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Daniel Boulud é um super-astro da gastronomia. Francês, nascido nos arredores de Lyon, é atualmente um chef multinacional, com estabelecimentos nos Estados Unidos, Canadá, China e Cingapura. Mas é mesmo de Nova Iorque, onde mantém 5 casas, que vem sua fama, capitaneada pelo triplamente estrelado restaurante Daniel, que eu ainda não conheço. Mas estive recentemente no Café Boulud (que ostenta uma estrela), cuja sofisticação e a qualidade da comida e do serviço já deixam imaginar como deve ser a casa principal.
Pois foi temperando o caldeirão do grande mago que Marcelo Tanus, o jovem e cabeludo chef do Zozô, aprendeu os requintes da alta gastronomia. E aprendeu direitinho, conforme tive a oportunidade de conferir esta semana.
O Zozô é um belíssimo restaurante, ao lado da estação do bondinho do Pão de Açúcar, na Praia Vermelha. Amplo, muito amplo, com muitas mesas bem espaçadas, ainda assim consegue transmitir uma sensação de aconchego graças a um bem trabalhado projeto de iluminação, com pouca luz e muitas velas.
Mas a casa sofre o dilema de não saber o que é. É um restaurante? É um clube noturno? Não, é o Super-Zozô. Eu já não estava lá para conferir, mas me contaram que em determinado momento as luzes diminuem ainda mais e a balada da juventude dourada começa.
Mas alheio às danças e contra-danças, o chef Marcelo não pára e recentemente implodiu o antigo menu, não deixando garfo sobre garfo. Do que havia antes, só restaram 3 pratos - os sucessos da cozinha - e foram criados nada menos do que 20 novas entradas no cardápio. E para apresentá-las, ofereceu um menu-degustação (que não consta da carta) à imprensa carioca.
Foram muitas as etapas, 9 ao todo, servidas em porções diminutas, para que pudéssemos experimentar a maior quantidade possível de pratos. Mas como 3 eram de sobremesa, eu fiquei apenas nas 6 etapas salgadas. E foi simplesmente fantástico. Normalmente, em menus assim extensos, há coisas que você gosta e outras que não lhe dizem muito. Não foi o caso com as obras assinadas por Marcelo: gostei muito de todas! Desde o início, com a Mousse de ostras do couvert... O amuse bouche foi um Steak Tartare, prato que normalmente não entra na minha relação de "10 mais", mas que habilmente temperado com mostarda e acompanhado por um ovo de codorna de baixa temperatura, me obrigou a rever os conceitos.
A primeira entrada, Creme de cogumelos trufados (31 reais), era tão deliciosa que a reclamação geral foi de que a porção de degustação era pequena demais. E esse foi, aliás, o único ponto negativo da noite. Só que rei morto, rei posto, e a entrada seguinte - homenagem do aluno ao mestre - a Tarte tatin de tomate do Boulud (27 reais) foi o Everest de uma cordilheira de pontos altos. Eram singelas fatias de tomate recheadas com queijo de cabra sobre uma massa folheada. Mas era simplesmente perfeita. O tomate tinha 0% de acidez e o chef explicou que ele cozinha durante 3 horas em fogo baixo para atingir essa delicadeza toda. Fortemente recomendado.
Confesso que a descrição do primeiro prato principal me deixou com um pé atrás: Gnocchi da casa com calabresa e creme de parmesão. Imaginei que esses ingredientes musculosos iriam transformar o prato em um ultimate fighting gastronômico. Mas que nada! O molho era de uma elegância sutil, acompanhando os gnocchis de batata inglesa e baroa. E o segundo prato, Corte especial Zozô bordalaise (51 reais) era um misterioso pedaço de carne, macio toda vida - dava até para comer de colher - não muito suculento e acompanhado de um purê de batatas e cogumelos que arrancou suspiros da plateia. Só ao final o chef veio a mesa para contar que havíamos comido um prosaico pedaço de peito. Espetáculo!
Vinhos prá lá de honestos |
Chamou-me a atenção a carta de vinhos do Zozô, com rótulos que começavam em risíveis 42 reais. Claro que no final da linha, os preços atingem a estratosfera, com etiquetas de mais de 600 reais. Mas até chegar aos preços proibitivos, havia muitas alternativas por menos de 60 reais e a maioria dos vinhos ficavam abaixo de 100 reais. Difícil de encontrar tanta barganha em um restaurante de nível equivalente.
Oscar Daudt |
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