Judeu romano
Sabedora de minha entusiasmada apreciação por vinhos brancos, a importadora Porto Mediterrâneo enviou-me para prova uma caixa com 6 rótulos diferentes, todos para mim inéditos. Eu fiquei rindo de orelha a orelha com a perspectiva de me empenhar na tão prazerosa empreitada de degustar esses vinhos.

Envolto em grandes recomendações, um dos rótulos era o Quinta do Judeu Branco 2008, elaborado pela quinta de mesmo nome, localizada em Peso da Régua, no Douro. A Quinta do Judeu é uma daquelas vinícolas tão típicas de Portugal que alia a mais avançada tecnologia com os mais tradicionais processos e seus vinhos tintos são todos pisados a pé em lagares de granito com temperatura controlada.

Seu nome deriva da antiga estátua de um judeu romano que enfeita o prédio. Reza a lenda que todas as noites enluaradas ele descia de seu pedestal para passear entre as vinhas, admirando sua beleza. No entanto, apesar de toda essa bela fantasia, somos jogados de volta à dura realidade ao saber que a estátua original já foi há muito tempo roubada e a que existe hoje é apenas uma réplica.

Schwarzenegger
O surpreendente vinho é a própria expressão do DNA duriense: elaborado com uvas de um vinhedo octogenário, em que diversas castas convivem uma ao lado da outra, tudo junto e misturado. Mas há uma determinada predominância de Rabigato e Malvasia Fina.

Assinado pelo enólogo Emídio Bacelar, este vinho é o primeiro branco da quinta e fermenta por 30 dias em cubas de inox e depois dá um rápida passadinha - de outros 30 dias - em barricas de carvalho francês, para ganhar uma complexidade a mais sem perder o caráter da fruta.

Com 13,5% de álcool, o complexo nariz inebria com aromas de tangerina e damasco, toques florais e marcada mineralidade. E é na boca que o vinho mostra toda a sua dimensão, com cremosidade, uma acidez vibrante e um toque apimentado. Extremamente volumoso, com alta octanagem, se eu fosse comparar com um artista de cinema, certamente seria o musculoso Arnold Schwarzenegger. O vinho é seco mas pode-se perceber um discreto açúcar residual, na medida exata para equilibrar o conjunto, e que nem a mim - sócio-fundador da Associação dos Inimigos do Açúcar - desagrada.

Nem tudo são rosas
Este vinho é mais um branco que encantou meus sentidos e só me faz ficar pensando em bebê-lo novamente. Entretanto, ele sofre de um mal muito comum aqui no país tropical: enquanto na página da vinícola, em Portugal, ele é vendido por 13,33 euros (cerca de 30 reais), a importadora Porto Mediterrâneo o exibe em seu catálogo pelo salgadíssimo preço de 109 reais! Fica complicado... Mas se você estiver com a carteira recheada, eu asseguro que vale a pena experimentar.

Oscar Daudt
Comentários
Julio Cesar Schmitt Neto
Diretor - Porto Mediterraneo
Balneário Camboriu
SC
02/02/2012 Caro Oscar,

Há algum tempo não nos encontramos pessoalmente, preciso ir mais ao Rio. Antes de tudo quero dizer que compartilho com você a paixão pelos brancos. Alguns dos maiores prazeres que tive com vinhos foram com brancos. Fico contente que você tenha gostado do Quinta do Judeu, é de fato um grande branco.

Permita-me usar o seu espaço para justificar a diferença de preço do vinho entre Portugal e o Brasil. Percebi que você comentou que infelizmente essa diferença é normal, mas faço questão de destacar alguns números até para que o amante do vinho, leitor do seu site, não se sinta ludibriado pelas importadoras brasileiras.

Falando do caso específico, o preço do nosso vinho ao consumidor é R$ 109,00 e como você bem notou, em Portugal é R$ 30,00. Eu realmente lamento que seja assim. Eu estou convicto que se pudéssemos vender esse vinho por 40 ou 50 reais, ele venderia muito mais e todos ficaríamos contentes, eu, o produtor e (quem mais importa) o consumidor. Contudo, me permita relacionar apenas 2 argumentos (dentre outros) para justificar tamanha diferença:

1) CARGA TRIBUTÁRIA
1a) Quando a Porto Mediterraneo vende um vinho de R$ 109,00 ela deve pagar, no dia 10 do mês seguinte, R$ 27,25 de ICMS. Sobre o lucro da operação, deve pagar IR, CSSL, PIS e COFINS. Esses são só tributos internos, nem estou falando de importação.
1b) Na importação, paga-se: 27% de II, R$ 1,08 por garrafa de IPI, 1,65% de PIS, 7,60% de COFINS, 25% de ICMS e 25% sobre o valor do frete internacional, de AFRMM. Deve-se ressaltar ainda que os tributos são em cascata, ou seja, um faz parte da base de cálculo do outro.

2) CUSTOS DE TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO
2a) Nem todas as importadoras o fazem, mas a Porto Mediterraneo só faz importações em conteineres refrigerados. Além do frete ser o dobro do preço (em comparação com o container normal), ainda se deve pagar o custo da energia elétrica enquanto o container fica ligado no porto (de origem e de destino). Aqui no Brasil o custo gira em torno de R$ 100,00 por dia de energia para um container.
2b) Além disso, quando é verão na Europa, contratamos também a coleta refrigerada. Ou seja, um caminhão refrigerado retira os pallets de vinho no estabelecimento do produtor para levar até o porto de origem. Esse custo é aproximadamente de 2 a 3 vezes maior que o custo de um caminhão normal.
2c) O depósito da Porto Mediterraneo, onde os vinhos são armazenados, é climatizado, com uma temperatura controlada de 18 graus. Apesar de estarmos no sul do Brasil, onde as temperaturas são mais amenas do que no Sudeste ou Nordeste, entendemos que o vinho merece ser armazenado assim.

Quanto aos tributos, não há o que fazer a não ser reclamar e indignar-se, para quem sabe isso um dia mude. Antes disso, deve-se pagar. Quanto aos custos extras de armazenagem e transporte refrigerados, a Porto Mediterraneo não abre mão de tomar esses cuidados, em respeito ao consumidor brasileiro e ao produtor estrangeiro. Você já percebeu quanta gente diz que quando toma um vinho no país de origem ele parece outro (é melhor) se comparado ao mesmo vinho no Brasil. Parte disso está relacionado com o espírito da pessoa, quando em viagem mais aberto/receptivo e feliz, mas será que parte não é por que boa parcela dos vinhos à venda no Brasil foram maltratados no caminho?

Eu poderia discorrer mais cinco ou seis páginas, mas sei que já me estendi por demais. Só fiz questão de elucidar uma parte (a principal) do problema, para que o seu leitor não fique me xingando muito e eu com a orelha quente, hehe. Me solidarizo com você Oscar, e ao seu leitor. Como eu gostaria de comprar vinhos, carros, roupas, etc pelo preço pago pelos europeus ou americanos. Quem sabe um dia chegamos lá....

Só sei de uma coisa: apesar de tudo, sou apaixonado pelo Brasil e pela minha bela Balneário Camboriú. Não troco por nada! Pagamos o preço, amigo....

Um abraço,
Julio
Sidnei Rogério Pegoraro
Enófilo
Santo André
SP
04/02/2012 Infelizmente, é o Custo Brasil. Conversando com amigos que residiram na Alemanha e estão novamente em terras brasilis, estão espantados pois gastam aqui o mesmo valor que na Alemanha por serviços e alimentos muitas vezes de qualidade inferior aos comprados lá.

Quem sabe um dia teremos um padrão europeu com um custo justo?
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
04/02/2012 Oscar,

Perdi a vontade de degustar este vinho, vai dar a sensação de estar tomando a cascata de impostos junto. Não iria cair bem.

Aqui em São Paulo, a Casa Santa Luzia está vendendo o Quinta da Romaneira Branco 2009, por R$ 52,00/gf. Vinho duriense, produzido nada menos pela vinicola agraciada como o Prêmio Vinícola do Ano de Portugal em 2012. Dá para levar 2 Romaneiras pelo valor de 1 Quinta do Judeu, e ainda sobra um troquinho para o flanelinha!!

Abracos,
Rafael
Andre Kischinevsky
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
12/03/2012 Prezados,

Estive recentemente em Portugal, durante o Carnaval, e pude comparar muitos preços de vinhos vendidos em Portugal com os mesmos vendidos aqui.

Fiquei com a impressão (impressão porque não foi um trabalho com rigor científico) que os preços daqui são 250% dos praticados lá, em média. Um vinho que custa R$100,00 lá (EU$40) chega aqui a R$250,00 em média.

Essa proporção varia um pouco. Vinhos mais baratos, por exemplo, acabam tendo uma diferença percentual maior.

De qualquer forma, essa diferença de EU$13.33 para R$109,00 é acima da média. Me parece um pouco mais caro do que deveria, comparando-se com outros vinhos e importadoras.

Abraços para todos,
Andre
Moni Maia
Empresária
Cabo Frio
RJ
14/07/2012 Olá. Esse é o meu vinho. Paga quem pode.

Costumo dizer, o vinho é barato, sem sombra de dúvidas, caro é passagem pra Portugal.
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]