
Fica na Borgonha? Fica no Loire? Fica em Bordeaux? Nada disso, a Routhier & Darricarrère está mesmo é localizada na Campanha Gaúcha, a promissora região onde novas vinícolas nascem feito coelhos, cheias de ideias, juventude e sonhos. Com o nome mais complicado da vinicultura brasileira, impossível de se escrever sem cometer um erro, a ReD - como é oportunamente abreviada - é gaúcha, mas com fortes laços franceses.
Os dois irmãos Darricarrère, emigraram há muito tempo para o Uruguai, onde iniciaram uma importante plantação de laranjas. Mais recentemente, adquiriram uma fazenda em Rosário do Sul, onde plantaram bergamotas - que é o estranho nome que os gaúchos dão à tangerina - e em sociedade com seu importador canadense, o Routhier, decidiram cultivar uvas e criar uma vinícola de inspiração gaulesa. Foram plantadas apenas as clássicas variedades daquele país - Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Merlot. O jovem herdeiro Anthony Darricarrère (foto à esquerda) havia recentemente se formado em enologia e estagiado no Napa Valley, com Robert Mondavi, e assumiu as rédeas da vitivinicultura na nova casa.
Respeitando as origens da família, a escola do enólogo é legitimamente francesa, apesar de seu estágio californiano, buscando trazer o que de melhor as técnicas bordalesas têm a ensinar. Conta Anthony: "Na ReD, nós só utilizamos o carvalho francês e a elegância discreta de suas barricas!"
A Confraria Carioca está não apenas vendendo os vinhos da ReD, como passou a ser distribuidora dos mesmos para os cariocas, restaurantes e outras lojas inclusive. Para uma vinícola nova e pequena, este é um passo importante para se firmar no cenário nacional. E esta semana estive por lá, quando o enólogo Anthony apresentou-me a sua linha de vinhos que conta, atualmente com apenas 3 rótulos.
O primeiro deles era um branco - ainda nem etiquetado e portanto sem foto - Província de São Pedro Chardonnay 2011, com aromas de frutas maduras, boa acidez, excelente corpo e permanência respeitável. Metade do vinho estagia em carvalho por 12 meses, enquanto a outra espera em tanques de aço, resultando em uma elegante integração da madeira que não se sobrepõe à deliciosa fruta. Contrariando a expectativa usual de que vinhos brancos são mais baratos, este é o exemplar mais caro da vinícola: 79 reais. Anthony tentou me explicar que utiliza apenas carvalho dos bosques de Vosges, o mais apreciado para o estágio de vinhos brancos e que isso, é claro, tem um custo. O vinho é caro, mas eu gostei muito e o compraria, embora a contragosto, por este preço.
Em seguida veio o ReD Cabernet Sauvignon / Merlot, um corte de safras com um fortíssimo apelo aos jovens: o rótulo é moderno, descontraído ("se beber, vá de carona"), onde se destaca a imagem de uma Kombi vermelha. A própria caixa de embalagem dos vinhos tem o formato dessa mesma Kombi. O contra-rótulo explica a presença do insólito furgão, contando a história de uma viagem pelas praias brasileiras. Combinando com o estilo aventureiro da garrafa, o vinho é jovem, macio, frutado, "mas sem perder a complexidade aportada por 6 meses de carvalho de 2º uso em 40% do vinho", explica Anthony. Corte de Cabernet Sauvignon e Merlot, ainda traz uma pequena temperadinha de Tannat - só 2% - que a vinícola começa agora a experimentar. E a boa notícia é o preço: 35 reais para o consumidor final, 24 reais para as pessoas jurídicas. Um bom negócio!
O terceiro vinho, Província de São Pedro Cabernet Sauvignon 2008, é um varietal que estagia em barricas de carvalho, para se tornar um belíssimo - que os franceses não me leiam! - Bordeaux de bombachas: complexo, aveludado e de boa intensidade, com aromas de frutas vermelhas e elegantes toques amadeirados. Não me lembro exatamente do preço, mas era algo assim como 50 e picos reais.
Oscar Daudt
23/09/2012 |