
Em termos de gastronomia, o guia que eu acho mais respeitável e sempre me orienta nas viagens é o Michelin. Muito confiável, não me vem à lembrança de quando, seguindo as prestigiadas estrelas, eu tenha me decepcionado. Se o restaurante tiver uma estrela, já é maravilhoso; se tiver duas, é excepcional; se tiver as três estrelas, galardão máximo, chega às raias da perfeição. Na verdade, hoje em dia, conforme o conselho de um amigo, procuro mesmo é visitar as casas de 1 ou 2 estrelas, que em sua luta por galgar mais um degrau, não deixam a peteca cair. Já as casas de cotação máxima, além de caríssimas, podem estar deitadas nos louros.
O restaurante Mirazur, localizado na Côte d'Azur, França, está comemorando a conquista de sua segunda estrela Michelin. E mais ainda, na recente escolha dos 100 melhores restaurantes do mundo, foi classificado num invejável 24º lugar.
Portanto, quando fiquei sabendo que o chef responsável por esse sucesso, o jovem argentino Mauro Colagreco, iria assumir, a convite da família Troisgros, o comando da cozinha do Olympe por dois dias, não titubiei e fiz logo a minha reserva. Tinha tudo para ser uma noite memorável...
Infelizmente, nada saiu conforme as expectativas e o jantar foi uma frustração do início ao fim! A bem da verdade, todos os pratos eram belíssimos, coloridos, floridos, bem decorados. Mas os elogios terminam por aí.
Logo no primeiro prato, um Tartare do Mar, eu mal podia crer no que estava comendo: uma mistura que não sabia a nada. Veio o segundo, o Jardim de legumes cariocas com caldo de Parmesão. Mais uma vez, era uma comida apática, que não dizia a que veio. Alguém consegue imaginar um caldo de Parmesão sem sabor? Pois era exatamente isso, mais parecendo comida de hospital!
Seguiu-se uma Cavaquinha com especiarias e feijão branco e desta vez os sabores estavam servidos no prato. Só que, para meu azar, as tais especiarias eram dominadas pela canela, que ficou em uma briga de foice com o crustáceo. Bola fora!
Enquanto os dois primeiros pratos eram desprovidos de sal e de sabor, o Bacalhau confit pecava pelo excesso. Era até desagradável de se comer de tão salgado e eu achei aconselhável monitorar minha pressão para ver se não estava subindo a cada garfada...
O Magret de pato foi o mais aceitável dos pratos, com uma carne deliciosa, bem temperada, mas acompanhada por uma mandioca dura a dar com o pau. Sobre as sobremesas, como de costume, eu prefiro não falar, já que não gosto de doces.
Me deu um grande arrependimento, mais forte ainda quando chegou a conta - 400 reais por pessoa! Está certo que os vinhos harmonizados - todos eles da Rutini, de Mendoza - estavam incluídos nesse valor, mas mesmo assim não valeu a pena... Só para dar uma dimensão do desastre, o melhor da noite foram mesmo os biscoitinhos de polvilho do couvert e a espuma de cogumelos que precedia o jantar, marcas registradas do Olympe, que nem eram assinadas pelo estrelado chef.
Oscar Daudt
09/05/2012 |