
A Cousiño Macul é a única vinícola do século XIX que continua em mãos da família fundadores. Estabelecida no longínquo ano de 1856, fica localizada nas cercanias de Santiago e o atual presidente, Carlos Cousiño, da sexta geração da família, nos contou que basta pegar o metrô para bater às portas da empresa.
Para visitá-la é bastante fácil: basta marcar a vista pela Internet, através da página da empresa: www.cousinomacul.com. Existem dois tipos de visita: o Tour Básico, de 45 minutos, que inclui degustação e uma taça de presente: e o Tour Premium, de uma hora e meia, realizada de forma individual, com direito a degustação, tábua de queijos e também uma taça de presente. Eu ainda não a conheço, mas tive excelentes referências de quem já esteve por lá.
Para apresentar suas novas safras, a Importadora Santar ofereceu um especialíssimo jantar, no premiado restaurante de Roberta Sudbrack, sob o comando do próprio Carlos Cousiño. Foram belos momentos, de boa gastronomia, harmonizada com excelentes vinhos, apenas afetado pela tensão de eu ter de controlar as crianças à minha volta, que queriam porque queriam fazer trocadilhos surrados e impublicáveis com o nome da empresa.
Enquanto aguardávamos a chegada de todos os convidados, nos era servido um Cousiño-Macul Sauvignon Gris 2010, casta pouco acostumada a frequentar nossas taças, que possui aromas mais educados do que sua prima branquela. Se eu pudesse, temperaria com um pouco mais de acidez, mas como o importador me informou que o preço final andava por perto dos 25 reais, dá para concluir que é uma boa alternativa para quem quer conhecer essa variedade em uma tarde ensolarada de outono.
Bom mesmo, no entanto, era o Cousiño-Macul Antiguas Reservas Chardonnay 2011, um vinho que pode ser encontrado no mercado por cerca de 40 e poucos reais. A vinícola foi a primeira do Chile a plantar Chardonnay e possui os mais antigos vinhedos dessa casta, dos quais é elaborado esse delicioso exemplar. Apenas 10% do vinho é fermentado e estagiado por 6 meses em barricas novas de carvalho francês. Todo o resto é vinificado para preservar a fruta e a fruta. E a fruta, também! O resultado final encanta com aromas florais, toques de maçã e é preciso estar com o nariz muito atento para perceber aquele fundinho de madeira que empresta um pouco mais de complexidade. Belo momento!
Para fechar a noite com chave de ouro, o grande ícone da vinícola, o Lota 2007, nome que não tem nada a ver com "lote", mas que é uma homenagem à cidade de Lota. Vinho lançado em 2003, em comemoração aos 150 anos da vinícola, foi destinado a ser o ícone da Cousiño-Macul, com um corte bordalês de 85% Cabernet Sauvignon e o resto de Merlot. Repousa durante 18 meses em barricas de carvalho francês, 85% novas. Como resultado, têm-se um vinho grandioso, quente, aveludado, carnudo, que mereceu invejáveis 94 pontos do Guía Descorchados. Mas é um vinho para poucos. Não consegui saber seu preço por aqui, mas se no Chile ele custa 62.300 pesos (cerca de 245 reais), já se pode imaginar a fortuna que não custará em nosso complicado mercado.
Depois que o restaurante de Roberta Sudbrack foi escolhido para compor a lista dos 100 melhores do mundo, foi a minha primeira visita por lá. Sempre fui um apreciador da delicadeza, originalidade, brasilidade e gostosura de suas criações, ao mesmo tempo em que um crítico feroz das minúsculas porções por lá servidas. Acho que, com a emoção do honraria, Roberta ficou mais generosa e as porções aumentaram de tamanho. Claro que não se tornaram um PF, mas eu saí bem satisfeito de lá. E, melhor ainda, o aumento da quantidade foi acompanhado por um aumento da qualidade, como se isso fosse possível. Ainda ecoam nas minhas papilas o Cherne em vagens de primeira extração, magnífico e surpreendente, e o Cordeiro de leite assado com rapadura, tão macio que dava até para comer de colher!
E não posso deixar de chamar a atenção para o sucesso do meu Rio Grande em nossa gastronomia. Além da gauchinha presidencial, mais um dos únicos três restaurantes brasileiros que participam da prestigiada lista é comandado por uma conterrânea, Helena Rizzo, que mexe as panelas do restaurante Maní, de São Paulo.
Oscar Daudt
03/06/2012 |