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17ª safra
No mundo dos vinhos, unanimidade é coisa rara, com cada apreciador tendo uma opinião diferente sobre qualquer assunto que seja. Uma das poucas que eu conheço é quando se pergunta qual o vinho mais importante, ícone da enologia portuguesa: 10 entre 10 enófilos respondem ser o Barca-Velha, da Casa Ferreirinha.

Criado em 1952 pelo enólogo Fernando Nicolau de Almeida, de lá para cá, passados 60 anos, houve apenas 17 safras desse vinho, o que revela o grau de exigência da casa com a qualidade e o prestígio do rótulo: quando a safra é excelente, o vinho não é classificado como Barca-Velha; é necessário que o resultado seja nada menos do que excepcional, quase celestial, para que o vinho seja assim batizado. E ficamos todos admirados quando o sommelier Dionísio Chaves recitou de cor, sem titubeios, quais as safras até hoje lançadas: 1952 - 1953 - 1954 - 1957 - 1964 - 1965 - 1966 - 1978 - 1981 - 1982 - 1983 - 1985 - 1991 - 1995 - 1999 - 2000 e agora a safra 2004.

Atualmente, o enólogo desse cultuado vinho é Luís Sottomayor, que foi discípulo de seu criador. António Campos, da Zahil, contou-nos que, a cada safra, o processo se inicia identificado apenas como o de um "grande vinho do Douro". A partir daí, o vinho é provado pelo enólogo, mensalmente, acompanhando a sua evolução. Só ao final de 7 anos é que - vejam que responsabilidade! - o vinho vem a ser declarado, ou não, como Barca-Velha.

Bem, eu já sabia que, quando o vinho não atinge o patamar de excelência desejado, ele é então lançado como Casa Ferreirinha Reserva Especial. O que eu não sabia, no entanto, é que este também, só recebe esse prestigiado nome nas safras excelentes e que, até hoje, também só aconteceram outras 17 safras para ele. Conclusão: nos últimos 60 anos, houve cerca de 26 safras que não resultaram nem num vinho, nem no outro. E daí não sei para onde vai o vinho: acredito que se transforme em Quinta da Leda. Portanto se você quiser economizar sem abrir mão da qualidade, compre o Reserva Especial; se quiser economizar mais ainda, compre o Quinta da Leda!

O não-lançamento
António Campos fez questão de explicar que a Casa Ferreirinha tem como norma fazer o lançamento de vinhos somente com a presença de seu enólogo. Como este não tinha conseguido vir ao Rio, aquele evento de que estávamos participando - contrariando todas as evidências - não era o lançamento da safra 2004. Era apenas uma reunião casual de amigos que, por coincidência, contava com os principais formadores de opinião e jornalistas de enogastronomia da cidade.

Independente de qualquer dúvida, o não-lançamento foi um momento prá lá de especial, em que a nova safra do principal vinho português foi acompanhada pelas criações do templo-mor da gastronomia da Terrinha no Rio de Janeiro, numa simbiose espetacular: o Antiquarius.

O não-lançado Barca-Velha 2004 é algo assim absoluto e independe de fichas técnicas ou notas de degustação, tal o renome e a confiança que o vinho desperta. Os consumidores nem se interessam em saber que ele é um corte de 40% Touriga Nacional, 30% Touriga Franca, 20% Tinta Roriz, 10% Tinto Cão, nem que o teor alcoólico é de 13,5% e muito menos que o açúcar residual é de 3g/l: ninguém vai deixar de bebê-lo por conta disso. O que, sim, pode e vai retrair os consumidores é saber que o preço é de estratosféricos 1.400 reais, o que indica que se trata - lógico! - de um vinho destinado apenas ao topo da pirâmide. E foi exatamente assim que eu fiquei me sentindo ao ter a oportunidade de prová-lo e repetí-lo durante esse inesquecível almoço.

Oscar Daudt
04/08/2012
Os vinhos
   
   
Os participantes
Feliz da vida com o lançamento, António Campos, da Importadora Zahil Jornalista Luciana Fróes Carlos Perico, do Antiquarius
Sommelière Deise Novakoski Jornalista Bruno Agostini Sommelier Dionísio Chaves
Consultor Paulo Nicolay Célio Alzer, da ABS Jornalista Alexandre Lalas
Cláudio Santos, dos Hotéis Porto Bay Maria Vargas, da Documennta
O serviço foi comandado pelo maître Luciano Fernandes A mesa na sala privê do Antiquarius
Comentários
Abílio Cardoso
Dentista e Enófilo
Brasília
DF
05/08/2012 Oscar, qual o potencial de guarda do Barca Velha?? Garimpei nas terras do Tio Sam uma garrafa da safra de 1995. Não sei até quando resistirei com ela fechada.

Abs

Abílio, segundo o produtor, seu vinho atinge o auge entre 15 e 20 anos. Portanto, seu exemplar está na hora exata. E se você precisa de um motivo especial para abrir, informo que no dia 15 estarei em Brasília... :-) Abraços, Oscar
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
05/08/2012 Oscar,

O Jornal de Negócios de Portugal, em 17/05, anunciou: "o lançamento, para setembro, do mais exclusivo vinho português, o Barca-Velha safra 2004, com preço de 100 Euros, e que foram produzidas 26068 garrafas numeradas" (leia aqui).

Quem o torna excludente aos consumidores são seus distribuidores que, mesmo em Lisboa, impõem inaceitável sobrepreço, como a Garrafeira Nacional que, em seu site, o vende por 300 Euros a unidade. A Zahil, então, por 1400 Reais, sem comentários, .....!!!

Aos simples mortais, resta consolarem-se com o Quinta da Leda 2008 e, mesmo assim, comprado na Garrafeira Nacional por 32,50 Euros, porque na Zahil, em seu site, esta por 219 Reais a garrafa (370% ou 2,7x).

Abraços,
Rafael
José Luis Azeredo
Enófilo
São Paulo
SP
06/08/2012 Oscar,

Nos anos 60 e 70, quando a safra não dava para Barca Velha ou Reserva Especial, o vinho ia para o Vinha Grande.

Nos anos 80 e 90, a constância de BV e RE foi maior, com 3 BVs (91, 95, 99) e 4 RE(90, 92, 94, 97), 1 Reserva (96), mas na safra de 1998, a Ferreira achou que não merecia ser BV e não pode dar o nome de Reserva Especial, porque a burocracia vínica portuguesa não reconhecia o nome, ou era Reserva ou era Especial e então saiu o Colheita 1998. Excelente vinho, ainda o tenho na adega.

Depois, isto se resolveu e o RE voltou a pertencer ao portfolio da Sogrape. São todos vinhos de guarda, mas aos poucos foram cedendo à modernização, mudaram o estilo. Alguns RE na evolução mostraram que deviam ter sido BV, alguns BVs não corresponderam tão bem, após uma guarda mais longa, mas todos formidáveis.

Os Quinta da Leda são um projeto mais recente, tem uvas próprias da Quinta, é outro estilo. Já neste século, temos BV 00 e 04, RE 01, 03, pularam 02 que foi um ano ruim no Douro.

Eu sou um rústico, sempre prefiro o estilo RE, me parece ser mais Douro, mais agreste, já o BV caminhou para aristrocacia, amaciou para agradar ao mundo e manter a fama.

Escrevi demais, perdão. Um abraço.

Azeredo, seus esclarecimentos são sempre bem-vindos. Obrigado. Oscar
Rogério Serra
Contador/Auditor
Rio de Janeiro
RJ
16/04/2013 Prezados,

Acabei de adquirir uma Barca Velha safra 2004, tenho certeza que realizei um sonho de consumo, pois sempre o quis ter. Como sou apreciador, amante e estudioso no mundo do vinho, posso dizer, um Enófilo, fiquei muito feliz com minha nova aquisição.

Como dizem os especialistas, 10 entre 10 enófilos respondem ser o Barca Velha o mais importante vinho de Portugal, um ícone da enologia portuguesa. Mas, porém, como já diz o ditado, tudo que é bom custa caro, comigo não foi diferente. Paguei 1.700,00 reais, mas não me arrependo nem um pouco!

Saudações, RS.
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]