
A família americana Mariani fez fortuna com a importação de Lambruscos para os Estados Unidos, um vinho sempre olhado com desconfiança pelos enófilos. No entanto, este pecadilho já foi mais do que expiado nos últimos 30 anos. Ao fim da década de 1970, a família começou a comprar terras em Montalcino e estabeleceu o seu hoje famoso Castello Banfi, um marco na região. Por muitos, os Mariani são considerados como os responsáveis pelo sucesso mundial daquela região, antes adormecida em plácido marasmo.
Quando iniciou suas atividades em Montalcino, o trabalho de conhecimento da casta Sangiovese identificou pelo menos 600 clones! Minuciosamente, cada um deles foi cuidadosamente estudado, através de micro-vinificações e a quantidade foi sendo pouco-a-pouco reduzida na busca pelas melhores variedades. Ao fim de 10 anos, foram classificados os 15 melhores clones da casta que hoje são utilizados para a elaboração de seus respeitados Brunellos.
E não é só. Em um meticuloso estudo dos solos dos quase 3.000ha da propriedade, foram demarcadas 29 diferentes sub-zonas de vinhedos. E com isso delineava-se um complicado quebra-cabeças com o objetivo de encontrar a melhor combinação de clones e terrenos, que foi montado peça a peça com uma paciência de Jó.
Depois de tanto trabalho e investimento, o Castello Banfi disponibilizou seus estudos e os melhores clones para os vitivinicultores da Montalcino, contribuindo para a melhoria geral da qualidade dos vinhos da região, numa jogada de mestre. O resultado todos conhecemos: o atual reconhecimento internacional dos vinhos da bela região da Toscana.
Degustação de clones e vinhedos |
Como explicou Rodolfo Maralli, diretor comercial do Castello, na impossibilidade de levar-nos todos à adega de Montalcino, a adega foi trazida para Ipanema. No Castello Banfi, as uvas das 29 vinhedos são vinificadas separadamente e posteriormente cortadas pelos técnicos. Tarefa divertida, esta, pois no almoço oferecido pela importadora World Wine foi-nos oferecida a possibilidade de simular o trabalho dos enólogos da casa, degustando diferentes clones e diferentes vinhedos, todos eles da safra 2010. Mas podem ficar tranquilos que nós não decidimos nada, não...
A primeira fase da degustação foi a prova dos 3 clones que são utilizados para elaborar o respeitado Poggio alle Mura, todos eles plantados no vinhedo que fica em torno dos muros do castelo e, por isso assim batizado. Os clones foram os seguintes:
BF 30: notas florais e de tabaco, grande estrutura e finesse;
JANUS 10: complexo e cheio de especiarias;
JANUS 50: corpo marcante e segundo o apresentador, o mais típico de um Brunello.
As 4 amostras seguintes apresentavam 4 diferentes vinhedos. Foi bastante interessante ver que os vinhos de Casanova e Podernuovo, embora elaborados com os exatos 3 clones acima, eram vinhos bastante distintos, graças às diferenças dos solos: o primeiro tinha marcante potência enquanto o segundo apresentava mais frescor e leveza. Os dois outros vinhedos, Poggio d'Orcia e Sorrena, são plantados com muitos mais clones e o segundo impressionava com seu caráter mineral e sua elegância.
Finalizando a prova, foi-nos oferecido o produto pronto, o espetacular Castello Banfi Poggio alle Mura Brunello di Montacino 2007, um vinho corpulento e ao mesmo tempo elegante, macio como uma seda e deliciosamente condimentado. Foi o fecho de ouro de uma das mais interessantes e originais degustações de que já tive a oportunidade de participar. Nota 10!
Oscar Daudt
28/09/2012 |