
De acordo com as fases da lua |
Saint-Rémy de Provence é mais uma daquelas belas e bucólicas cidadezinhas do sul da França, recendendo a lavanda. Situada a 20km ao sul de Avignon, desfruta de uma bela vista dos cumes áridos dos montes Alpilles. Seu filho mais ilustre foi Nostradamus e seu visitante mais famoso foi Van Gogh, que lá esteve internado e pintou, durante a sua estada, uma de suas obras mais famosas: A Noite Estrelada (imagem à direita).
Não é de se estranhar, portanto, que venha de lá um produtor inquieto e místico que elabora alguns dos mais respeitados rótulos da Provence: Henri Milan. Desde a infância envolvido com a produção de vinhos de seu pai, foi somente em 1986, ao voltar do serviço militar, que Henri tomou as rédeas da propriedade, àquela altura decadente, como muitas da região.
Determinado a produzir os melhores vinhos, respeitando o meio-ambiente e obedecendo as regras da natureza, adotou a agricultura orgânica para logo em seguida se lançar às discutíveis práticas biodinâmicas, consultando o calendário lunar e enterrando chifres de boi com esterco.
Já em 2000, elaborou a sua primeira safra sem a adição de SO2. Independente, em 2007 pediu o divórcio da denominação Baux de Provence e passou a elaborar, apenas, rótulos com a mais baixa classificação hierárquica. Seu vinho mais festejado é o tinto Clos Milan, um corte variável de castas do Rhône que é elaborado desde 1990. Como se fosse um Mouton Rothschild, a cada ano o rótulo é desenhado por um artista comissionado pelo produtor.
Alta octanagem e muitos decibéis |
Como estava curioso em conhecer os vinhos de Henri Milan, quando estive na Provence, em abril passado, trouxe na bagagem um vinho branco assinado por ele, que é considerado como uma obra-prima, igual a um quadro de seu vizinho Van Gogh. Trata-se do Le Grand Blanc 2008, classificado como um humilde Vin de Table. É um complicado corte de Grenache Blanc, Rolle (é assim que os provençais chamam a Vermentino), Roussanne, Chardonnay e Muscat Petit Grains.
E encontrá-lo todos os dias em minha adega, chamando por mim, só fazia aumentar a curiosidade, que foi desfeita esta semana, quando o levei para um jantar no Alameda. Que vinhaço-aço-aço! Refletindo a multiplicidade de castas, o nariz era prá lá de complexo, mutante, imprevisível. Uma hora eram as flores, no próximo gole vinham a tangerina e o mel, mais tarde a pera e as especiarias, mas sempre sublinhadas por uma escandalosa mineralidade. Na boca era tudo de bom: acidez marcante, cremosidade, riqueza e estrutura perfeitas. E um muito longo final que eu gostaria mesmo é que ficasse para sempre.
O vinho, muito novo para os padrões do produtor, já está uma delícia, mas com certeza uma evolução mais alguns anos só irão melhorá-lo. Pena que eu só trouxe uma garrafa para poder acompanhar esse crescimento...
Se você ficou interessado pelo vinho - assim como eu fiquei em conseguir mais algumas garrafas - aí vem a decepção: pesquisando no Google, ficou claro que ele não é importado para nossas praias. Assim, para comprá-lo, só mesmo fazendo outra viagem à França.
Oscar Daudt
19/09/2012 |