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Quando eu era criança - e lá se vão trocentos anos - o Brasil era o país do café, à época nosso principal item de exportação. De lá para cá, o país mudou muito, as exportações se diversificaram e o café é, atualmente, não mais do que o 7º principal produto exportado. Não por que o café tenha regredido, pelo contrário, e sim pelo avanço dos demais ítens. Mas até hoje, nosso país continua sendo o maior produtor e exportador mundial do grão. E no lado do consumo, somos o segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos. A previsão, no entanto, é que já no próximo ano, com as mudanças da economia mundial, passaremos a erguer a bandeira de maiores consumidores do mundo. Não somos mais o país do café, mas continuamos apreciadores vorazes da bebida.
A origem da cultura do café no Brasil é bastante curiosa e romântica. No século XVI, os portugueses decidiram investir na plantação da lucrativa rubiácea em nossas terras, mas não tinham sementes para começar. Pertinho de nós, na Guiana Francesa, existiam plantações mas o governo francês proibia, terminantemente, a exportação das plantas. O governador-geral do Grão-Pará decide, então, enviar o jovem oficial Francisco de Melo Palheta àquela colônia, para obter algumas mudas, o que foi negado pelo governador local. Palheta, então, aproxima-se da mulher do governador, Mme. d'Orvilliers, conquista sua confiança - y otras cositas más - e consegue que essa lhe presenteie sorrateiramente com algumas sementes. Tudo começou por aí... E portanto, quando você encontrar os cafés Palheta e d'Orvilliers lado-a-lado nos supermercados, já sabe que essa bonita história de amor e interesses continua eternizada em nossas prateleiras.
O dia 24 de maio é um dia especialíssimo para o setor cafeeiro: é o Dia do Café, o Dia do Barista e a data oficial do início da colheita no Brasil. E - pasmem - o dia seguinte, 25, é o Dia do Pingado! Eu não consigo imaginar quem inventa essas efemérides... E foi nesses dias comemorativos que visitamos duas fazendas, uma em Minas Gerais e outra em São Paulo.
A primeira delas, Fazenda Serra e Leite, é uma pequena propriedade, com cerca de 20.000 pés de café, pertencente de um típico matuto mineiro que decidiu abolir as vogais iniciais das palavras: em vez de apanhar, é "panhar"; em lugar de abanar, é "banar", e assim por diante... Mas a matutice termina por aí, pois seu Luiz Zanetti possui dois caminhões, uma caminhonete e um carro estacionados na garagem e seus filhos estudam no exterior. Essa é uma fazenda tradicional, que utiliza métodos ultrapassados de produção e não é fornecedora da Nespresso. Portanto, eu não conseguia entender o porquê de nossa visita por lá. Um gaiato de nosso grupo logo lançou a ideia de que a multinacional provavelmente paga a esse produtor para que ele permaneça antiquado e possa fazer um contraponto marcante com a segunda fazenda visitada.
Com impressionantes 620.000 pés de café - trinta vezes maior do que a plantação anterior - a Fazenda Recreio, localizada na Média Mogiana, em São Paulo, é uma propriedade familiar, com tradição de 5 gerações. Com uma postura diametralmente oposta à do matuto mineiro, os jovens irmãos que comandam a propriedade não hesitam em investir para melhorar a qualidade de seus cafés, adotando métodos modernos de produção a fim de conquistar a aprovação da Nespresso e vender seus produtos pelo preço diferenciado que a qualidade permite.
Para ser fornecedora da Nespresso, uma fazenda deve aderir ao programa AAA: A de Qualidade, A de Sustentabilidade e A de Produtividade (mas não me perguntem em que língua essas três palavras começam com A). As fazendas devem almejar metas especificadas pelo programa, recebendo inclusive assessoria da multinacional para investir nas melhorias econômicas, ambientais e sociais. Dentro das diretrizes desse programa, a que eu achei mais interessante é que os filhos dos trabalhadores das fazendas devam obrigatoriamente frequentar a escola.
A viagem foi um espetáculo, cheia de atenções e cuidados, como só a Nespresso poderia oferecer. Uma prova disso foi que a equipe de apoio que nos acompanhou no passeio era mais numerosa do que a própria quantidade de convidados. E não só em número essa deferência se exibia, mas também em qualidade, pois o próprio diretor da empresa para a América Latina, o sueco boa-praça Stefan Nilsson fazia parte da comitiva.
A equipe não perdia a oportunidade de oferecer gentilezas a todos, deixando-nos bem à vontade e fazendo-nos sentir as pessoas mais importantes do mundo. E no jantar de despedida, já em São Paulo, na hora do cafezinho, a Nespresso ao invés de servir uma xícara da bebida, presenteou-nos, cada um, com a novíssima máquina Pixie. Algo assim como, ao invés de nos dar um peixe, nos ensinar a pescar...
Oscar Daudt
28/05/2012 |
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