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O Velho Mundo flerta com o Novo
Em 1997, a baronesa Philippine de Rothschild, proprietária do Château Mouton-Rothschild, e a gigante chilena Concha y Toro firmaram um acordo para a elaboração do primeiro "vin de château" do Novo Mundo. Nascia assim o Almaviva, o vinho mais prestigiado do Chile, responsável pelo reconhecimento internacional desse país como produtor de vinhos de primeira linha.

Combinando as excepcionais condições climáticas e geográficas chilenas com toda a tradição e o conhecimento de uma das 5 grandes vinícolas de Bordeaux, o rótulo reflete essa síntese de culturas. O próprio nome do vinho remete ao Conde de Almaviva, personagem da famosa peça de Beaumarchais, "Le Marriage de Figaro", uma das comédias mais importantes do teatro francês, e aparece como a reprodução de um manuscrito do autor. Ao mesmo tempo, os desenhos da etiqueta exibem a visão do céu e da terra conforme antiga figura da civilização mapuche. Mais simbólico dessa parceria é impossível...

A primeira safra lançada foi a de 1996, estranhamente colhida antes de ser fechado o acordo entre as duas vinícolas. E a partir daí, o vinho vem sendo elaborado todos os anos e a mais recente safra no mercado é a de 2009. Lá se vão, portanto, 14 safras, todas elas cobiçadas pelos apreciadores endinheirados do mundo. Desde sua origem, o vinho é um corte com percentuais variáveis de Cabernet Sauvignon (sempre a casta preponderante), Carménère e Cabernet Franc. A partir de 2006, a Merlot passou a fazer parte da festa, mas com percentuais irrisórios de apenas 1 ou 2%. E a partir de 2010, a novidade será a entrada da Petit Verdot no seleto grupo.

Quanto ao estágio em madeira, há uma leeeeeve tendência a aumentar o tempo em que o vinho passa em carvalho francês novo: no início eram 16 meses, em 2001 passou para 17 meses e atualmente o vinho repousa por 18 meses. Uma evolução muito discreta, como convém a um vinho destinado ao topo da pirâmide, de gosto sofisticado e avesso a exageros.

O enólogo francês Michel Friou, que comanda a elaboração do vinho desde 2007, contou-me que, à exemplo de um château bordalês, a Almaviva também produz, desde o ano 2000, o seu segundo vinho: o Epu, que significativamente, na língua mapuche, quer dizer "dois". Mas o carro chefe continua sendo o primeiro vinho, do qual são produzidas cerca de 144.000 garrafas por ano, enquanto o Epu colabora com a produção de cerca de 24.000 garrafas apenas.

Clube do Bolinha
É justo que as Luluzinhas protestem, pois o exclusivo almoço-degustação oferecido pela Devinum no Giuseppe Grill, era só para homens. E os felizardos convidados puderam passear por 4 safras do icônico vinho. Se beber uma safra já é um privilégio, imaginem beber quatro de uma só vez: 2001, 2004, 2008 e 2009. Foi inesquecível!

Apesar de a safra 2001, por exemplo, já ter completado 11 anos, os vinhos eram todos muito novos, o que levou o diretor da ABS, Roberto Rodrigues, a exclamar, admirado: "Esses vinhos são eternos jovens!" E o enólogo acrescentou que, como a safra mais antiga tem apenas 16 anos - um nadinha se comparado com a história dos grandes vinhos franceses - ainda é difícil estimar quanto tempo de vida esses vinhos terão. Mas acredita-se em muito...

É um exercício de futilidade falar que todas as safras eram complexas, encorpadas, aveludadas, elegantes e por aí vai... Dos 4, eu preferi o exemplar de 2001, até mesmo porque aprecio os vinhos mais evoluídos, apesar de ser difícil qualificá-lo como tal. Mas imagino que daqui a 8 anos, o vinho da safra 2009 estará me trazendo a mesma satisfação que o 2001. E este, então, nem se fala...

Mais antenado, o sommelier Renato Rangel, confessou-me que também gostou mais da safra 2001, mas por motivos diversos: segundo ele, os exemplares antigos eram mais, digamos, "franceses", enquanto que os mais recentes eram mais "tecnológicos". Controvérsias a parte, são vinhos soberbos todos eles, que infelizmente estão bem acima dos limites da minha faixa de consumo. Só mesmo como convidado... Mas para aqueles que estão podendo, informo que o preço do 2009 está por volta de 550 reais!

Oscar Daudt
06/09/2012
Os vinhos
Escudo Rojo Chardonnay 2010 Almaviva 2001
Castas: 70% Cabernet Sauvignon, 27% Carménère, 3% Cabernet Franc
Envelhecimento: 17 meses em carvalho francês novo
Almaviva 2004
Castas: 72% Cabernet Sauvignon, 28% Carménère Envelhecimento: 17 meses em carvalho francês novo
Almaviva 2008
Castas: 66% Cabernet Sauvignon, 26% Carménère, 8% Cabernet Franc Envelhecimento: 18 meses em carvalho francês novo
Almaviva 2009
Castas: 73% Cabernet Sauvignon, 22% Carménère, 4% Cabernet Franc, 1% Merlot Envelhecimento: 18 meses em carvalho francês novo
Mouton Cadet Sauternes Réserve 2009
O almoço
Couvert Couvert Salada de salmão marinado, folhas de rúcula, azeite extra-virgem e ervas
Picanha supra-sumo na brasa e farofa de cebola Paleta de cordeiro assada lentamente por 8 horas e batatas Giuseppe com alecrim Pudim de tapioca do chef com tapioca em finos flocos e lâminas de coco fresco
Os participantes
Thibaut de Branquilanges, diretor da Baron Philippe de Rothschild
O enólogo Michel Friou Sergi Freixa, diretor da Devinum
Marcos Pestana, representante da Devinum no Rio de Janeiro Rodolfo Garcia, da Veja Rio Roberto Rodrigues, da ABS
Renato Rangel, sommelier do Quadrifoglio Bruno Agostini, do O Globo Eder Heck, do Mr. Lam
Edsandro Arruda dos Santos, sommelier do Cipriani Marcelo Torres, do Giuseppe Grill O enólogo e eu, vestindo a camisa da Almaviva
(foto de Renato Rangel)
Comentários
Walter Tommasi
Jornalista
Santana de Parnaiba
SP
06/09/2012 Parabéns pela matéria, Oscar.

Também tive o prazer de participar do evento versão paulista. Meu favorito entretanto foi o 2008, o mais austero e europeu do painel. Claro que o tempo de garrafa fez muito bem ao exemplar de 2001, ainda assim ele carregava, mais delicadamente, o estilo mais musculoso do vinhos do Chile da década passada. Nada de errado com isso, pois pudemos ver que até mesmo os vinhos mais musculosos podem envelhecer bem.

Bem, realmente a apresentação foi impecável. Parabéns aos amigos da Devinum.

Forte abraço
Fátima Mendonça
Advogada-Winemaker-Social Media
Fortaleza
CE
10/09/2012 Deliciei-me com o seu post, Oscar! Imagino a maravilha q/deve ter sido degustar os Almaviva!!!

Estive visitando a Almaviva agora em julho e foi um encantamento total, a começar pela receptividade... Como o 1º vinho da vinícola estava realmente muito caro (nos EUA sai mais em conta!) acabei levando 2 exemplares do Epu p/degustar em breve aqui em casa...

Sucesso e parabéns!
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]