
Sempre que visitantes de outras cidades vêm ao Rio de Janeiro, eu tenho uma certa dificuldade em convencê-los de que o Porcão é uma churrascaria de primeira categoria e que vale a pena conhecê-la. Também pudera, o nome não ajuda...
E de onde saiu nome assim tão inapropriado? A história do Porcão começa em 1975, em plena Av. Brasil, já bastante degradada, quando a família Mocellin abre a primeira casa, chamada de Churrascaria Riograndense, que oferecia o sistema de "espeto corrido", conforme nós, os gaúchos, chamamos o sistema rodízio. Poucos meses depois, uma ventania derrubou o letreiro e a casa ficou sem identificação. Por azar, a Riograndense ficava ao lado do finado supermercado Casas da Banha, cujo símbolo era um porco. Com isso, a irreverência carioca logo apelidou a churrascaria de Porcão e o nome pegou. Como era uma casa simples e mal localizada, ninguém se preocupou com isso.
Quando enfim a família decidiu investir na sofisticação e se mudar para a Zona Sul, já era tarde e o nome era muito conhecido para ser trocado. E assim temos hoje uma churrascaria requintada, de excelente gastronomia e um nome que, no mundo inteiro, é pejorativo e sinônimo de sujeira. Fazer o quê?
Vocês sabem quantos vinhos o Grupo Porcão vendeu em 2011? A estonteante quantidade de 78.000 garrafas, o que dá uma média de 214 por dia! É um número para deixar qualquer restaurante de alto luxo ardendo de inveja. Com um foco assim tão intenso na bebida de Baco, não é de se estranhar que o grupo tenha decidido desenvolver um rótulo para chamar de seu e poder oferecê-lo a seus clientes.
E não deixou barato, literalmente. Foi negociar em Portugal uma partida de vinhos especialmente elaborada para o restaurante, na vinícola que atende pelo romântico nome de Lua Cheia em Vinhas Velhas, localizada no Douro. De um vinhedo chamado Andreza, em bela curva do rio, saem 50% de Touriga Nacional, 40% de Touriga Franca e 10% de Tinta Roriz para elaborar o corte que repousou por 12 meses em barricas novas de carvalho francês e esperou 7 anos em garrafa para ser lançado. O teor alcoólico é de 14%, o que com certeza anestesiará a consciência e, na hora da conta, vai ajudar a encarar o preço de 160 reais sem muitas reclamações.
É um Douro da nova geração, carnudo, macio, com grande estrutura e toques fumados e de especiarias, delicioso e de prontidão para encarar as mais variadas carnes que por lá passeiam. Mas a produção de apenas 3.250 garrafas, comparada com o consumo do grupo, não passa de um leve suspiro. Mais me parece um balão de ensaio.
A embalagem é caprichada, em elegante garrafa que lembra uma bordalesa, mas mais alongada. No rótulo, em forma de losango, a cor vermelha com impressão em dourado empresta um visual enobrecido ao vinho. Mas e o nome? Lá vem o problema: Porcão Andreza Garrafeira Douro 2005. Se fosse encontrado em prateleiras - o que não acontecerá - duvido que alguém comprasse um exemplar com nome tão ameaçador e com a figura de um porquinho no rótulo. Mas para quem já está no restaurante, mais um, menos um Porcão, não fará nenhuma diferença...
Oscar Daudt
06/06/2012 |