
A Vinícola Valmarino, localizada em Pinto Bandeira é uma empresa da família Salton. Mas, muita calma, ela não tem nada a ver com a gigante de Tuiuty, muito embora ambas tenham o mesmo antepassado, o imigrante italiano Antonio Domênico Salton que chegou ao Brasil em 1878. A chegada de Antonio, que deveria ser um momento de celebração da esperança, foi marcada por uma tragédia: ao chegar em São Paulo, com a mulher e a filha, esta foi roubada definitavamente dos pais, o que causou profunda depressão em Dona Rosa, que veio a morrer logo em seguida. Um triste começo para uma história que veio a ser de tanto sucesso. Mas Antonio deu a volta por cima, casou-se de novo e teve nada menos do que outros 10 filhos!
A Valmarino foi fundada em 1997 por um dos netos do patriarca Antonio, Orval Salton, enólogo com formação em Mendoza e que alimentava o sonho de ter sua própria vinícola, para a produção de vinhos de qualidade e em pequenas quantidades. Em sociedade com seus 3 filhos, Orval batizou a nova vinícola com um nome que homenageia a bela Cison de Valmarino, no Treviso, terra de origem do ilustre antepassado (foto à direita).

O enólogo da vinícola é um dos 3 filhos de Orval, Marco Antônio Salton. A Valmarino, localizada em Pinto Bandeira, Bento Gonçalves, possui 16ha de vinhedos e uma pequena produção de 50 mil litros de espumantes e de 100 mil litros de vinho. Destes, cerca de 70% vão para as embalagens bag-in-box e apenas 30 mil litros são engarrafados.
Na carteira da empresa existem os brancos (Chardonnay e Malvasia Branca), tintos (Cabernet, Merlot, Tannat) e espumantes (Brut, Rosé, Moscatel, Prosecco e também o espumante da Ovelha Negra, a badalada champanharia da rua Bambina).
Mas é na categoria Reserva que estão os mais importantes rótulos por lá produzidos: o Cabernet Franc XIII - vinho soberbo que tive a oportunidade de provar na Serra Gaúcha - e este que é o objeto específico da matéria.
Quando estive em Bento Gonçalves, há cerca de dois meses, aproveitei para comprar alguns vinhos que não conhecia. Um deles foi exatamente o Valmarino Reserva de Família, da festejada safra de 2005, considerada uma das melhores, se não a melhor, na Serra Gaúcha. Este vinho me foi recomendado pelo dono da loja de vinhos, que estranhamente fica dentro de uma churrascaria! Coisas de gaúcho... No rótulo, há estampado o nome de Orval Salton, numa homenagem dos 3 irmãos ao pai já falecido.
Curioso que estava, saquei a rolha há poucos dias e tive a grata surpresa de encontrar um belíssimo vinho. O corte é de 40% Cabernet Sauvignon, 30% Cabernet Franc, 15% Merlot e 15% Tannat e após um período de 9 meses em carvalho francês e americano, foi engarrafado na metade de 2006. O lançamento, no entanto, ocorreu apenas em dezembro de 2010, após um longo descanso em garrafa.
Como resultado desse processo todo, temos um vinho com um leve sintoma de evolução, apresentando uma aura ligeiramente alaranjada. O delicioso nariz apresenta notas de terra, ameixa preta e chocolate. A boca, de grande intensidade, é uma festa! Explosão de frutas, frescor, estrutura tânica bem arredondada, suculência e muita harmonia, apesar dos elevado teor alcoólico de 14%. O estilo foge um pouco do padrão da Serra Gaúcha - que normalmente valoriza mais os vinhos gastronômicos - sendo poderoso, carnudo, próprio para uma tranquila meditação, mirando de minha varanda o Cristo Redentor, nessas temperaturas amenas do inverno carioca. Já está no ponto certo para beber e eu não acho que valha a pena guardá-lo por muito tempo mais.
Se você aprecia vinhos desse estilo, vale muito a pena experimentá-lo.
Não lembro quanto paguei pelo vinho, pois a compra foi feita na corrida, antes de eu embarcar para Porto Alegre e, com a pressa, o gaúcho da churrascaria aproveitou para não me dar nota fiscal. Mas no site da vinícola, a garrafa custa 68 reais, o que não é exatamente uma barganha, mas sim um preço honesto.
Porém, se você mora no Rio de Janeiro, a melhor opção é comprar com os representantes Giorgio e Ricardo Biban (21-2673-4218), que vendem pelo mesmo preço do site e não cobram o frete para o Grande Rio.
Oscar Daudt
23/08/2012 |