
Em 1999. o grupo Moët & Chandon decidiu apostar no terroir de Mendoza ao inaugurar sua primeira vinícola fora da França: a Terrazas de los Andes. O local escolhido foi uma antiga bodega situada em Luján de Cuyo, que pertencia à família Arizu, em frente ao majestoso Cordón del Plata, uma série de cumes com altitudes que variam de 4.000 a 6.000 metros.
À época, o projeto estava sob a coordenação do enólogo Hervé Birnie-Scott, que posteriormente foi comandar as caves da Moët & Chandon, em Champagne, e em seguida, transferiu-se para Toro, na Espanha, onde foi o responsável pelas Bodegas Numanthia. Mas, como o bom filho à casa torna, Hervé, em 2009, decidiu voltar às suas origens e, desde então, novamente é o chef de cave da Terrazas.
E foi o próprio Hervé que veio ao Rio de Janeiro para apresentar seus vinhos aos cariocas em um requintado almoço realizado no restaurante Térèze, em Santa Tereza. O enólogo explicou que a elevação crescente, à medida em que os vinhedos escalam a cordilheira, permitiram à Terrazas determinar a altitude ideal para cada uma das variedades. Assim, a Syrah fica mais embaixo, a 800 metros, seguida pela Cabernet Sauvignon, a 1000m, pela Malbec, a 1100m e dominando todas as demais, a Chardonnay é plantada a 1200m. E o resultado dessa metódica determinação nós tivemos a chance de conferir.
O primeiro vinho, no entanto, era proveniente de outra província e de outras altitudes: o Terrazas Reserva Torrontés 2010 é elaborado com uvas de Salta, plantadas a impressionantes 1800m. Eu, já esgotado das bombas aromáticas com que essa casta costuma castigar nossas narinas, fiquei encantado com sua elegância e sutileza, com um frescor invejável. Foi o vinho ideal para enfrentar um implacável sol, que esqueceu que era de inverno e teimava em invadir o salão e bronzear os convidados.
Outro destaque do almoço foi o Terrazas Single Vineyard Las Compuertas 2008, de um vinhedo plantado em 1929, em pé-franco, a quase 1100m de altitude. Na taça, os aromas de ameixa, especiarias e chocolate prenunciavam uma boca sedosa e vibrante, que fez o par perfeito com um delicioso magret de pato, que o chef Damien Montecer fez acompanhar por um "espaguete" de pupunha e molho de açaí. Difícil era dizer se o prato alavancava o vinho ou se o vinho alavancava o prato.
Mas o destaque da tarde ainda estava por vir.
Quando o mítico Château Cheval Blanc, de Saint-Émilion, decidiu desenvolver um vinho na América do Sul, escolheu a Terrazas como parceira para desenvolver o que eles identificam como um puro sangue argentino de origem francesa, o primeiro Grand Cru do "bout du monde". Tratava-se do Cheval des Andes 2007, assinado por Pierre Lurton.
Degustei o vinho com todo o respeito, como se fosse o Miles bebendo um Cheval Blanc 1961, no Sideways. Prová-lo já era a própria comemoração. Um complicado corte de Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot; se mais castas houvessem, mais castas teria... Suculento, fresco, elegante, preciso, com excelente estrutura tânica e um belíssimo nariz que reflete a perfeita integração com o estágio em barricas francesas. Duradouro, tanto na boca, quanto na adega...
Oscar Daudt
28/07/2012 |