha, construção de quadras poliesportivas e outras esquisitices. Tinha até prefeito agradecendo a responsabilidade social da Emiliana. Mais parecia propaganda política. E para surpresa geral, esqueceram de falar em uvas e vinhos...

Pode vir quente que eu estou fervendo
Aprendi que um dos efeitos da agricultura orgânica é a elevação do teor alcoólico pois, como explicou o enólogo Cesar Morales, que comandou a degustação, as uvas levam mais tempo para atingir o ponto de colheita e o açúcar só faz aumentar... Consequentemente, os vinhos são verdadeiros exocets alcoólicos, ultrapassando até o teor de 15%.

Por outro lado, fiquei maravilhado com a elegância discreta da utilização de madeira, que se mostrava como um levíssimo tempero, deixando a fruta reinar soberana.

Isso posto, o melhor branco do evento foi um espetacular Novas Gran Reserva Chardonnay 2009, sutilmente envelhecido por 4 meses em carvalho, nariz frutado e mineral, com uma boca também cheia de fruta, cremosa, deliciosamente ácida e com boa permanência. É bem assim que eu gosto de um Chardonnay!

No terreno dos tintos, o campeão foi o Coyam 2009, para o qual o enólogo decidiu misturar todas as uvas que conhecia e chegou ao complicado corte de 41% Syrah, 29% Carmenère, 20% Merlot, 7% Cabernet Sauvignon, 2% Mourvèdre e... 1% Petit Verdot. Deve ter sido o alto percentual dessa última que me fez gostar tanto do vinho! Com 13 meses de envelhecimento em barricas (francesas e americanas) apresenta um nariz exuberantemene frutado e condimentado, com uma boca gorda, fresca e aveludada. Mas o vinho ainda é bem novinho. Valerá muito a pena deixá-lo quietinho na adega por mais alguns anos.

Oscar Daudt
Os vinhos
Adobe Reserva Sauvignon Blanc 2011
DO: Valle de Casablanca
Castas: 100% Sauvignon Blanc
Álcool: 13,5%
Adobe Reserva Gewürztraminer 2010
DO: Valle de Rapel
Castas: 90% Gewürzartraminer, 10% Sauvignon Blanc
Álcool: 14,4%
Novas Gran Reserva Chardonnay 2009
DO: Valle de Casablanca
Castas: 100% Chardonnay
Álcool: 14,6%
Adobe Reserva Pinot Noir 2009
DO: Valle de Casablanca
Castas: 100% Pinot Noir
Envelhecimento: 12 meses em barricas, 70% francesas
Álcool: 14,4%
Signos de Origen Syrah 2009
DO: Valle de Casablanca
Castas: 88% Syrah, 7% Merlot, 5% Viognier
Envelhecimento: 12 meses em barricas, 80% francesas, 20% americanas
Álcool: 14,8%
Signos de Origen Cabernet Sauvignon 2009
DO: Valle de Maipo
Castas: 100% Cabernet Sauvignon
Envelhecimento: 12 meses em barricas francesas
Álcool: 14,8%
Coyam 2009
DO: Valle de Colchagua
Castas: 41% Syrah, 29% Carmenère, 20% Merlot, 7% Cabernet Sauvignon, 2% Mourvèdre e 1% Petit Verdot
Envelhecimento: 13 meses em barricas, 80% francesas, 20% americanas
Álcool: 14,8%
Gê 2007
DO: Valle de Colchagua
Castas: 61% Syrah, 21% Carmenère, 18% Cabernet Sauvignon
Envelhecimento: 15 meses em barricas francesas
Álcool: 15,1%
O jantar de Pascal Jolly
Amuse bouche Ceviche ao modo francês
La sole limande La bavette de la maison Creme brulée perfumado com baunilha, bourbon e especiarias, caramelizada com morangos
Os participantes
Valéria Santos e Nanda de Lamare, do Gula Gula
Guilherme Maximino e João Carlos Aleixo, da rede Artigiano O enólogo Cesar Morales
André e José Grimberg, da Bergut Cristian Rodriguez, diretor comercial da Emiliana Virgínia Meirelles, gerente de marketing da La Pastina
Luis Ricardo da Silva, representante da La Pastina no Rio de Janeiro, e Valéria Santos Carlos Labre e Sabrina Thomé, gerentes da La Pastina Cláudio Varsano, da La Pastina
Comentários
Luiz Alfredo A. Rangel
www.wine-ev.com
Rio de Janeiro
RJ
22/07/2011 Oscar,

A justificativa oferecida pelo enólogo César Morales para o alto teor alcoólico de seus vinhos não me parece convincente.

Uma possível, e politicamente correta, explicação, é de que o manejo orgânico reduz os rendimentos (volume de uvas produzido por hectare) e como consequência o grau Brix (quantidade de açúcares na uva) potencial aumenta.

A explicação provável, no entanto, parece ser a velha adição de açúcar ao mosto antes da fermentação alcoólica: a chaptalização; que faz com que as safras recentes de vinhos chilenos apresentem uma uniformidade de teores alcoólicos no patamar (acima) dos 14%, inconcebível para os verões frescos, a radiação solar moderada e a boa variabilidade do tempo, ano a ano, nos vales do Maipo, Casablanca, Colchagua, Cachapoal, etc.. Esta última hipótese parece, inclusive, explicar o final “quente” e alcoólico de muitos vinhos chilenos nos últimos anos.

Parabéns e continue com o belo trabalho!
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]