
Tudo o que o dinheiro pode comprar |
Carlos Dias é um português que emigrou para a Suiça e, em Genebra, surpreendeu a fechadíssima indústria local criando sua própria marca de relógios, a Roger Dubuis, que foi um inacreditável sucesso. Suas criações eram vendidas a preços de 20 mil até 250 mil dólares! Eu nem sabia que existiam relógios por esse valor...
Desnecessário dizer que ele enriqueceu até o limite do inimaginável. Em 2008, sua empresa foi adquirida pelo gigante grupo Richemont (leia-se: Cartier, Montblanc, Vacheron e muitas mais). E o que fazer com tanto dinheiro assim? A decisão do empresário foi a de investir em seu próprio país. E uma das indústrias que escolheu foi a vitivinícola, criando a empresa IdealDrinks com o objetivo de elaborar os melhores vinhos de Portugal. Bem ambicioso, não?
Mas quando se tem dinheiro sem limites, Carlos pode apostar no que há de melhor para atingir seus objetivos. Adquiriu, de início, três magníficas quintas: Quinta da Pedra, no Minho; Paço de Palmeira, no Dão; e Colinas de São Lourenço, na Bairrada. O que chama a atenção, de imediato, é a escolha de três tradicionais regiões portuguesas, sem cair na tentação de investir nas figurinhas carimbadas do Douro e do Alentejo. Será uma briga bonita!
E contratou para dirigir o empreendimento, o respeitado Carlos Lucas, nosso muito conhecido enólogo responsável pelo projeto da Dão Sul, no Vale do São Francisco, e que, em 2007, foi escolhido como o Enólogo do Ano em Portugal.
Design exclusivo, vinhos sedutores |
Com sua experiência como designer de cobiçados relógios, é o próprio Carlos Dias que projeta tudo por lá. Saem de sua prancheta os maravilhosos rótulos, as magníficas e originais garrafas e até mesmo - sem ser arquiteto - a sede da Quinta da Pedra, que impressiona pelas linhas arrojadas e pela beleza plástica.
Mas é do lado de dentro das garrafas que o encantamento reside. Logo de início, o Espumante Colinas Reserva Brut 2007, com corte tipicamente champanhês e 36 meses de autólise, surpreendia com sua elegância herdada de famosa região francesa.
Quando há pelo menos um vinho branco em almoços assim, eu já fico satisfeito. E, portanto, fiquei em estado de graça com os 3 rótulos servidos - todos eles do Minho - não só pela quantidade, mas principalmente pela excepcional qualidade. O Quinta da Pedra Alvarinho 2010 - com a garrafa mais bonita que já apareceu nos últimos anos - fermenta e estagia parte em inox, parte em barricas com pedigree, adquiridas do final da linha do Château d'Yquem.
Seguiram-se dois Loureiros, o Royal Palmeira Branco 2009, sem madeira, e o Eminência Branco 2010, dividido entre o inox e as barricas. Eu fiquei imediatamente apaixonado pelo primeiro, com sua exuberante mineralidade, seus toques cítricos e um boca de invejável estrutura. Show de bola!
Veio, então, aquele que parecia ser o ponto alto do almoço e o xodó do enólogo: o bairradino Principal Tête de Cuvée Rosé 2009, um 100% Pinot Noir. A cor é linda, um rosa com nuances de casca de cebola, com aromas de alta complexidade, abusando de toques minerais e florais, e uma boca elegante, cremosa e com deliciosa acidez. Carlos Lucas não se cansava de repetir a façanha desse vinho em recente prova de rosés da revista italiana Spirito di Vino, em que concorreram 22 exemplares, dentre eles monstros sagrados como Jolivet, Perrin, Guigal e Masciarelli, e seu filho dileto arrebatou o primeiro lugar, disparado, dentre todos, com 92 pontos - e eu acrescento, sorrateiramente, que dentre todos era também o mais caro, a 25 euros. Saímos todos com um exemplar da revista embaixo do braço.
Para finalizar, dois tintos de mesmo corte - Touriga Nacional, Cabernet e Merlot - mas com preços muito diferentes: o Colinas Tinto 2007 e o poderoso Principal Reserva Tinto 2007.
É claro que, quando se está acostumado a vender relógios por somas estratosféricas, vinhos ao preço de 150 reais para o consumidor final devem parecer apenas um trocadinho. Das 7 garrafas apresentadas durante o almoço no restaurante Vieira Souto, 6 delas tinham etiquetas entre 128 e 150 reais e apenas um rótulo destacava-se do grupo com seu atraente preço de 54 reais. Escusado dizer que este foi escolhido como campeão do custo x benefício, decantado por todos os presentes.
Questionei, principalmente, o especialíssimo rosé, ao preço de 150 reais. Como vendê-lo? Rosés já são difíceis de comercializar aqui no Brasil; um rosé português, então, logo nos remete ao mal-afamado Mateus; e a esse preço!?! Certamente irá espantar os consumidores... O que, aliás, é uma pena.
No entanto, não só o diretor comercial, Eduardo Lopes (11-2061-8529), quanto o representante no Rio de Janeiro, João Luiz Manso (21-2287-1020), estão cheios de gás e prometem conquistar os apreciadores com base na qualidade dos vinhos. Segundo eles, basta provar apenas uma vez...
Oscar Daudt
27/11/2012 |