
No recente Degusta Vinho Verão, promovido pela SBAV em parceria com a ABAGA, passava eu pelo estande da ViniRio, de João Luiz Manso, quando li aquela palavra mágica que me atrai feito um magneto: Encruzado. A casta branca que reina absoluta no Dão, quando bem tratada, tem o poder de fazer vinhos excepcionais, de grande volume, complexos aromas e boa longevidade. Eu não poderia deixar passar. Dando uma paradinha para provar o vinho, chamou-me a atenção a quantidade de rótulos desconhecidos exibidos sobre a mesa.
Carlos Moura, que também atendia no estande, me apresentou os inéditos vinhos e foi-me contando a história de um revolucionário projeto português do qual é sócio, numa conversa que se extendeu em muitos e interessantes detalhes.
Carlos é um enólogo que trabalhou 10 anos na gigante Dão Sul, sendo 3 deles em terras brasileiras, na ViniBrasil, no Vale de São Francisco. Em 2009, desejando alçar novos vôos, deixou a empresa e iniciou com antigos colegas o projeto Lusovini, que eles definem como Criadores de Marcas.
O grupo é ambicioso e já produz, em menos de 3 anos, 1.200.000 garrafas anuais, distribuídas entre mais de 40 marcas de vinho! Dentre essas, chamou-me a atenção uma com o estranhamente familiar nome de Leiras Mancas. Minha língua solta não conseguiu ficar quieta e eu falei ao produtor que aquilo era uma apelação. Carlos não entendeu - ou fez de conta - o sentido da palavra mas eu segui em frente explicando que eles estavam tentando capitalizar em cima de uma marca muito conhecida. Ele só faltou se ajoelhar e jurar que não era isso e que o nome significava, em idioma minhoto, os terraços de vinhedos (leiras) que por algum motivo não são contínuos (mancas). Tudo bem, eu acredito, mas agora só falta convencer a Fundação Eugênio de Almeida de que o nome não tem nada de parecido com Pêra Manca.
Impressiona saber que o grupo pretende entrar no mercado dos diversos países através de importação e distribuição próprias. Bem, eu não sei o tamanho das pernas da Lusovini, mas me parece um passo bem maior do que elas, em direção a um precipício comercial. No Brasil, até que não seria tão complicado, pois basta abrir representações em meia dúzia de estados para atingir, sei lá, 80% dos consumidores. Mas e nos Estados Unidos, onde o grupo já está atuando? Montar distribuição nacional por lá? Uma loucura...
A Lusovini até tem um pequeno vinhedo no Dão, mas de pouca relevância no conjunto da carteira. A maior parte da produção é elaborada a partir de vinhos comprados a granel e cortados pela enóloga residente (e também sócia) Sônia Martins. Mas até aqui, nada de mais... Já ouvimos essas histórias antes.
O que realmente destaca a Lusovini da concorrência é o estelar time de enólogos que assina os vinhos que são os carros-chefe do catálogo. Qual vinícola não gostaria de ter um conjunto de bambas formado por ninguém menos do que Álvaro de Castro (da Quinta da Pellada e Quinta de Saes), Anselmo Mendes (e seus vinhos verdes que culminam com os Muros de Melgaço), Domingos Alves de Souza (da Quinta da Gaivosa e o impressionante Abandonado), Luís Duarte (da Luís Duarte Vinhos e consultor de incontáveis vinícolas no Alentejo) e Nuno Cancela de Abreu (ex-Quinta da Alorna e atualmente tocando sua própria Boas Quintas)?
No entanto, Carlos explicou-me que, devido à exclusividade entre Domingos e a Importadora Decanter, os dois vinhos elaborados por esse grande enólogo duriense - Tapadinha e Tapadinha Grande Reserva - não serão trazidos para o Brasil, o que é uma pena. Mas quem sabe meu sósia Adolar Hermann, proprietário da importadora, não libera Domingos desse compromisso para que os enófilos brasileiros possam conhecê-los?
Da extensa lista de vinhos, pude provar 4 deles no evento da SBAV. Os dois de Álvaro de Castro, os Quinta de Pinhanços, tanto o Encruzado quanto o Reserva Tinto, eram espetaculares. E o frescor do Mito Grande Escolha, do imbatível Anselmo Mendes, também foi um grande momento.
Aqui no Rio, pelo menos, os vinhos já estão disponíveis, pelas mãos de João Luiz Manso, que fechará sua loja de Ipanema para se dedicar a essa representação. Quem se interessar, pode contactá-lo pelo telefone (21)9961-6402. Mas, infelizmente, o único preço que eu tenho para informar é o do Quinta de Pinhanços Encruzado, que chega para nós por 79 reais. Para quem andou indicando, recentemente, brancos portugueses custando 99 e 109 reais, até que já é uma boa melhora...
Oscar Daudt |