
Acho que já podemos dar adeus aos eventos de vinhos do tipo, digamos, papai-e-mamãe, aqueles em que existem apenas as mesas de degustação e nada mais acontece.
Eu diria que tudo começou, em junho deste ano, com a realização do Wine Gourmet Show, da Casa Flora e Porto a Porto, que sacudiram a poeira dos mega-eventos, oferecendo diferenciais até então desconhecidos: duração de 6-8 horas, participação apenas para convidados, degustação de produtos gourmet e uma série de palestras com os produtores ao longo do evento. Naquele momento, escrevi o seguinte: "Foi um novo padrão de atendimento e cuidados que seria bom que fosse analisado pelas demais importadoras...".
Parece que a Winebrands recebeu o recado e em seu primeiro grande evento seguiu a cartilha à risca, oferecendo tudo que está acima descrito e, mais ainda, trouxe outras novidades para agradar aos convidados:
o nome lounge não era em vão e havia espalhados pelo grande salão uma boa quantidade de sofás e pufes para que se pudesse relaxar entre uma degustação e outra. Isso é um diferencial importantíssimo, pois ninguém aguenta tanto tempo em pé, sem descanso, enquanto está provando os vinhos. Nota 10!
o buffet abandonou aquele surrado esquema de pão-queijo-fiambres e trouxe deliciosas produções do chef Pedro de Artagão, do Laguiole. Deliciosas, mesmo... E a toda hora, passavam pelo salão salgados quentinhos, bem variados. Nota 10!
havia uma produção musical - "O Som da Uvas" - mas eu confesso que simplesmente me passou desapercebida. Em nenhum momento eu ouvi uma música sequer. Sem nota!
o espaço era excelente, com lugar de sobra para acomodar os convidados com muito conforto; as mesas de degustação eram espaçosas, permitindo um atendimento sem delongas ou filas, sempre com o produtor e um auxiliar para servir aos convidados. E ainda por cima, uma vista privilegiada. Nota 10!
O evento foi um espetáculo e eu só fico pensando o que vem pela frente, com as importadoras querendo cada uma fazer melhor do que a outra! Pelo jeito, eventos papai-e-mamãe, nunca mais.
A carteira da Winebrands, embora oferecendo grandes nomes da vinicultura mundial, é bem enxuta, com um total de 16 produtores. Mesmo assim, nem todos foram convidados para o evento e havia apenas 11 vinícolas presentes. A quantidade de vinhos em cada mesa era discreta e com isso permitindo que se pudesse provar todos aqueles desejados sem correrias, estresse e frustrações. Para mim, foi o dimensionamento ideal.
Desta feita, dividi direitinho minhas provas entre brancos e tintos. Dos primeiros:
o melhor da feira foi o húngaro Dobogó Furmint Tokaj 2007, um vinho seco, intenso e mineral, que não dependia da ajuda da beleza de sua produtora, Izabella Zwack, para fazer um grande sucesso;
na Albert Bichot, o Moutonne Chablis Grand Cru 2006 era elegante e delicioso;
surpreendente, no estande da Falesco, o Ferentano Lazio 2008, um varietal da desconhecida casta Roscetto, tinha uma textura cremosa, complexa e prolongada;
e da África do Sul, da Steenberg, me agradou muitíssimo um diferenciado Sauvignon Blanc Reserve 2009 que o enólogo teve de repetir várias vezes até eu acreditar que ele não tinha estágio em madeira.
Partindo para os tintos, os destaques foram:
Prunotto Barbaresco Bric Turot 2005, complexo e floral, verdadeiramente saboroso;
é até bobagem destacar o Tignanello 2007, da Antinori, mas aí vai: um vinhaço!;
quando experimentei o El Rincón 2005, da Marqués de Griñon, tive uma rejeição imediata, dado seu caráter de Biotônico Fontoura; corte de Syrah e Garnacha, é diferente de tudo o que eu já havia provado, mas a longevidade na boca foi trazendo deliciosos sabores de avelã; a essa altura, no entanto, eu já havia detonado o vinho no balde e não pude repetir. Uma pena, pois agora só me resta a curiosidade de saber se, depois do terceiro gole, eu já não teria o gosto adquirido;
a elegância do Vosne-Romanée Premier Cru Les Malconsorts 2006, da Albert Bichot;
o condimentado Gernot Langes 2005, da Norton, aveludado e complexo.
Oscar Daudt |