
Se eu começar a falar de intensidade, elegância, grand cru, terroir, varietal, sommelier, etc... vocês certamente vão pensar que o assunto é vinho. Mas não é! O mundo dos cafés gourmets utiliza praticamente a mesma terminologia do que o mundo dos vinhos. Os conceitos se sobrepõem e às vezes você fica até meio confuso: estou bebendo um café com aromas de vinho ou um vinho com aromas de café?
No jantar oferecido pela Nespresso, eu tive uma verdadeira aula de como entender e degustar um bom café. Está certo que eu fui um aluno um tanto rebelde, pois não consegui nem ao menos aprender a primeira lição: não se usa açúcar em um bom café! E logo eu, que não gosto de doces, nem de adoçar nada, não consigo abrir mão de uma colherzinha para temperar meu café do dia-a-dia. Para os iniciados, é um sacrilégio tão grande quanto se eu decidisse adoçar, por minha conta, uma taça de vinho.
Em pelo menos um aspecto, no entanto, os "cafeólogos" estão um passo a frente dos teóricos do vinho: os 16 Grand Crus da Nespresso vêm classificados por intensidade, com uma numeração que vai de 2 a 10. E assim fica fácil escolher a cápsula preferida segundo a vontade do momento. Já pensaram como seria interessante se o vinho já viesse assim claramente identificado? As possibilidades seriam muitas: "Para harmonizar com uma paleta de cordeiro, utilize um vinho tinto com intensidade 7!" ou "Garçom, traga-me uma taça de um vinho branco de intensidade 2!". Eu e minha mente cartesiana apoiaríamos a medida desde o primeiro momento!
O motivo do requintado jantar era o lançamento de um novo varietal dentro da já extensa linha de Grand Crus que a Nespresso oferece a seus clientes: era o NaOra (palavra derivada de now e ahora, que reforça a ideia da precisão do momento). Aproveitando o conceito de colheita tardia, tão familiar aos apreciadores de vinho, o novo café é colhido alguns dias após o tempo usual. Mas exige um rígido controle da maturação, pois se deixar passar a hora, assim como a uva, pode por tudo a perder.
No meu rápido curso de introdução à bebida, aprendi que, diferente dos vinhos, que devem ser elaborados apenas com uvas da espécie vitis vinifera, existem duas espécies de café que podem ser utilizadas para se obter um bom produto: o tipo Canephora, mais robusto, mais intenso, com mais amargor, e o tipo Arábica, mais delicado, com mais acidez e maior doçura. Mas não se pode dizer que um é melhor do que o outro: são apenas dois tipos de cafés finos, cada um com suas características. E que podem, até mesmo, ser misturados para se obter as características desejadas.
O NaOra é um café da família arábica, proveniente dos terroirs colombianos de Santander e Tolima, com altitudes acima de 1.000 metros. A maturação extra faz com que a bebida revele aromas mais frutados, de cassis e mirtilo. Muito equilibrado (a intensidade fica no meio, isto é, nível 5), e é indicado para a elaboração de café expresso que, quando misturado ao leite, apresenta notas de nozes e de avelãs.
Oscar Daudt
10/05/2012 |