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SBAV

Vinho sem gravata
A SBAV - Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho elegeu nova diretoria, semana passada. Dentre outros nomes que comandarão a associação encontra-se Cacá Azevedo, que tomará conta da Diretoria Jovem, que busca atrair a juventude para o mundo dos vinhos. Por juventude, no mundo dos vinhos, entenda-se qualquer um abaixo de 50...

Cacá é jovem e linda, mas seu maior predicado está no astral, sempre prá cima. Louquinha como ela só, decidiu mostrar a que veio e organizou uma tal de Degustação Sensorial - seja lá o que isso for - usando o mote "Explore seus sentidos: tato, audição, visão, olfato e paladar". Claro que eu fiquei curioso com a ideia - principalmente com o aspecto auditivo - e fui conferir. Conforme Cacá nos informou na introdução, a intenção era tirar a gravata do vinho visando atrair a juventude. O que aconteceu, na verdade, é que além da gravata, ela tirou quase tudo, deixando o vinho apenas de sunguinha curtindo um luau.

No início, recebemos dois kits misteriosos, lacrados, que só podíamos abrir com a ordem da mestra, para fazer um certo suspense. Mas mal sabia ela que o verdadeiro suspense acontecia depois de abrir. O que havia dentro era absolutamente incompreensível. Num dos conjuntos havia diversos retalhos, uma caixa de lápis de cera e outra de fósforos. No segundo conjunto, um ziplock cheio de isopor, uma lixa, uma bolinha de gude e outra de ping-pong! Alguém já viu alguma coisa parecida com isso nas degustações da vida?

A cada vinho que chegava sem identificação às taças, os presentes deviam expor suas sensações mais primárias, impensadas, desligando-se dos conceitos usuais de uma degustação. Quando Cacá me fez a primeira pergunta, querendo saber o que o vinho branco me lembrava, minha mente cartesiana se manifestou: -"Sauvignon Blanc!", respondi animado. Quase fui expulso da sala, pois a brincadeira não devia seguir o caminho da lógica, mas sim aquele da expontaneidade. Nem adiantou eu explicar que havia sido expontâneo, pois fui proibido de falar em castas daquele momento em diante.

-"Esse vinho lembra que cor?", perguntava ela, e tínhamos de escolher entre os lápis azul, verde, amarelo, vermelho, marrom e preto qual o que melhor combinava com o vinho. Bem, para mim, o vinho branco lembrava amarelo e os vinhos tintos lembravam vermelho. E olhe lá! Mas a turma menos reprimida enxergava um arco-íris nas taças. -"E qual a textura?" E tínhamos de escolher dentre os pedaços de pano aquele que tivesse o toque mais parecido com o vinho na boca. Dessa parte eu não participei, pois me recusei a colocar os panos na boca para experimentar suas texturas...

Mas os melhores momentos foram quando os participantes tinham de escolher os aromas e sabores. Daí a turma se soltava e cada vez mais, à medida em que os vinhos se sucediam. Eu recolhi algumas pérolas inimagináveis. Vejam só:

  • Salada de alface
  • Água de conserva de palmito
  • Sangue
  • Azeitona calabresa
  • Aromas de sapo
  • Colcha de quarto de criança
  • Couro... mas de bota de grife
  • Som de pandeiro
  • O vinho não é bom, é bum!

    É claro que a maior parte dessas tiradas eram o vinho falando e não as mentes.

    Foi divertido. Aliás divertidíssimo! Ao final, quando os vinhos foram então revelados, viu-se que, dentro do espírito jovial da degustação, não havia nenhum ícone, mas apenas vinhos acessíveis ao bolso da juventude que vive de mesada.

    Porém, a maior surpresa tive eu, que tenho ojeriza à Pinotage e escolhi um exemplar dessa raça como o melhor da noite. Mas eu me perdôo, pois a concorrência não era lá essa Brastemp toda, não...

    Oscar Daudt
  • A Degustação Sensorial
    Cacá comandando a juventude Os misteriosos kits da degustação
    A juventude dourada
    Paulinho Gomes, presidente da SBAV Affonso Nunes, diretor social e primeiro-damo da degustação, não disfarçava sua apreensão Sandra e Luiz Otávio Azevedo, pais de Cacá
    Luciana Daudt Ana Lúcia Carvalho, representante da Vinhos do Mundo José Mauro Mesquita expressava suas emoções por meio de desenhos irretocáveis
    Carolina Miranda Emmanoel Santos Fabrícia Moubayed e Lívia Bravin, da Diwulga
    Clara Tenrreiro Silvana Monte Lima Jean-Lucien Cabirol e Cacá
    Comentários
    Affonso Nunes
    Jornalista e enófilo - Sbav-Rio
    Rio de Janeiro
    RJ
    16/09/2011 Oscar caríssimo,

    A proposta da Cacá é justamente a de mostrar aos não iniciados que para gostar de vinho só se exige um requisito que é justamente gostar de vinho, rsrs.

    Brincadeiras à parte, essa degustação foi uma das mais divertidas que presenciei na Sbav. Agradecemos a todos que participaram e abriram a cabeça e todos os sentidos. Penso que descomplicar o vinho deve ser um desafio diário para todos nós.

    Enoabraços.
    Yann Lesaffre
    SBAV
    Rio de Janeiro
    RJ
    16/09/2011 Amigo Oscar,

    Obrigado pela presença e fico muito contente que tenha se divertido e gostado do evento. Devido ao sucesso em breve faremos uma reprise, pois a visão da SBAV é inovar sempre fazendo degustações práticas, inusitadas, descontraídas e divertidas.

    Queremos passar mais do que conteúdo, também é importante para nós incentivar a confraternização e união dos nossos associados, parceiros e amigos. Afinal, nada melhor que degustar um bom vinho (ou vários..... rsrsr) com os amigos.

    Forte abraço
    Antonio Carlos Ferreira
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    16/09/2011 Prezado Oscar,

    E podemos saber quais foram os vinhos?

    Um abraço,
    AC

    Sim, Antônio Carlos. Os vinhos foram:

  • Espumante Don Giovanni (R$ 42,90)
  • Yali Reserva Sauvignon Blanc (R$ 38,08)
  • Queulat Gran Reserva Carmenère (R$ 64,00)
  • Viu Manent Reserva Malbec
  • Festivo Malbec (R$ 49,00)
  • Avondale Pinotage (R$ 45,80)
  • Ysern Roble Tannat (R$29,80)

    Abraços, Oscar
  • Cacá Azevedo
    SBAV
    Rio de Janeiro
    RJ
    16/09/2011 Oscar,

    Muito obrigada pela sua presença e pelo artigo divertido. Perdão se eu tolhi seus comentários quando você começou a falar o nome das castas.

    Um dos motivos principais que me fizeram criar esta degustação é que eu considero a maioria delas muito parecidas, formais, encerradas em si mesmas. Os participantes bebem e falam meia dúzia de coisas sobre o vinho. Nem todo mundo participa. O quer que a gente faça na vida é melhor se fizermos de forma divertida.

    Eu comparei as 10 fichas que me foram devolvidas com as fichas técnicas do produtor e encontrei várias similaridades. Todo mundo tem a sua roda de aromas, suas notas musicais e músicas, sua palheta de cores e suas sensações táteis. Cada um percebe de maneira diferente. Respeitando as diferenças e deixando as pessoas à vontade para se expressarem, obtive algumas observaçoes interessantes.

    Por exemplo, o participante falou uva passa; o produtor usa frutas secas. Em outro momento, o participante descreveu como charuto, cachimbo, fumaça; o produtor usa o aroma tabaco. O participante fala capim, grama, mato cortado; o produto fala toques herbáceos. O participante fala tutti fruti e goma de mascar; o produtor fala morangos e cerejas e por aí vai.

    Além de propor algo diferente, meu objetivo era realmente despir o vinho e deixar ele, se possível, nu. Sem adereços de marca, nomenclaturas, formalidades, sem erros e acertos, todos podem se aventurar no vinho. Muitas vezes confundimos o sério com o formal. Podemos tratar de um assunto de forma verdadeira utilizando o humor, a leveza e a alegria.

    Tim-tim da sua fã, Cacá.
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]