
O porte da Ste Michelle Wine States impressiona: o grupo é composto de 13 vinícolas em Washington e Oregon, 4 na Califórnia e 13 parceiras mundo afora. E as parcerias podem significar níveis diversos de relacionamentos, desde a simples importação dos vinhos para os Estados Unidos, passando pela elaboração conjunta de vinhos especiais e chegando até a sociedade em empreendimentos. E os parceiros englobam nomes de alta estirpe: Antinori, Nicholas Feuillatte, a chilena Haras de Pirque e até mesmo a gigante neo-zelandesa Villa Maria.
A filosofia da empresa é a de dar total liberdade técnica às subsidiárias, deixando que cada uma expresse as condições específicas de sua região e adote as praticas enológicas que melhor reflitam o caráter de cada uma delas. Para essa multiplicidade de vinícolas, eles cunharam o romântico nome de "colar de pérolas".
O almoço oferecido pela importadora Winebrands, no Gero, contou com a presença de Al Portney, o aguçado e entusiasmado vice-presidente da empresa, que veio divulgar os vinhos - e que vinhos! - de quatro de suas pérolas. Eu, impressionado com a abrangência da empresa, perguntei se eles eram o maior grupo vinícola americano. Al prontamente respondeu que eles eram apenas o 7º maior grupo, mas que eram, sim, os líderes no setor de vinhos premium. Nada mal!
O primeiro vinho oferecido foi o Eroica Riesling 2010 (R$142, consumidor final), uma parceria entre o Chateau Ste Michelle, de Washington, e a Dr. Loosen, um dos mais prestigiados produtores alemães de vinhos da casta Riesling. O nome do vinho homenageia a 3ª Sinfonia do maior dos compositores germânicos, Beethoven, e é o vinho branco mais assíduo na relação dos Top 100 da Wine Spectator, tendo já comparecido por 4 vezes na lista. Quando Al, distraidamente, contou que essa era a marca de Riesling mais vendida no mundo, houve um certo zum-zum-zum de incredulidade na mesa. Na minha cabeça, esse galardão deveria ser, de direito, reservado a uma marca alemã. Mas o americano confirmou sua afirmação, lembrando que, na Alemanha, há muitos produtores, mas todos pequenos. Curioso, perguntei se essa venda limitava-se ao gigantesco mercado americano, mas ele esclareceu que não, pois o vinho era vendido em mais de 100 países, incluindo... a Alemanha. Delicioso, cítrico, mineral, tinha, no entanto, um teor de açúcar perceptível que, para mim que não gosto de doçuras, incomodava um pouco, muito embora houvesse acidez de sobra para contrabalançar.
Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos o Erath Pinot Noir 2009 (R$126), vinho elaborado no Oregon, sendo servido, com certeza iria apostar que se tratava de um belo exemplar da Côte de Nuits, pois está bem distante do estilo dos Pinot Noir do Novo Mundo. A cor, um rubi bem transparente, era o prenúncio da elegância e da complexidade que enchiam a minha taça. No nariz, as frutas se misturavam com discretíssimos toques fumados e de cogumelos, e na boca, o delicioso frescor o tornava um vinho gastronômico por excelência. Acompanhou um Tartare de Atum e fez bonito! No contra-rótulo traz um curioso anagrama triplo: "Grapes from the EARTH, wines from the HEART... ERATH".
Voltando a Washington, um 100% Cabernet Sauvignon, o Columbia Crest H3 2009, cujo preço de R$98 o torna um campeão do custo x prazer. H3 significa Horse Heaven Hills (um estranhíssimo Colinas do Céu do Cavalo), que vem a ser a denominação (AVA) do vinho. Cor profunda e nariz sedutor, de frutas negras, condimentos e deliciosa baunilha emprestada por 18 meses de repouso em carvalho francês. Pela boca, o vinho dá um passeio interminável, deixando um frescor e uma maciez envoltas em vigoroso caráter frutado. Como disse o Al: "quality for value!"
Com um preço bem acima do meu bico - e do bico de muita gente, o Col Solare 2006 (R$458) é um corte cirúrgico de 72% Cabernet Sauvignon, 19% Merlot, 4% Cabernet Franc, 3% Petit Verdot e 2% Syrah que vem embalado em uma elegantíssima e discreta garrafa negra. Elaborado em Washington em parceria com a italiana Antinori, o vinho é assinado por Renzo Cotarella e Marcus Notaro e nasceu com a intenção de ser um Grand Cru de Columbia Valley, um vinho de Washington com alma toscana. Elaborado desde 1995, sua produção anual é pequena - pela régua americana - de apenas 100.000 garrafas. Vinho suntuoso, é tão escuro quanto a própria garrafa, e oferece um nariz com muita fruta, chocolate e canela. A boca é suculenta, densa, com taninos refinados, e o vinho fica girando por lá sem querer ir embora. Se não fosse pelo preço exótico, eu seria um fã incondicional.
Oscar Daudt
19/10/2012 |