No futebol brasileiro – paixão nacional – há uma cota para jogadores estrangeiros. Dos 11 em campo, apenas três (27%) podem ser “importados”. E ninguém boicota os clubes. Todos continuam torcendo, comprando ingressos, camisetas e demais produtos dos times brasileiros. Isso faz com que jovens talentos como Neymar e Ganso, só pra citar dois nomes entre dezenas, possam crescer, aparecer e brilhar. Ninguém questiona as cotas no futebol, um esporte para o qual temos vocação natural e somos referência mundial, portanto, em tese, nem precisaríamos de restrições quantitativas para conter o avanço dos estrangeiros.

Ah se o mercado de vinhos no Brasil fosse como o futebol. Hoje, quase 90% dos vinhos finos vendidos no país são estrangeiros. Mesmo investindo muito nos últimos anos e realizando uma verdadeira transformação no setor vitivinícola, conseguimos, a duras penas, ter apenas 10% de presença nas taças dos brasileiros.

A Dunamis Vinhos e Vinhedos é uma jovem vinícola. Tem menos de dois anos de atividade comercial. Aliás, nem vinícola temos ainda. Priorizamos a construção da marca e a conquista de mercado antes de erguer um prédio físico. Há muitas boas vinícolas no Brasil. Optamos por aproveitar a estrutura de algumas delas para vinificar os nossos rótulos, elaborados a partir de vinhedos próprios devidamente cuidados na Campanha Gaúcha (15ha), onde elaboramos tintos e brancos, e na Serra Gaúcha (10ha), de onde saem os nossos espumantes.
No nosso "mercado livre", muitas cartas são controladas por poucos importadores
Só temos vinhos finos. Estamos há pouco mais de um ano em busca de clientes. Já conquistamos muitos, todavia, encontramos fortes barreiras. Apesar de não haver restrições oficiais e legais no mercado nacional, entrar na carta de um restaurante é tarefa difícil. No nosso "mercado livre", muitas cartas são controladas por poucos importadores ou distribuidores de vinhos, que incluem rótulos exclusivamente de seus clientes – a imensa maioria importados. Até algumas grandes vinícolas nacionais restringem a entrada de vinhos brasileiros nas cartas de restaurantes, garantindo uma fatia cativa na sempre ínfima parte dos rótulos daqui.

Entre lojas e distribuidoras, a prática do oligopólio é equivalente, com honrosas e poucas exceções. Entre as centenas de importadoras existentes no Brasil, há duas ou três empresas que trabalham com vinícolas brasileiras. Mesmo assim, quando trabalham, é com apenas algumas! Acredito que caiba a pergunta: vivemos um livre mercado para quem? Certamente não para os rótulos verde-amarelos, que geram emprego no campo e movimentam a economia local, tanto quanto os importados fazem, registre-se.

A maioria dos vinhos no Brasil – cerca de 80% – é comercializada por um número de redes de supermercados que podem ser contados nos dedos de uma mão. Um consumidor do centro, sudeste, nordeste e norte do país não tem acesso a uma série de grandes vinhos elaborados no Brasil. Nós, assim como dezenas de outros pequenos produtores de vinhos finos, sofremos sérias restrições de acesso ao mercado há tempos. Agora, com o boicote, isso só ficou escancarado. Por isso precisamos de proteção para garantir o acesso aos nossos vinhos, mais que qualquer grande vinícola.
A França limitou as importações de vinho

No final do século 19, uma praga, a filoxera, devastou os vinhedos europeus. Para suprir a demanda interna, vinhos de outros países, especialmente do norte da África invadiram os mercados, suprindo a demanda interna. Na França, por exemplo, tornou-se praticamente inviável o cultivo de uvas finas e a elaboração de vinhos finos, em função da concorrência desleal de produtos mais baratos.

Para proteger a sua produção nacional de vinhos finos, a França adotou uma série de medidas, dentre elas a imposição de uma legislação restrita à rotulagem de vinhos nacionais e estrangeiros e a limitação de importações de vinhos. Vendo a sua cultura em risco, os franceses protegeram os seus produtores. Será que os franceses erraram ao abrir mão do liberalismo econômico temporariamente para proteger os seus produtores e a sua cultura?

O dilema brasileiro atual não é diferente daquele enfrentado pelos europeus no início do século passado: continuar sendo um país produtor de vinhos finos e dar continuidade ao desenvolvimento de uma cultura do vinho própria e original, ou ser um país meramente importador. Mais que um direito, é um dever não deixar que a cultura brasileira do vinho pereça. Um elemento cultural da identidade brasileira está em risco de extinção. Isso é um fato. Não se engane com quem diz o contrário. Não aceite manipulações dos números e das estatísticas. Certamente quem duvida disso está a serviço de quem quer eliminar a produção de vinho fino brasileiro, das grandes, médias e pequenas vinícolas nacionais.
Não somos um narciso às avessas, que cospe na própria imagem
O vinho faz parte da cultura brasileira tanto quanto a cachaça ou a cerveja. Há mais de um século a produção brasileira é sólida e expressa uma cultura rica, que não pode ser perdida. Todos os anos, só o Vale dos Vinhedos, a principal região produtora de vinhos finos do país, recebe mais de 200 mil visitantes. Entretanto, a desigualdade de condições na competição entre vinhos brasileiros e estrangeiros é gigantesca e em boa parte é devida à conjuntura internacional. A sobrevalorização do Real, a falta de isonomia tributária e os enormes incentivos dados a vinhos espanhois, franceses e italianos, por exemplo, não permitem a concorrência leal com o setor vitivinícola nacional.

A Dunamis é contra o boicote a qualquer produto brasileiro. Estamos unidos em defesa da cultura do vinho. Precisamos que o Brasil exerça a sua soberania. Seguindo as palavras do pai do liberalismo moderno, John Locke, quando diz que “cada um está obrigado a preservar-se”, cumprimos o nosso dever de exigir que o Brasil defenda a sua cultura do vinho. Seja por meio de salvaguarda (uma medida legal dos pontos de vista nacional e internacional, democrática e temporária) ou qualquer outro mecanismo. É certo que as coisas não podem ficar como estão. Ou seremos acusados pelas futuras gerações de não termos atuado em legítima defesa.

Não somos o mesmo brasileiro descrito por Nelson Rodrigues como “um narciso às avessas, que cospe na própria imagem”. Nós gostamos do Brasil, de nossa cultura e de nossos vinhos. Convidamos a todas as brasileiras e todos os brasileiros a experimentarem os vinhos do Brasil e a valorizarem o que é nosso. Exigimos o fim do complexo de vira-lata. Ergue a taça, Brasil!

Júlio César Kunz é diretor-executivo da Dunamis Vinhos e Vinhedos, engenheiro de alimentos pela UFRGS e mestre em gestão e marketing do setor vitivinícola pela Universidade Paris-Ouest (Nanterre – La Défense)
Comentários
Antonio Bellas
Médico
Rio de Janeiro
RJ
24/04/2012 Particularmente gosto do estilo e forma do vinho brasileiro (poderia chamar de terroir....), porém quando vemos as garrafas de nacionais de qualidade mediana por mais de 70 reais nas prateleiras, sabendo onde encontrar pelo mesmo preco exemplares excelentes de outras terras, fica a sensação de que com as salvaguardas nós vamos jogar os "santas" da vida para essa faixa de valor, e aqueles estrangeiros um pouco melhores vao dobrar de preco.

Sou um consumidor típico brasileiro (4 garrafas/mês) e tenho essa leitura da confusão formada.
Osmir Avila Abrantes
Engenheiro e Enófilo
Cascavel
PR
24/04/2012 A menção que o amigo Julio Kunz faz das medidas que a França tomou para proteção de seu vinho, é que esse país só fabrica vinhos vitiviníferos. Portanto para que o brasileiro saiba apreciar um bom vinho, falta muita estrada.

Eu, que moro no sul do país, vejo o quanto de ignorância existe sobre a cultura de se beber vinhos de boa qualidade (aqui se fala de vinhos de colônia e de garrafão). Ainda creio que só com muito lobby em Brasília, muita propaganda sobre os benefícios do vinho para a saúde (que está colocada como bebida alcólica) e diminuição de impostos e melhoria da qualidade e de cultura da população não haveria necessidade dos salvaguardas.

Osmir
Sergio Miceli
Vendedor e Consultor Vinhos - Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
24/04/2012 Lamento, acaba-se de configurar uma tremenda hipocrisia dos produtores de finos tintos nacionais.

Vai a dica: por que vocês não se espelham nos renomados, distintos, referenciais e competentes produtores de espumantes do nosso país? Se o tinto fino não tem seu lugar merecido à nossa mesa, é porque nossos produtores ou seus Deuses Terroirs não chegaram ainda a um estágio avançado de estrutura política, administrativa e geológica. Em vez de reclamar, porque vocês não se espelham também nos produtores e políticas internacionais, assim nosso vinho será efetivamente um ALIMENTO, como é tratado lá fora.
Irineo Dall'Agnol
Enólogo e Vitivinicultor
Bento Gonçalves
RS
24/04/2012 Júlio,

Faço do teu manifesto o meu sentimento de solidariedade ao vinho brasileiro. Mas vou mais adiante...

Também sou um pequeno produtor e sofro com as "árpias" que dominam e controlam o comércio de vinhos do Brasil. O vinho não pertence a uma Região ou a um País. O vinho é patrimônio do mundo, e ele se expressa diferentemente em cada território e isso é fantástico. Não cosigo imaginar visitar um lugar sem provar e sentir a gastronomia e a cultura local. Mas no Brasil parece ser diferente.

Tenho orgulho de plantar a videira, a sabedoria de entendê-la e a paciência de esperar para colher os frutos e assim elaborar o vinho. O prazer é infinito e procuro dividir com as pessoas do meu relacionamento. Como nós, muitos outros pequenos produtores estão sendo impedidos pela conjuntura atual de oferecerem aos brasileiros o melhor do vinho do Brasil. É uma pena!!!!

Abs
Irineo Dall'Agnol
Enólogo e Vitivinicultor
Abilio Cardoso
Enofilo e Dentista
Brasília
DF
24/04/2012 Novo argumento interessante. O controle de mercado por poucos importadores e distribuidores. Acho que em breve vão dizer que eles também controlam e escolhem as garrafas de minha adega.

Bom, mas valeu a matéria. Dunamis, mais um produtor que não comprarei, apoia a medida retrógrada das salvaguardas. Em tempo, sou grande bebedor de vinhos nacionais, ontem mesmo degustamos um Estrelas do Brasil Rosé, espumante fenomenal de um produtor que corre atrás de qualidade e bom preço ao consumidor, não fica pedindo protecionismo!!! Mexam-se, tenham bons produtos com preços honestos que os consumidores os apoiarão.

Abraço
Pedro Figueiredo
Produtor Vinho do Dão - Portugal
Silgueiros
Portugal
24/04/2012 Boa tarde a todo o forum,

Sou um pequeno produtor no denominado "Velho Mundo". Estou em uma Região Demarcada-Dão, que hoje tem 6% da quota de mercado interno. Que também tem de lutar contra os 40% da quota do Alentejo, com a minha pequena dimensão - produção de apenas 50.000 garrafas. Sem as economias de escala, que me possam levar a vender pelo preço.

Ora das duas... uma, ou baixo os braços e deixo ao abandono as vinhas que já vêm dos meus igrejos Avós, ou vou à luta, contra os grandes... que também de uvas fazem vinho, que tem dinheiro para comprar os "opinion makers" e para negociarem com as Grandes Superficies de forma a colocar de fora os pequenos.

Qual é a minha ARMA? A QUALIDADE. Trabalhamos a vinha e os vinhos com o cuidado estremo para que o que sai... sai MUITO BEM FEITO. Vou com as garrafas debaixo do braço, não só por Portugal... e também recebi muitos NÃOS (se o vinho fosse do Alentejo ou do Douro....) Exportar é outra maneira de lutar. Por isso quem acredita no seu Produto, se pensa que é muito bom, tem lugar no MUNDO. É dando a provar a muita gente (do MUNDO) que vemos se temos a Qualidade necessária.

Julgo que é hora de deixar de carpir as mágoas e irem à luta como todos os Produtores que acreditam na sua obra.

Um abraço a todos
Pedro Figueiredo
Victor Bastos
Enófilo
São Paulo
SP
24/04/2012 O comentário do Sr Abilio Cardoso foi preciso. Era só o que faltava... culpar importadores e distribuidores, dando a entender que eles escolhem o vinho de minha adega. O boicote se faz necessário a todos os produtores nacionais, até mesmo aqueles que se escondem atrás das "entidades representativas do setor".

Os que forem contra as salvaguardas que se manifestem e que convençam o governo de que é um tiro no pé. Este é mais um produtor banido da minha adega.
Carlos Reis
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
24/04/2012 Concordo com o Abílio. Mais um na lista dos vinhos que não tomarei...

O que gostaria de ver no Brasil é o que ocorre nos Estados Unidos: vinhos nacionais de qualidade em variadas faixas de preço e vinhos importados com preços idênticos ou inferiores aos de seus países de origem.

As salvaguardas são a medida mais antipática e infeliz que se poderia pensar, acertam em cheio o bolso do consumidor, e não adianta chamar isso de "mentira". Para piorar, ainda passam a impressão de querer impor os vinhos que devemos tomar. Os produtores nacionais seriam nossos "curadores", pois "brasileiro não sabe beber vinho" (será?).

E o IBRAVIN e cia me soam arrogantes e agressivos, bastando ver o seu manifesto ou ainda a seguinte notícia veiculada no Blog do Didu:

"A inabilidade da comunicação do IBRAVIN não tem fim. O deselegante e inábil assessor de imprensa (minúsculas) do Ibravin continua com sua impertinência provocativa. Ele postou o seguinte agora mesmo:

"Restam poucos "chatos da salvaguarda" em atividade. Cansou!" Vejam só este rapaz...

1º A Deselegância,
2º A Inabilidade e visão curta, pois se ele acha que o assuntou perdeu interesse que fique quieto e não assopre a brasa.
3º O que contribui um comentário desses?
4º Às vesperas da Expovinis.
5º Por que o Ibravin ainda insiste nessa pessoa?"


Não me parece que os consumidores pararam de "gritar", mas sim que já sabemos o que fazer: não beber vinho de quem defende as salvaguardas (e de quem não se manifesta expressamente contra). Ainda há tempo de desistir dessa maluquice e escutar o consumidor... Ou será que o mentor dessa bizarrice está com medo de perder seu emprego em virtude do enorme estrago que fez à imagem do vinho nacional e prefere insistir no erro?

Saudações a todos!
Carlos Reis, um mero consumidor
Carlos Machado
Past President ABW
Teófilo Otoni
MG
24/04/2012 Júlio,

Me permita inicialmente falar com o Oscar: quero parabenizá-lo pela postura e conduta adotadas. Faz do ENOEVENTOS um canal correto, competente e aberto a todas as opiniões!

Júlio, belo trabalho! Excelente o seu texto e o conteúdo é de uma correção ímpar.

Não podemos desanimar nem um pouquinho, mesmo diante da agressão que o Vinho Brasileiro vem sofrendo por parte dos boicotadores (boicotar é a expressão fiel da natureza de quem o faz).

Eu tenho absoluta certeza de que, quase todos que sustentam o boicote ao Vinho Brasileiro, nem mesmo consomem o nosso produto - ou seja, chega a ser bizarro e seguramente é inexpressivo.

Contudo, o que nos entristece é perceber o quão longe vai a defesa pelos interesses dos importadores e de uma legião de egoístas, que descaradamente afirmam que seus fundamentos estão ligados às suas próprias finanças pessoais. O Brasil? O interesse nacional? A vitivinicultura brasileira? Os milhares de trabalhadores que vivem em torno da uva e do vinho? Pouco "importa" a quem boicota o Vinho Brasileiro.

Parabéns mais uma vez !!!

Abraços,
Carlos Machado
Past President ABW
Roberto Cavalcanti de Albuquerque
Consumidor
Volta Redonda
RJ
24/04/2012 Senhor Júlio Kunz,

O enfoque que o Sr. dá à problemática do consumo de vinho brasileiro no mercado nacional é para mim, assim como foi para o Sr. Abílio Cardoso, uma novidade. Na sua ótica, as limitações impostas à distribuição e consumo do vinho brasileiro são determinadas pelo oligopólio dos importadores, distribuidores e - aleluia, finalmente um dos pequenos produtores brasileiros diz a verdade! - pelas grandes vinícolas nacionais. Qualidade e preço, no seu manifesto, não estão em questão.

Sr. Júlio, importador existe para importar, distribuir e vender o que importa para um mercado aberto e desejoso dos produtos que importa. Quando o mercado é fechado, ele é chamado de contrabandista e continua atendendo à demanda desse mercado. Não se preocupe tanto com os importadores; eles vão continuar a existir e lutar pelo seu espaço no mercado.

Preocupe-se, Sr. Júlio, com os distribuidores nacionais que não aceitam o seu produto para trabalhar; com as grandes vinícolas brasileiras que lhe sufocam e bloqueiam o seu acesso ao mercado doméstico; e, com o IBRAVIN e Cia. que usam vocês, pequenos produtores, como massa de manobra e nada fazem para ajudá-los a resolver os seus verdadeiros problemas (muito pelo contrário, jogam vocês nessa campanha odiosa de "salvaguarda", do interesse das grandes vinícolas que não mostram as caras como o Sr. teve a coragem de fazer, e que tanto prejudicam vocês os pequenos). O seu problema é o "fogo amigo" que lhes atiram pelas costas.

Se o Sr. não concordar com a minha opinião - sendo eu um simples consumidor - pelo menos leia com atenção e reflexão o comentário acima do seu colega de Portugal, Sr. Pedro Figueiredo. Ele tem problemas semelhantes aos seus, mas acredita mais no seu produto, se lamenta menos e trabalha mais.

Saudações.
Leonardo César de Carvalho Ladeira
Enófilo
Brasília
DF
25/04/2012 Prezado Júlio,

Vejo em seu texto o célebre ranço do empresário brasileiro - esperar que o governo resolva problemas que o próprio empresário não consegue resolver.

Somado ao manifesto sofrível, carregado de erros estatísticos formais (que qualquer aluno de primeiro semestre de exatas saberia demonstrar) também publicado no site, seu texto só reforça minha posição contra tais medidas protecionistas. Isso é um retrocesso, já tentado em outros segmentos e com resultados desastrosos para a economia nacional. Vide, por exemplo, a "Reserva de mercado de informática". Mas tergiverso, o foco aqui é o seu texto, não a história brasileira recente. Se você, identificado com mestre em gestão e marketing, não conhece esses fatos, sugiro que busque se informar. Será esclarecedor, tenho certeza.

Você, como eu, é empresário. Sabe, com certeza, que é da natureza de nossa atividade buscar ampliar mercados e participação em carteiras de clientes. Faz parte do jogo. Isso se faz de modo concreto prestando bons serviços, oferecendo bons produtos e boas condições comerciais. Quando feito na base do "não há alternativas", tal "fidelização" se sustenta apenas enquanto o tal ausência de opção persiste. Na prática, é isso que estão propondo com tais salvaguardas. Limitação da oferta penalizando o consumidor. É o proverbial "vôo da galinha".

Continuando, comparar a situação da França do sec. 19 com a do Brasil atual é risível. Acredito em aprender com o passado e com as experiências de terceiros, sim, mas com um olhar crítico: não seria melhor usar, do exemplo dado, aquilo que funcionou e é usado até hoje por grande parte do mundo (legislação de rotulagem, por exemplo) e não se ater aos pontos que foram descartados?

Finalizando, valorizar o que é brasileiro só e somente só por ser brasileiro também já foi tentado no nosso passado recente... em 1964 e cercanias. Não funcionou. Sugiro, realmente, focar no ponto QUALIDADE. Um bom vinho vai ter minha atenção, independente de origem. Sua postura, de forma ampla, NÃO me instiga a provar os produtos que levam sua marca no rótulo.
Marcus Ernani
Leitor
Rio de Janeiro
RJ
25/04/2012 Mais um manifesto que devo ler com a mão no peito e ao fundo o hino nacional. Enquanto isso o vinho nacional já amarga queda (ou seria tombo?) real nas vendas no período de Páscoa em comparação ao ano passado.

Sds
Jandir Passos
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
25/04/2012 Essa salvaguarda afinal é só para beneficiar o vinho nacional e/ou o vinho argentino também?

Sim, porque Chile em 1º lugar e logo depois a Argentina detêm mais da metade dos vinhos importados consumidos aqui. Que eu saiba os países do Mercosul (com exceção do Chile) não serão atingidos, ou seja, será ótimo para o Uruguai e a Argentina.

Ou numa segunda etapa farão lobby para pressionar o governo a colocar o vinho com uma exceção entre os produtos comercializados entre os países membros do Mercosul? E será que o consumidor brasileiro irá automaticamente passar a consumir mais os vinhos nacionais pelo fato de os vinhos importados estarem mais caros ainda do que já são?

Gosto do vinho nacional e sempre consumi vinho nacional mas não concordo com a salvaguarda por entender que reserva de mercado nesse contexto não é a solução. E qual é a solução? Fazer lobby junto ao governo para redução em encargos, continuar investindo na qualidade (coisa que já é feita), oferecer produtos com preço compatível com a qualidade.

Há muito vinho importado que não vale o que custa no mercado. Exemplo: Almaviva. É um bom vinho, muito bom, mas na minha opinião está "overpriced", fruto da fama e especulação (e não só impostos). Por outro lado, há muitos vinhos nacionais que também estão, e em muitos casos por questão estratégica (raciocínio do tipo: se é caro, então o consumidor entenderá que é bom) equivocada, com preços que não condizem com a qualidade. E onde temos grande qualidade com preços razoáveis, isto é, competitivos? Precisamente nos espumantes, coisa que o consumidor brasileiro já percebeu.

Em suma, salvaguarda lembra-me a reserva de mercado da informática: pagaremos mais, por menos, tanto nos importados (que já são carissimos), quanto nos nacionais.
Pedro Esteves
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
25/04/2012 Prezado,

Sua explanação, com novos dados, me surpreendeu e eu até mudei de opinião. Era contra a Salvaguarda, agora sou a favor, com uma condição: aprovem a salvaguarda e abaixem o preço do vinho nacional. Simples, um vinho que custa 70 e têm qualidade de um importado de 40, vendam por esse último valor, não por aquele.

Abraços
José Paulo Schiffini
Eterno aprendiz e enófilo da velha guarda
Armação de Buzios
RJ
26/04/2012 Sou favorável ao vinho brasileiro de qualidade a preços honestos e sou contra a qualquer salvaguarda para qualquer produto ou indústria... A competição purifica os mercados e estimula o progresso! As cotas e as restrições favorecem o contrabando, as propinas, como nos tempos da Velha Cacex...

O boicote é uma arma legal para combater as salvaguardas! Devemos sempre nos perguntar: "A quem interessa esta situação caótica? Quais as motivações políticas de cada lado?"

Schiffini
Rodrigo Barradas 26/04/2012 De todos os argumentos inconsistentes que li sobre o tema, acho que esse futebolístico é o mais antológico. Para seguir o estilo do sr. Kunz, o jogo é claro: o produtor quer ganhar uma fatia da minha carteira prejudicando a minha capacidade de escolha. Ou seja, produtor x consumidor.

Tchau, Dumame. Pena que jamais terei o prazer de conhecer seus produtos.
Marcelo Bertaco
Comerciante
Itu
SP
06/07/2012 boa tarde a todos. minha primeira vez por aqui.

essa comparaçao do futbol com vinho e a coisa mais patetica que ja vi na minha vida de enofilo. o futebol do brasil e o melhor do mundo, quanto ao vinho... somos para o vinho o que as ilhas faroe sao para o futebol. justifica a salvaguarda com o que aconteceu na frança a 100 anos atras. por que mesmo? por conta de uma praga que dizimou as vinhas de toda a europa.

e isso que acontece por aqui??? quando vemos os baroes do vinho com sua ostentaçao e parques industriais em franca expansao?! esses caras de terno nao tem a minima visao do que e realmente um vinho. como pode um vinho nacinal, algumas vezes mediocre custar mais que seu similar original da europa. vinho nacional ACORDA!!!
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]