Matérias relacionadas
Análises de preços

A fonte inspiradora
Recentemente, recebi da Vinícola Courmayeur, de Garibaldi, dois vinhos da nova linha Acclamé - o Cabernet Sauvignon e o Merlot (essa linha se completa, ainda, com o varietal Chardonnay e um Demi-sec). São vinhos jovens, modernos, com rótulos bastante atraentes, tampa de rosca e garrafa ecológica. Eu experimentei o Merlot e gostei: vinho facílimo de beber, macio, frutado, sem madeira, na medida exata para conquistar o paladar da juventude dourada.

E o preço, de acordo com essa estratégia bem costurada, é bastante coerente: generosos R$12,40 a garrafa, na página da vinícola! Não precisa nem ser jovem para se sentir atraído pelos vinhos Acclamé, acompanhando os almoços do dia-a-dia.

No entanto, a alegria termina quando se tenta finalizar uma compra. Para adquirir uma caixa de 6 garrafas (R$74,40) deve-se pagar um frete, para o Rio de Janeiro, de impensáveis 80 reais, mais caro do que os próprios vinhos! E com isso, o preço da garrafa saltaria para R$25,67... Nada a ver.

Essa situação extrema, estapafúrdia, inspirou-me a fazer o levantamento do frete cobrado pelas vinícolas e pelas importadoras e apresentar os resultados para nossos leitores. Muito mais do que orientar as opções de compra, o objetivo deste levantamento é o de mostrar aos agentes do mercado que, por meio de uma negociação com seus fornecedores, é possível obter melhores preços de transporte e com isso, oferecer condições mais vantajosas a seus consumidores.

A metodologia
Para cada vinícola e cada importadora constantes desta análise, simulamos uma compra de 6 garrafas de vinho, sempre com o preço o mais acessível dentre as alternativas disponíveis. E pedimos a cotação para entrega em 3 cidades brasileiras: Rio de Janeiro, Salvador e Brasília. Calculamos a média dos 3 valores e classificamos os resultados do menor para o maior valor.

Infelizmente, em pleno século XXI, grande parte das vinícolas e importadoras ainda vive na pré-história da Internet e não oferece venda on line para seus consumidores. Algumas até apresentam um simulacro de comércio eletrônico, em que o cliente deve enviar uma mensagem com os vinhos desejados e receber, mais tarde, uma resposta com o orçamento. É claro que esse método anacrônico não foi considerado em nossa análise.

Uma solução mais inteligente e prática do que essa acima, é aquela adotada, por exemplo, pelas vinícolas Aurora, Don Giovanni e Nova Aliança, que dirijem seus consumidores para uma página específica, administrada pela loja virtual Vinhos&Vinhos.com. Para levar em conta esse caso, a política de frete da loja foi incluída na tabela comparativa das vinícolas, possibilitando sua avaliação relativa.

O frete das vinícolas
Grande parte das vinícolas brasileiras encontra-se localizada no Rio Grande do Sul, o estado mais meridional do Brasil, o que representa uma desvantagem em termos de transporte. As distâncias a serem percorridas pelos vinhos são sempre muito grandes.

O método de transporte dos vinhos não é especificado, fazendo a gente assumir que seja utilizado o transporte rodoviário. Com apenas uma exceção...

E a exceção é a Vinícola Perini, que oferece a alternativa de escolher o transporte aéreo ou o terrestre. Para minha surpresa - e acho que para a torcida do Flamengo também - se você escolher via aérea, o valor para o Rio de Janeiro é menor, E, claro, o prazo de entrega também. Quem será o louco que irá escolher o transporte terrestre?

Confiram abaixo a tabela completa e vejam como os valores variam bastante, pois a vinícola pior colocada, a Courmayeur, cobra 2,5 vezes mais do que a melhor posicionada, a Cordilheira de Santana.

E as importadoras?
Da infinidade de importadoras que atuam em nosso mercado, conseguimos analisar os dados de apenas 11. Grande parte delas não oferece comércio eletrônico a seus consumidores.

Os resultados foram ainda mais díspares do que aqueles encontrados na tabela de vinícolas: a importadora posicionada na última colocação, a La Charbonnade, cobra inacreditávelmente 5,3 vezes mais do que a mais barata, a Decanter. E, vergonha das vergonhas, La Charbonnade, o patinho feio da tabela, cobra mais do que o dobro do que a penúltima colocada, Cave Jado

E, nas linhas intermediárias, foi uma surpresa ver que as irmãs gêmeas Mistral e Vinci, filhas do importador Ciro Lilla, possuem políticas de frete diferentes, com vantagem para a primeira. Vejam abaixo os resultados completos:

Um exemplo a perseguir
A loja virtual wine.com.br é um exemplo a ser seguido por todas as vinícolas e importadoras que atuam em nosso mercado. Sua política de frete é simples e direta: R$25 por pedido, independente da quantidade de garrafas e do destino dos vinhos. Custa a mesmíssima coisa do Oiapoque ao Chuí!

Melhor do que isso é saber que os vinhos são entregues por via aérea, pela TAM Cargo, e que para as 600 principais cidades brasileiras o prazo é de apenas 2 dias úteis. Nada mal, não é mesmo?

Oscar Daudt
11/06/2012
Comentários
Humberto Heidrich
Importador
Canela
RS
12/06/2012 Gostaria de fazer um pequeno comentário sobre o valor dos fretes. A nossa importadora está no sul do Brasil, em Canela, por isto o valor do frete ser alto. As outras todas estão em São Paulo ou têm filial em São Paulo. Aí sim o frete fica bem barato.

Mas este valor apresentado sempre negociamos; conforme o valor da compra não cobramos. Por exemplo, acima de mil reais frete free para São Paulo; Rio, acima de 1,200,00; Bahia acima de 1,800,00. A nossa política de fretes é bem flexível, estamos sempre abertos a negociação.

Abraço a todos
Humberto Heidrich

(nota do editor: Humberto Heidrich é o proprietário da Importadora La Charbonnade)
Jaques Nocchi Filho
Porto Alegre
RS
12/06/2012 Não tenho informação sobre a política para o resto do Brasil, mas, para Porto Alegre, pode-se obter isenção do frete conforme o valor da compra (fiz encomendas recentes de duas vinícolas não listadas pelo Oscar - Larentis e Garibaldi). Sempre resulta positiva a negociação orientada pelo montante da compra.
Pedro Ruhs
Diretor Adega Atlantico Importadora
São Paulo
SP
12/06/2012 O assunto é delicado e complexo. A noção de preços é sempre relativa, como todos sabemos. Ao analisarmos diversas empresas, a questão da Origem e Destino conta muito como o estudo demonstra, ou pelo menos, deixa intuir e alguns dos comentários confirmam.

Se olharmos pela ótica da disponibilidade, os clientes de estados mais distantes, ou fora das capitais, através da internet, têm acesso a produtos que de outra forma não poderiam obter... Qual seria o preço justo disso? Esperar para ir a SP comprar na loja?

Acredito que em termos gerais, todos os players estão focados em vender o máximo ao preço mais justo possível.

A título de ilustração, fiz uma pesquisa rápida em um site americano para fazer uma entrega de produtos na mesma situação do estudo e o custo foi de 16 e 24 dólares.
Natália Zandonai
Courmayeur do Brasil Vinhos Ltda
Garibaldi
RS
12/06/2012 Querido Oscar, bom dia! Excelente matéria, parabéns!

Realmente enfrentamos alguns problemas com relação ao frete e estamos estudando maneiras de conseguir reajustar estes valores. Ficamos surpresos em saber que nossos valores de transporte ficam tão altos, se comparado a outras vinícolas.

Suas sugestões são muito válidas. Inclusive, estamos em desenvolvimento de um novo site com uma nova loja virtual e a reavaliação da política de fretes já está sendo feita.

Muito obrigada pelas sugestão! Grande abraço!
Carlos Reis
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
12/06/2012 Excelente levantamento!

A minha dúvida ao comprar vinho em outra cidade, em relação ao frete é outra: as condições de armazenamento DURANTE o transporte, inclusive os depósitos em que ficam durante o trânsito, mormente por causa do calor (por exemplo, onde ficam os vinhos desembarcados da TAM Cargo ao chegarem à cidade de destino até serem entregues na residência do destinatário?).

Nos Estados Unidos, há lojas especializadas que se recusam a enviar vinhos em época de grande calor, e outras que quando o fazem exigem que o comprador se responsabilize.

Tive uma experiência, algum tempo atrás, com a loja virtual Wine Emporium: os vinhos seriam entregues no mesmo dia que sairiam de seu depósito, no Rio de Janeiro, mesma cidade de destino. Houve um problema com a transportadora. O próprio dono da loja, o César (que até então sequer conhecia), me ligou comunicando o atraso e explicando que ele já havia pego de volta os vinhos com a transportadora e me entregaria no dia seguinte pessoalmente. Ele me explicou que o objetivo era não deixar os vinhos no depósito da transportadora, já que fazia muito calor na época.

Fica a minha dúvida, (ou alerta).

Saudações,
Carlos Reis
Carlos Alberto Amorim Jr.
ABS Brasília
Brasília
DF
12/06/2012 Eu já comprei pela wine.com.br e fiquei muito satisfeito. A embalagem é excelente, veio pela TAM Cargo entregue na minha residência e, em função da compra, não paguei frete.
Frank Tenório
ABS - Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
12/06/2012 Eu já desisti de inúmeras compras por causa do frete. Recentemente, havia uma oferta de uma Cava da Codorniu, vinda de um estabelecimento em Curitiba, cujo frete era tão alto que valia mais a pena comprar na Lidador daqui mesmo; saía quase pelo mesmo preço sem o inconveniente de adquirir cupom, entrar no site, fazer pedido, pagar frete (altíssimo), e esperar chegar.

O site Selo Reserva também tem ofertas excelentes que acabam não valendo nada quando se aplica o valor do Frete. Gostaria de ver alguma solução para isto.
Ana Maria Gazzola
Enófila/ABS
Rio de Janeiro
RJ
12/06/2012 Olá Oscar, ótima idéia.

Realmente esta questão do transporte de vinhos é uma verdadeira máfia. Prejudica não só as vinícolas e importadoras, como e principalmente o consumidor - se este quer adquirir uma quantidade de vinhos que não alcançam o valor mínimo (que varia muito) sem frete, estipulado por cada empresa.

Mas notei que alguns valores cotados por você estão bem diferentes (abaixo) daqueles que na realidade são cobrados; além de que já comprei em alguns sites que dão um valor de frete e quando chega a encomenda, o valor é diferente (em geral a maior) do que o anunciado. Experiência própria.

Saudações, Ana Maria
Elson Bernardes de Oliveira
Enófilo
Santo André
SP
12/06/2012 Muito bom Oscar,

No Brasil tudo é caro. Engraçado que só depois de uma reportagem como essa é que todo mundo procura uma alternativa para resolver essas questões sobre valores altos cobrados em seus serviços.
Aguinaldo Aldighieri
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
15/06/2012 Observações elogiosas:

  • a pequena vinícola, de grandes vinhos, Cordilheira de Santana, situa-se em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, a 500 km de Porto Alegre, e tem o menor frete!
  • a importadora Decanter, de Blumenau, a 600 km de São Paulo, idem!

    Realmente merecem ser campeãs !!!

    Aguinaldo
  • Rafael Fagundes
    Economista
    São Paulo
    SP
    14/02/2013 Os elevados custos que nos são impostos pela deficiência de nossa infraestrutura e o descaso com a questão logística já são conhecidos, a essa altura, até pelo mundo mineral.

    Mas isso não deve ser usado como desculpa. Casos como da wine.com.br e da chezfrance.com.br sugerem que existem formas de superar o problema. A superação continua custando caro, é bem verdade. Frete de R$25 exige um valor mínimo de compra que pode afastar certos consumidores, mas ainda assim (e diante dos problemas de logistica que temos) é aceitável.

    O pior, na verdade, é constatar que são os produtores nacionais que demonstram menos capacidade de encontrar formas menos custosas de entregar seus produtos. Concordo que as importadoras tendem a se localizar mais próximas das regiões consumidoras, que também são aquelas que têm melhor infraestrutura, de maneira a lhes permitir proporcionar fretes mais baixos. Entretanto, os produtores nacionais perdem oportunidades, como por exemplo, por que não se reunirem para propor uma solução coletiva? Cooperativas servem pra que, mesmo?!

    É preciso aproveitar as vantagens de estarem todas relativamente próximas entre elas para superar a desvantagem de estarem longe dos centros consumidores. Por que não fazer parcerias com as importadoras, como a Vallontano fez com a Mistral? Só existe uma forma de popularizar o vinho nacional: chegar até o consumidor. Nada mais óbvio. Mas nada parece mais difícil.

    Enquanto isso, as pérolas continuam dentro de suas conchas e à praia só chega a Salton (ao menos isso!).
    Camila López
    Aux. Administrativo
    Rio de Janeiro
    RJ
    20/08/2014 Eu trabalho em uma importadora aqui no Rio de Janeiro e também estou tendo dificuldades para encontrar alguma transportadora daqui mesmo que seja boa.

    Caso conheçam, por favor repassem pra mim!
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]