
O melhor sommelier do Brasil |
Durante este fim de semana, na véspera das eleições municipais, a ABS promoveu a escolha do melhor sommelier que atua nas mesas brasileiras. Na sexta-feira, dia 05/outubro, aconteceu a prova escrita, simultaneamente aplicada em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. E os três melhores classificados foram convocados para a prova prática, no dia seguinte, realizada no Hotel Pestana, no Rio de Janeiro.
Além da honraria de ser escolhido como o melhor profissional brasileiro, o concurso tem como atrativo extra a classificação automática dos dois primeiros classificados para participar, como representantes brasileiros, do Concurso Panamericano de Sommeliers, que será realizado no próximo dia 21 de outubro, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Além disso, o campeão será indicado para participar, representando o Brasil, no Concurso Mundial de Sommeliers, que terá lugar no Japão, em 2013. Não era pouca coisa em jogo e o nervosismo dos três concorrentes era plenamente justificado.
As provas a que os candidatos foram submetidos eram de um grau de dificuldade assustador. No entanto, o nível dos profissionais era muito alto e todos eles se sairam razoavelmente bem. A sequência era a seguinte:
provar, descrever e identificar 2 vinhos, um branco e um tinto; o branco era um Sauvignon argentino e apenas Diego chegou perto, identificando-o como um Sauvignon chileno; o tinto era um corte mendocino de Malbec, Cabernet Franc e Tannat, e dessa vez foi Thiago Duarte que quase chegou à perfeição, identificando-o como um Malbec varietal argentino.
identificar 5 bebidas servidas em taças pretas: nenhum dos três gabaritou, mas foi interessante observar que todos eles identificaram uma cachaça Bodocó, de Betim-MG, como conhaque;
atender a uma mesa de restaurante, oferecendo água, espumante de cortesia, sugerindo vinhos para harmonizar com as díspares escolhas dos clientes, fazer a decantação e o serviço de um vinho tinto; como se isso não fosse pouco e na tentativa de distrair os concorrentes, Danio, feito um Torquemada, crivava-os de perguntas bem complicadas; até eu ficava nervoso;
ao final, um teste surpresa: os sommeliers deveriam aerar um vinho e em seguida servir 10 taças, com a mesma quantidade, sem poder voltar atrás e sem sobrar nada no decanter; para minha surpresa, todos os 3 se saíram muito bem.
O terceiro lugar coube a Thiago Roberto Duarte dos Santos, sommelier do Porcão Rio's. O mais jovem e o menos experiente dos três, estava visivelmente nervoso, cauteloso, chegando até mesmo a estourar os 10 minutos reservados à identificação dos vinhos e das 5 bebidas. É, no entanto, um profissional dedicado e estudioso que, no ano passado, ganhou o concurso promovido pelo Sul da França, conquistando uma viagem de estudos a Limoux. É fácil prever que, com mais alguns anos, ele será um dos mais fortes concorrentes nos concursos brasileiros e mundiais.
Como vice-campeão posicionou-se Tiago Locatelli, um gaúcho de Constantina (nem eu mesmo sei onde fica) que, há 13 anos está radicado em São Paulo, onde responde pela adega do Varanda Grill, tendo sido já por duas vezes escolhido pela Veja como o melhor sommelier da capital paulista. Tecnicamente irrepreensível, Tiago deu um show na prova, exibindo seus profundos conhecimentos técnicos. Mas, acredito que por nervosismo ou timidez, seu serviço foi extremamente formal, impessoal - em outras palavras, gaúcho. Uma temporada no Rio de Janeiro não lhe faria mal algum...
O grande campeão foi Diego Arrebola (foto acima), um consultor de Campinas, São Paulo. Com muita segurança, Diego estava à vontade, impressionando com sua desenvoltura e domínio sobre o assunto. Bem preparado, com um roteiro previamente estudado, Diego tomou conta do salão. A cada pergunta, ele nunca se limitava a responder ao solicitado, exibindo seu cabedal com exuberância. Quando o silêncio se fazia, Diego logo vinha com um assunto novo - por certo, bem treinado - sem nunca deixar a peteca cair. Um primeiro lugar para lá de merecido!
Dentre as diversas provas aplicadas aos candidatos, havia uma especialmente difícil: reconhecer 5 "bebidas" (poderia até ser Coca-Cola) servidas em taças pretas. O primeiro concorrente fez a prova normalmente, mas quando o segundo perguntou se poderia cuspir as bebidas, Danio distraidamente improvisou um baldinho... transparente! Ora, é claro que isso ofereceu uma vantagem injusta ao concorrente que poderia se certificar da cor da bebida, exatamente aquilo que se pretendia esconder. Nem posso afirmar que ele tenha feito isso, mas que a vantagem estava lá, estava... E o terceiro candidato nem precisou pedir; a própria mesa ofereceu a ele a possibilidade de cuspir.
Só para exemplificar, o primeiro candidato identificou uma das bebidas como Campari. É óbvio que, se ele tivesse tido a chance de cuspir, não teria cometido esse erro. Mas com certeza esse deslize não teve influência no resultado final, pois ficou claro a todos os presentes que ele foi mais do que justo. Mas em um concurso de nível nacional, que classifica concorrentes para as etapas pan-americana e mundial, é recomendável não incorrer em tal erro.
Oscar Daudt
07/10/2012 |