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Análises de preços
Dúvida cruel
Os enófilos brasileiros, assaltados com os preços dos vinhos por aqui, devem decidir constantemente o que fazer com o seu suado dinheirinho: vinho ou viagem? Nem sempre é fácil escolher. Portanto, para aliviar a tensão que assola os apreciadores de vinho, o EnoEventos elaborou um estudo sobre qual é a melhor alternativa. E chegamos à entusiasmante opção de que, em caso de dúvida, você deve escolher os dois.


Viagem a Nova Iorque
Vamos considerar a hipótese de que você tenha de comprar 6 vinhos para um jantar formal, em que você é obrigado a impressionar seus convidados. Um amigo (certamente da onça) lhe sugere que você compre o excepcional vinho Jim Barry The Armagh, um Shiraz australiano de finíssima estampa.

Você tem 2 alternativas: ligar para a importadora KMM e encomendar esses vinhos, tendo a desagradável surpresa de ver que sua conta bancária foi encolhida em estapafúrdios R$7.380, ou tomar a decisão mais acertada e decidir comprá-los pessoalmente em... Nova Iorque, aproveitando para passar 4 dias na capital do mundo!

Escolhida a segunda alternativa, com o mesmo dinheiro que você gastaria comprando os vinhos no Brasil, você poderá:

  • comprar os 6 mesmíssimos vinhos;
  • comprar uma passagem pela TAM Rio-Nova Iorque, ida e volta, sem escalas;
  • hospedar-se por 4 noites em um hotel 3 estrelas, o Holliday Inn Midtown, bem localizado na 57th Street;
  • almoçar 4 vezes no Jean Georges (3 estrelas Michelin), localizado ao lado do Central Park, pedindo entrada, prato principal, sobremesa e uma taça de vinho;
  • conhecer 4 wine bars à noite, bebendo 3 taças de vinho acompanhadas por uma tábua de queijos e outra de fiambres;
  • pagar o transporte de ida e volta ao aeroporto.

    E, após 4 dias vivendo a vida de um príncipe, ainda ter a surpresa de sobrar 756 reais no bolso para comprar um presente para a sua mulher e, com isso, obter a permissão para viajar.

    Essa inacreditável contabilidade pode ser conferida na tabela abaixo:



  • Viagem a Buenos Aires
    No entanto, se você prefere os vinhos do Novo Mundo, sempre mais em conta, podemos considerar a compra de 6 garrafas de Cobos Malbec 2007, vinhos elaborados pelo prestigiado Paul Hobbs em Mendoza. De novo, as alternativas são duas: ou você liga para a Grand Cru e pede a entrega das garrafas, chorando ao ver seu saldo bancário diminuir em R$5.340,00, ou fazer uma deliciosa viagem à européia Buenos Aires.

    No último caso, você aproveitará 4 dias na capital portenha, vivendo como um caudilho. E com o mesmo dinheiro que gastaria por aqui, poderá:

  • comprar os mesmos vinhos, na mesma Grand Cru (só que em Buenos Aires);
  • comprar uma passagem Rio-Buenos Aires, ida e volta, sem escalas;
  • hospedar-se por 4 noites no Gran Hotel Ailén, de 3 estrelas, situado na Suipacha, a uma quadra da Av. 9 de Julio;
  • jantar 4 vezes no Chila, um dos melhores restaurantes portenhos, pedindo o menu-degustação de 6 etapas, com harmonização de vinhos;
  • ir por 4 vezes ao Sagardi Euskal Taberna, um luxuoso bar de pintxos localizado a meia quadra da feira de San Telmo, e pedir 5 pintxos e uma garrafa de vinho;
  • pagar o táxi de ida e volta para o aeroporto.

    E, depois disso tudo, ainda verá sobrar em seus bolsos 340 reais para fazer um agrado em casa quando voltar.

    Mais uma vez, confiram esse surpreendente cálculo na tabela abaixo:



    E aí? O que vocês decidem?

    Oscar Daudt

    Observação: esse estudo foi realizado considerando as seguintes taxas de câmbio:
    1 dólar = 1,8654 reais
    1 real = 2,2497 pesos argentinos
  • Comentários
    Valdiney C. Ferreira
    L'Orangerie
    Rio de Janeiro
    RJ
    03/10/2011 Olá Oscar,

    Como sempre, com as dicas imperdíveis do EnoEventos para os seus leitores. Pode afirmar aí que dá para fazer o mesmo em Lisboa, Madri, Barcelona, Paris, Londres... no leste europeu então seria brincadeira. É possível aumentar a viagem para uma semana e aproveitar prá conhecer alguns vinhos bem interessantes que estão aparecendo por lá. Em todas estas cidades encontra-se os grandes vinhos que garantem com folga os custos da viagem se fossem adquiridos aos preços daqui.

    E na volta ainda fazer charme com os amigos convidando-os para jantar e degustar os grandes vinhos. Obviamente eles ficariam com os custos do jantar para garantir o saldo positivo para o fluxo de caixa da viagem + vinhos frente a aquisição dos mesmos no Brasil.

    É isto que provoca as barreiras fiscais para carros, vinhos e etcéteras somadas às margens excessivas praticadas em alguns mercados. Particularmente o de importação de vinhos e outras bebidas. Estou de acordo com sua batalha nesta parte apesar de viver querendo puxar o EnoEventos para outras batalhas que acredito ajudariam a ampliar o mercado de vinhos.

    Abcs Valdiney
    Carlos Reis
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    03/10/2011 Excelente matéria! Perguntei para a minha esposa de onde ela prefere o presente para decidir o destino (risos).

    É por isso que vinhos tops só compro quando viajo.
    Carlos Amorim
    ABS-Brasília
    Brasília
    DF
    03/10/2011 Não sei se é para rir ou para chorar...
    Cristiana Beltrão
    Restaurante Bazzar
    Rio de Janeiro
    RJ
    03/10/2011 Coitado do meu marido. Me deixa viajar sozinha a trabalho, bebo todas (e muito boas) e nem pede agradinho na volta...
    Eugênio Oliveira
    Enófilo
    Brasília
    DF
    03/10/2011 Oscar,

    The Armagh da Jim Barry é fantástico. Ano passado um amigo comprou um 1996, por R$ 350,00, de um restaurante que estava se desfazendo dos vinhos caros, e me convidou para tomar. O melhor exemplar do novo mundo de que tenho lembrança. O vinho é sublime, mas R$ 1.230,00 por uma garrafa é de amargar.

    O mesmo acontece com o outro australiano, Astralis, vendido pela Vinissimo. A diferença chega a ser ainda maior, já que por aqui ele custa R$ 2.150,00.

    Eugênio, com o Astralis provavelmente deve dar para ir comprar diretamente na Austrália, em classe executiva! Abraços, Oscar
    Luiz Carlos da Nóbrega
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    03/10/2011 Oscar,

    Seria muito interessante, para apimentar essa divertida matéria, se contassemos com os comentários (ou justificativas) das importadoras em tela. E, quem sabe, com o apoio "técnico" da Chefe da Alfândega brasileira, não?

    Pelo que me toca, já estou agendando com meu amigo João, minha próxima viagem para buscar o meu Petrus básico.

    Um abraço
    Nóbrega

    Luiz Carlos, o que é ainda mais difícil de entender é o caso específico da Grand Cru. Eu comparei preços daqui do Brasil com os preços da mesma Grand Cru em Buenos Aires. Como não existe imposto de importação de lá para cá, em função do Mercosul, o que poderia justificar essa diferença absurda de preços? Com a palavra, a Grand Cru...

    Abraços, Oscar
    Rafael Mauaccad
    Enófilo
    São Paulo
    SP
    04/10/2011 Oscar,

    Movido pela curiosidade, fui pesquisar quantos dos 200 milhões de brasileiros teriam a oportunidade de optar por esta compra e estada no exterior. Como resposta, obtive que 5 milhões de pessoas recebem acima de 20 salários mínimos (R$ 12mil) por mes, valor inicial que julgo razoável para esta extravagância.

    Estava na tela com os dados do IBGE e DIEESE e continuei a pesquisa. Sabe qual o contingente que recebe entre 10 e 20 salários mínimos mensais (R$6mil e R$12mil)? São 10 milhões de compatriotas que penso nem se aventurariam a este programa. Sendo benevolente alguns poucos mais arrojados.

    O mais entristecedor e preocupante é que 47 milhões de brasileiros recebem até 01 salário mínimo por mês, o valor equivalente de 01 ano de provento, se adquirissem estas 6 garrafas de vinho. Algo está muito errado abaixo desta linha do Equador!!!

    Vou citar a célebre frase atribuída à rainha Maria Antonieta, morta decapitada em 1793: "Se não tem pão, dêem a eles brioches."

    Parabéns por mais este oportuno alerta.

    Forte abraço,
    Rafael
    Flavia Felix
    Delicatessen Vicio da Gula
    Pato Branco
    PR
    04/10/2011 Parabéns, perfeita matéria! No próximo pedido pensarei 2x onde comprar!!
    João Elvecio Faé
    Enófilo
    Vitória
    ES
    05/10/2011 Muito boa a reportagem. Realmente os preços de vinhos praticados no Brasil são inexplicáveis. Mesmo com a alta carga tributária a margem de gordura é imensa. Quem quiser ainda ir para a Europa, faça uma comparação de preços, com a maior loja de vinhos que conheço, fica em Lugano, Suiça, www.arvi.ch, preços imbatíveis.

    Abraço.
    JEFaé.
    Suely Bianchi
    Engenheira
    Recife
    PE
    08/12/2011 Caro Oscar;

    Por estas e outras razões que optaria pela 2ª alternativa.

    Portugal. Qual a grande dica? Agradecida pela informação.

    Abraço,
    Suely

    Cara Suely,

    Todas as matérias referentes a viagens - minhas ou de colaboradores - estão indexadas nessa página. Existem algumas que se referem a Portugal. Dê uma consultada, pois você certamente encontrará boas dicas por lá!

    Abraços, Oscar
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]