
Informação apaixonada mas objetiva |
Em novembro, quando estive no Alentejo, aproveitei para comprar o recém-lançado Guia de Vinhos 2012, de Rui Falcão, um dos mais prestigiados críticos portugueses de vinhos. Custou-me quase 20 euros, mas foi uma aquisição inestimável. O livro analisa mais de 3.000 vinhos portugueses dando nota e uma boa descrição para cada um deles. Senti falta, no entanto, dos dados técnicos dos vinhos, tais como as castas utilizadas, o teor alcoólico, o estágio em madeira, a faixa de preço e essas outras coisas que tanto despertam a curiosidade dos enófilos.
Afora os vinhos da Terrinha, o livro ainda oferece uma avaliação de cerca de 1.300 vinhos internacionais, o que para mim é totalmente dispensável, visto ser essa uma seção incompleta e, consequentemente, sem serventia. De que adianta saber o que pensa o crítico de somente 5 vinícolas chilenas ou de apenas 2 vinícolas de Bordeaux? Realmente, não dá para abraçar o mundo em 500 páginas.
Melhor faria Rui se, nas próximas edições, se limitasse a avaliar o maravilhoso universo de vinhos portugueses. Talvez com mais tempo para se dedicar a eles, o guia pudesse acrescentar as informações que me fizeram falta.
Utilizando uma escala de pontos do 0 a 20, o crítico informa o seu significado:
0-9,5: Desagradável, defeituoso
10: No limiar do aceitável
10,5-12: honesto e satisfatório
12,5-14: vinho bem feito, perfeito para o cotidiano
14,5-16: bom a muito bom
16,5-17,5: excelente
18-19: vinho extraordinário
19,5: vinho de inspiração divina
20: a perfeição absoluta
Nenhum vinho ganhou a pontuação máxima; na categoria seguinte, com 19,5 pontos - aquela dos vinhos receitados por Deus - aparecem 6 rótulos, todos eles generosos e de safras históricas. Com 19 pontos, encontramos 11 vinhos, sendo 10 deles generosos e apenas um de mesa, justamente o Vinho do Ano, abaixo revelado.
Complementando essas informações, interessantes seções que descrevem os melhores vinhos de 2012, sugestões de vinhos até 5 e 10 euros, as melhores relações qualidade x preço e muito mais. É um guia indispensável para quem quer estar bem informado sobre a produção portuguesa. Como o próprio autor define, "é um guia apaixonado mas objectivo".
O que faz um crítico quando sua mulher é uma das mais cultuadas enólogas de Portugal, responsável pela elaboração de muitos dos vinhos que ele deve avaliar? Pois Rui é casado com Susana Esteban, uma galega que construiu sua carreira no Douro: iniciou na Sandeman, passou pela Quinta do Côtto e tornou-se reconhecida e respeitada internacionalmente quando assumiu a Quinta do Crasto. Com o casamento, a enóloga mudou-se para Lisboa, de onde passou a dar consultoria a diversos projetos no Alentejo: Solar dos Lobos, Monte dos Cabaços, Tiago Cabaço Wines, Perescuma e Azamor.
E agora, Rui, o que fazer? Bem, o crítico informa em seu guia, de forma bastante transparente, a cada vinícola sob a responsabilidade de sua mulher, a relação de parentesco. Mas será que isso é suficiente? Se as notas forem altas, sempre restará a suspeita de favorecimento; se foram baixas, ele corre o risco de apanhar em casa... Sei lá, mas talvez a melhor solução fosse que, tal qual um juiz togado, o crítico se declarasse impedido de julgar.
Ao final do livro, o autor apresenta um resumo com os melhores vinhos de cada região, ordenados pelas notas obtidas, o que em muito facilita encontrar os exemplares que os enófilos mais exigentes procuram. Vejam na tabela abaixo, os vinhos melhor pontuados de algumas das mais prestigiadas denominações portuguesas:

O inesperado vinho do ano |
Qual a escolha mais provável para o melhor vinho português do ano? Eu diria um dos vinhos generosos - mais especificamente um Porto - que fazem a fama internacional da vinicultura lusitana. Outros, mais antenados com a evolução dos vinhos de mesa daquele país, poderiam contra-argumentar que um tinto seria o candidato mais adequado para esse laurel. Mas com certeza, ninguém apostaria nem um escudo furado na escolha de um vinho branco.
Pois o próprio crítico - como se não fosse ele o responsável pela decisão - demonstra sua incredulidade: "Para meu espanto... a escolha recaiu sobre um vinho branco, curiosamente de uma das regiões menos estimadas pelos portugueses..." Eu não entendi: ele mesmo escolhe e ainda assim fica surpreso?
Pois é, o ganhador da inesperada honraria foi o Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco 2009, elaborado na Bairrada com um corte das uvas Maria Gomes e Bical. Eu, como compulsivo consumidor de vinhos brancos, bem que procurei esse precioso exemplar nas lojas de Lisboa, mas não tive a alegria de encontrá-lo
Aqui no Brasil, os vinhos dessa vinícola são trazidos pela Premium Wines, de Belo Horizonte, mas de acordo com a página da empresa, apenas a safra 2008 está disponível. De qualquer forma, desafortunadamente, a Premium é uma daquelas importadoras que gostam de sonegar seus preços do conhecimento de seus clientes. Portanto, não tenho ideia de quanto custa esse vinho aqui nos trópicos.
Pesquisando na Internet, não encontrei esse guia nas livrarias on-line brasileiras. Mas ele pode ser comprado, pelo mesmo preço que eu paguei em Évora (mais o frete), na FNAC portuguesa.
Oscar Daudt |