O passo a passo do processo
Entre 01 e 04 de março deste ano, após longos 6 anos, fui novamente à Serra Gaúcha conduzindo um grupo de alunos da ABS-Rio. Fui rever o Vale dos Vinhedos que conheci há 25 anos, com suas estradas de terra batida e produzindo vinhos simples. Hoje o panorama é completamente diferente, pois vê-se que o progresso e a riqueza chegaram finalmente àquela terra, sendo que os vinhos melhoraram e muito.

Dentre as novidades que conheci está uma fábrica de barricas, a Mesacasa, situada numa bucólica cidade chamada Monte Belo do Sul, pouco além dos limites do Vale dos Vinhedos. Ao chegarmos, fomos recebidos em pleno sábado pelo proprietário, Eugênio Mesacasa, de ascendência italiana como seria de se esperar e operador principal da fabricação, com a auxiliar Marlene.

Fazer barricas boas é uma arte tão complicada como elaborar vinhos de qualidade.

Ele então deu continuidade à preparação de uma barrica que começara a preparar no dia anterior e cujas aduelas eram de carvalho americano (foto 01). A barrica estava montada, como se pode ver, apenas com os aros provisórios de cima, e Marlene acende as sobras de madeira dentro de um cesto de tela de arame com um maçarico a gás. Depois Eugênio coloca o cesto de fogo dentro da barrica. Veja que sobre o fogo foi colocada uma lata com água para ferver.

Após uns vinte minutos de aquecimento interno, a parte externa da barrica é pincelada com a água fervente (fotos 02 e 03). Essas duas operações visam aquecer o carvalho interna e externamente para torná-lo mais maleável, de modo a que as aduelas possam ser recurvadas sem quebrar.

A operação seguinte visa apertar as aduelas através de um cabo de aço envolvido na extremidade aberta, sendo fortemente tracionado, para fechar a barrica e assim tomar sua forma usual (fotos 04, 05, 06 e 07).

Um aro provisório então, substitui o cabo de aço e a barrica é levada a uma máquina de posicionar e apertar os aros definitivos, que são feitos em aço inoxidável (fotos 08, 09 e 10). Vale ressaltar que as máquinas do Eugênio foram construídas no Brasil, mas seguindo modelos vistos por ele em tanoarias no exterior.

A barrica já semi-pronta, evidentemente sem os tampos laterais, é levada para uma máquina que realiza a queima interna da madeira, a chamada tostadura (fotos 11, 12 e 13). Essa operação visa isolar o vinho do contato direto com a madeira crua, evitando assim a aquisição de fortes aromas do carvalho no líquido. Vale observar que esta tostadura pode ter diferentes graus: tosta leve, tosta média, tosta média para mais ou tosta profunda. O cliente escolhe o grau de tosta das barricas.

Dependendo do grau dessa tosta, o vinho estagiado na barrica adquire aromas como caramelo, baunilha, café, chocolate, cravo, canela, torrefação, dentre outros. O sistema de resistência elétrica foi o escolhido pela Mesacasa e leva em torno de 20 minutos para uma tostadura leve. Depois de serem montados, os tampos das laterais das barricas são também tostados a maçarico.

A barrica passa por um torno mecânico que faz duas operações:

  • o faceamento e o chanframento das extremidades das aduelas nos dois lados;
  • a abertura dos sulcos internos da barrica, próximo das extremidades, para encaixá-los aos tampos redondos das faces planas.

    Feito isso, os aros são afrouxados, os tampos laterais são colocados e novamente os aros são apertados. Aí, então, procede-se ao acabamento das aduelas por lixamento novamente no torno. Executa-se o furo da barrica e procede-se ao teste de estanqueidade enchendo-se a barrica com água pressurizada. Tem-se assim a barrica pronta (foto 14).

    A Mesacasa faz as barricas para diversas vinícolas nacionais, que importam diretamente a madeira do carvalho da preferência do enólogo.

    A foto 15 mostra o grupo da ABS que visitou a Mesacasa.

    Fernando Werneck Miranda
    22/03/2012
  • O processo de produção
    Foto 01 Foto 02 Foto 03
    Foto 04 Foto 05 Foto 06
    Foto 07 Foto 08 Foto 09
    Foto 10 Foto 11 Foto 12
    Foto 13 Foto 14 Foto 15
    Comentários
    Hélio Rossi
    Sommelier e Chef de Cozinha
    São José dos Pinhais
    PR
    22/03/2012 Fernando Miranda,

    Será que permite usar esse material em aula? Ja tenho um material sobre o assunto, mas o seu é muito bom, bem completo. Parabéns!

    Obrigado
    Fernando Miranda
    Professor Sommelier
    Rio de Janeiro
    RJ
    25/06/2012 Hélio Rossi

    Desculpe a demora em responder teu e-mail. Só hoje (25/06/12), mostrando o artigo para uma pessoa, ví seu comentário. Não tem problema usar o texto para aulas, me sinto até lisonjeado, pois também sou professor de vinhos.

    Grande abraço
    Fernando Miranda
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]