
Após um período de indefinições, que deixou seus frequentadores com os nervos a flor da pele, a Locanda della Mimosa, o mais charmoso e requintado restaurante do Rio de Janeiro, reencontrou seu caminho de prestígio, com uma mudança societária não muito radical: entrou Aguinaldo Silva, o consagrado escritor responsável por muitas das novelas de sucesso da Rede Globo, mas continuou Lilian Seldin no comando. Conforme declarou Aguinaldo: "A Locanda della Mimosa manterá a excelência, mas em alguns pontos se tornará ainda melhor; eu e Lilian garantimos."
O fato é que, na alvorada de sua nova fase, com Lilian comandando a operação com rédeas curtas e com o prestígio do novo sócio, o relais de champagne virou moda e tem atraído, feito magneto, os mais badalados frequentadores. Difícil visitar a casa e não esbarrar com algum ator global por lá.
Dentro dessa estratégia de melhorar o que já era excelente, Lilian e Aguinaldo convidaram o chef Alexandre Henriques, do melhor restaurante português do Rio de Janeiro (que surpreendentemente fica em Niterói), a Gruta de Santo Antônio, para comandar os fogões em uma tarde de DNA essencialmente lusitano. Embora não houvesse trilha sonora, quase dava para ouvir Amália Rodrigues cantando pelo ar.
A primeira entrada, o Duo de punheta de bacalhau e atum escabeche era um tanto burocrática, mas a partir daí, Alexandre se soltou e proporcionou a todos um almoço inolvidável. A segunda entrada, um prato de Lagostins em perfume de shitake e zuchine era a elegância lisboeta em pessoa, que foi seguida pela Cataplana de cherne com camarão, cuja plasticidade só encontrava concorrência nos delicados sabores.
Eu sou suspeitíssimo para falar de um Bacalhau à Brás, minha forma preferida de consumir o peixe sem cabeça, mas o chef deu um showzaço em sua versão, cujo único defeito era não copiar a generosidade das porções da terrinha. Eu confesso que comeria uns 2 ou 3 daquele prato. Mas, tudo bem, "nos pequenos frascos, as grandes essências!"
Finalmente, a Mousse de grão de bico com lâminas de bacalhau na cama de alho poró e cebola confitada tinha tudo o que eu gosto e mais um exclusivo toque niteroiense de sutileza. Um gran finale!
Mas o "finale" não foi tão definitivo assim. Normalmente avesso a sobremesas, me bateu um banzo da recente viagem ao Alentejo e não resisti a reiniciar os trabalhos e destroçar os doces conventuais que o chef ofereceu. Foi como voltar à bela Évora!
Oscar Daudt |