
A Lagarde foi fundada em 1897 pelo legendário Capitán Pereira, herói da conquista da Patagônia, ao retornar da campanha. Em 1968, um descendente do Capitán, sem herdeiros, vendeu a vinícola para a tradicional família Pescarmona, mas apaixonado que era pelo empreendimento exigiu, como condição, que ele pudesse continuar dirigindo a bodega até sua morte. E assim foi...
Hoje em dia, a Lagarde é dirigida por duas jovens irmãs: Sofia, na diretoria técnica, e Lucila, na diretoria comercial. E foi esta última que esteve no Rio de Janeiro para apresentar seus vinhos aos cariocas. Não muitos, pois apenas um micro-grupo desfrutou dos excelentes vinhos e da encantadora companhia de Lucila: mais precisamente, apenas Célio Alzer e eu! Azar daqueles que não compareceram, pois pudemos ter as atenções quase exclusivas da bela representante e nem precisamos brigar pelos vinhos.
O almoço, oferecido pela importadora Devinum ocorreu no Giuseppe Grill, no Leblon, onde tivemos a oportunidade de confirmar a vocação harmoniosa dos vinhos de Mendoza para acompanhar belíssimas carnes.
A Lagarde produz atualmente 1,2 milhões de garrafas ao ano, exportando a metade delas, principalmente para os Estados Unidos e o Brasil, segundo mais importante destino de suas vendas externas.

Sémillon 1900 e quanto?!? |
O branco mais antigo que já bebi em minha vida foi um improvável vinho dessa vinícola: trata-se de um Lagarde Sémillon 1942(!) (foto à direita).
Eu explico essa história inacreditável: há alguns anos, foi descoberto, esquecido em um canto, um tonel de 1800 litros dessa raridade. O vinho estava vivíssimo e a Lagarde optou por engarrafá-lo. As poucas garrafas produzidas foram, inicialmente, colocadas em comercialização, mas logo a bodega voltou atrás e suspendeu a venda. Atualmente, as remanescentes estão disponíveis apenas para quem visita a vinícola e pede, específicamente, pelo vinho, que não fica em exposição.
Mas não espere, é claro, um daqueles "dá-me dos" a que estamos acostumados em Buenos Aires. Há 2 anos, esse vinho custava por volta de 400 pesos (ou cerca de 200 reais). E nem perguntei quanto custa atualmente. Mesmo assim, pelo insólito daquele que é considerado como o branco mais antigo da América Latina, não deixe de comprá-lo quando visitar a Lagarde. E de me convidar para compartilhar!
Quando o provei, em 2009, o vinho apresentava toques oxidados acompanhados de aromas de abacaxi e nozes, com uma boca intensa e condimentada. Um espetáculo! Claro que eu imaginei que um convite da Lagarde incluiria uma prova desse Sémillon tão especial, mas restou-me apenas a frustração de uma expectativa não atendida. Felizmente, Lucila, prometeu - e assinou embaixo - que na próxima visita ao Rio irá trazer uma dessas preciosas garrafas para apresentar a quem ainda não conhece e matar as saudades de quem já a provou.
Quando Lucila me perguntou quais os vinhos que eu normalmente bebia, respondi: "Brancos!", o que certamente não seria a resposta esperada por quem vem da terra dos Malbecs. Mas logo no primeiro vinho, vi que, afinal, eu não estava assim tão fora de órbita: tratava-se do Lagarde Viognier 2010, vinho maravilhoso, elegante, cremoso, com toques de canela e agradável acidez, que fez bonito ao acompanhar um carpaccio de polvo e vieiras grelhadas. E a 45 reais para o consumidor, está numa faixa de preços que não costuma entregar tanta qualidade quanto ele.
Mas impressionante mesmo foi o Lagarde Primeras Viñas Malbec 2009. Seu nome deriva do fato de ser elaborado com vinhas muito, muito antigas, das primeiras a serem plantadas na vinícola. Em sua edição 2008, era de um único vinhedo plantado em 1906! Mas nesta edição 2009, o vinho remoçou um pouquinho e fez um corte do vinhedo de 1906 com outro de 1930! É admirável o patrimônio vitícola da Lagarde! Com muita fruta, principalmente ameixas pretas, toques terrosos, suculento, fresco e com uma estrutura tânica adocicada. Show de bola! A restrição é o preço: em Buenos Aires, esse vinho custa o equivalente a 90 reais; por aqui, cerca de 140 reais. Como estamos juntos no Mercosul, não há nem imposto para justificar a diferença...
Oscar Daudt
03/08/2012 |