
Branco que te quero branco |
Os leitores já devem estar cansados de ler, mas eu não me canso de escrever que sou um fanático apreciador de vinhos brancos. Quando vou a restaurantes, procuro sempre escolher um prato que combine com vinhos brancos; nas feiras de vinho, sempre começo pelos brancos e só passo a experimentar os tintos quando já esgotei os primeiros; na hora de aperitivar, a escolha é sempre os brancos.
Os brancos apresentam uma diversidade estonteante. São incontáveis as castas de qualidade, os estilos variam muito e, com isso, você sempre tem coisas novas para conhecer. E sem contar que, em nosso clima tropical, os vinhos brancos são muito mais apropriados. Dependendo da ocasião, tanto se pode escolher um vinho leve e refrescante, quanto se pode partir para o lado mais sério e escolher um branco encorpado, envelhecido.
Portanto, não é de surpreender que, quem quer me dar um presente, escolha sempre um vinho dessa cor. E foi o que aconteceu em meu aniversário, mês passado, quando ganhei um branco magnífico, que abri esta semana. Que presentão!

O vinho era um Naiades 2007. Confesso que não sabia o que era uma naiade, mas o Google me ajudou a conhecer mais essa: na mitologia grega, as naiades (figura à direita) eram as ninfas que tomavam conta das águas doces, enquanto que as sereias eram responsáveis pelos mares salgados. Boazinhas, elas permitiam que os mortais bebessem de suas águas, mas era estritamente proibido banhar-se nelas, sob pena de castigos terríveis. Exatamente o que você deve fazer com este vinho: beber, sim; desperdiçar, jamais!
O Naiades é elaborado pelas Bodegas Naia, em pleno coração da DO Rueda, denominação em que as castas brancas reinam absolutas, representando 98% da produção. Dentre elas, a mais emblemática é a Verdejo que vem, ano a ano, aumentando sua participação nos vinhos da região: enquanto que, em 1995, a Verdejo representava apenas 40% da produção, em 2011, o percentual já era de estonteantes 83%, em detrimento da Viura, da Palomino e da Sauvignon Blanc, as outras castas permitidas pela DO. Esses números vêm a atestar a cada vez maior admiração do mercado espanhol e internacional por esses brancos excepcionais.
Como não poderia deixar de ser, o meu presente era 100% Verdejo, com 13,5% de teor alcoólico, elaborado de vinhedos centenários, alguns até mesmo pré-filoxéricos, plantados em solo arenoso. O vinho fermenta em barricas de carvalho francês novo e lá permanece por 8 meses. O resultado disso é magnífico.
A bela cor amarelo-dourada já é o prenúncio das alegrias que se seguem. Um nariz poderoso, com notas de grapefruit, avelãs, coco e flores brancas deixa sentir que a passagem em madeira foi tratada com maestria, no ponto certo de emprestar uma complexidade sem esconder o caráter das uvas.
Na boca, uma tremenda acidez que embrulhava muita fruta, toques minerais, um elegante gostinho amargo típico da casta, com muita redondeza, untuosidade e, principalmente, falta de pressa para se retirar, igualzinho a um baiano.

Eu sei que não é de bom-tom discutir o preço de um presente. Mas não resisto a contar que se trata de um regalo caro, bem acima dos meus estritos limites de preço para os vinhos que compro.
Vendido pela Vinci, o vinho custa assustadores 174 reais, (clique aqui para conferir). Mas se você tiver bastante peso na carteira - ou tiver amigos iguais aos meus - beber um Naiades é garantia de inolvidáveis momentos.
Para finalizar, não posso deixar de falar da concavidade no fundo da garrafa, a mais profunda que já vi até hoje (foto à esquerda). Pode até ser elegante e diferente, mas é enganosa. Quando você ingenuamente pensa que ainda tem bastante vinho para beber, é surpreendido por um prematuro fundo branco. Frustrante...
Oscar Daudt
14/04/2012 |