
Quem chega ao Manifesto tem a clara impressão de que está entrando em uma lanchonete americana dos anos 1960. Como bem definiu Reinaldo Paes Barreto, fica-se esperando encontrar a Marilyn Monroe dançando rock-and-roll e comendo um hot-dog.
As paredes são enfeitadas por imagens que lembram os quadros de Andy Warhol, assim como alguns textos ligados ao chefe, como trechos das músicas de Janis Joplin. As toalhas são de plástico, mas com um desenho muito bonito que é largamente valorizado pela iluminação, levando o frequentador mais distraído a imaginar que sejam de metal. Os porta-pratos são discos de vinil ou CDs. É quase uma vanguarda do passado, um museu de grandes novidades.
Quando diretamente perguntado pelo porquê de uma decoração assim tão "nada-a-ver" com a proposta da casa, o chef Luís Baena disse que a ideia era realmente chocar os visitantes. Mas sei lá se funciona, pois se eu estivesse passando pela frente, sem conhecer o restaurante, nunca entraria, achando que era apenas mais um desses mac-donalds da vida.
Criatividade e "deliciosidade" |
Mas passado o susto, a experiência é fascinante. O chef assim se define: "A minha cozinha é um espaço de intervenção, de interpretação e de experimentação. Reproduz e reinterpreta clássicos, questiona-os e reinventa-os." Mas isso é muita teoria para explicar o que realmente interessa: os pratos são belos, surpreendentes e deliciosos.
A casa oferece, além de uma menu à la carte, nada menos do que 3 menus-degustação: o Blow up, com 6 etapas (35 euro), o Vertigo, com 8 etapas (45 euro) e o inacreditável Stairway to heaven (78 euro), um menu-confiança sem quantidade de pratos definida e que só termina quando o cliente pede pelo amor de Deus para parar. É sério! Mas nós deixamos tudo na mão do restaurante que escolheu os pratos mais representativos da cozinha, sem seguir nenhum dos esquemas pré-definidos. E não nos arrependemos...
No couvert, uma simples cesta de pães se transforma em um acontecimento, com criações enfeitadas, diferentes, que misturam a tradição dos bolos de caco da Ilha da Madeira com a modernidade de - sei lá - "mandiopans" multi-coloridos e de variados e inesperados sabores. E é acompanhada de um Chupa-chupa (um pirulito...) de queijo parmesão, uma Gema trufada de baixa temperatura e manteigas de origem controlada.
Três belas entradas davam bem a noção do capricho do chef com a escolha dos ingredientes, os cuidados com a estética e a vontade de instigar: Rissóis de amêijoas do Algarve, Pastel de galinha do campo e principalmente a Terrina de foie gras, elaborada com vinho licoroso dos Açores.
Dos dois pratos principais, muito bom o Salmão fumado com risoto de algas e ar de parmesão, mas ainda muito melhor a Burra de porco alentejano DOP, purê de batata e crouton de cúrcuma, cuja textura quase pastosa da carne contrastava com a crocância dos quadradinhos da cúrcuma. Um show!
Meus companheiros ainda conseguiram encarar as Mil-folhas de natas com sorvete de canela - uma releitura dos célebres Pastéis de Belém - mas eu já havia encerrado o expediente.
E uma boa notícia para os cariocas: o chef nos confidenciou que está à procura de um espaço no Rio de Janeiro para instalar uma filial do Manifesto. Fico só na torcida...
Oscar Daudt
Serviço:
Manifesto
Largo de Santos, 9B
Tel: (21)396-3419
Horário:
2ª a 6ª: 12:30-15:00 e 19:30-23:30
Sábados: 19:30-24:00 |