
O melhor vinho da Austrália |
Não há discussão. O Penfolds Grange é unanimemente considerado como o melhor vinho australiano e aquele que ajudou a inserir aquele exótico país no mapa vinícola planetário.
Max Schubert, então um jovem enólogo trabalhando para a Penfolds, empreendeu uma viagem pela Europa para aprender a produção de Jerez, mas em uma fugida a Bordeaux encantou-se mesmo foi com os vinhos de mesa de longa guarda e, em 1951, elaborou a primeira safra do histórico Grange. Em 1952, aconteceu a primeira produção comercial do rótulo, mas seu desempenho não foi dos mais animadores. As avaliações negativas por parte da crítica e as vendas discretas, levaram à vinícola a decidir pela descontinuidade da produção em 1957. Mas Schubert, rebelde como todo o jovem, continuou a elaborar o vinho em segredo.
Então, em 1959, com a evolução das primeiras safras, o excepcional valor do Grange começou a ser revelado e a direção da vinícola pediu ao enólogo para recomeçar a produção que - ignoravam - nunca tinha sido interrompida. Inicialmente, o vinho era batizado como Grange Hermitage, mas a partir de 1989, atendendo a reclamações francesas, seu nome passou a ser, simplemente, Grange
Atualmente, o Grange é o grande ícone australiano e suas garrafas são disputadas a peso de cangurus no mercado secundário. Suas safras mais antigas chegam a atingir o preço de US$16.000/garrafa, enquanto a histórica produção inicial de 1951 gravita em torno da estonteante quantia de US$45.000!
Portanto, foi até com certa reverência que tivemos a oportunidade de degustar, esta semana, a edição 2007 do vinho, em um inesquecível jantar no Esplanada Grill.
As boas-vindas foram comandadas pelo Koonunga Hill Chardonnay 2010, que conforme nos explicou Tim Irwin, embaixador da marca Penfolds, vem paulatinamente mudando de perfil, passando de um vinho com forte presença de madeira para um caráter mais fresco, mais frutado e mais elegante. Um belo branco! O outro vinho da mesma linha foi o Koonunga Hill Shiraz 2010, com discreta madeira, muita fruta e textura aveludada.
Imaginem alguém questionar nomes de vinhos com seus produtores! Mas foi exatamente o que eu fiz quando chegou o Penfolds Bin 389, um corte de quantidades quase iguais de Cabernet e Shiraz. Eu argumentei que, para o consumidor, era muito difícil identificar vinhos por centenas. E dá-lhe 150, 620, 169, 311, 407 e muitas outras que não querem dizer absolutamente nada e apenas dificultam a compreensão. Tem até um 60A! Ainda bem que eu me controlei e não falei que isso mais parecia Jogo do Bicho. O que, aliás, seria muito injusto com o vinho, para mim o melhor da noite - depois do Grange, é claro!
Sem número, fica mais fácil lembrar que o vinho seguinte foi o Penfolds St. Henri Shiraz 2007, corpulento, mineral, condimentado e com muita fruta, que é um Shiraz puro-sangue!
E, finalmente, o tão esperado Penfolds Grange 2007 (que também é Bin 95, só que ninguém lembra disso). Esse vinho é, normalmente, um Shiraz com um tiquinho de Cabernet (de 1% a 4%), mas em alguns anos o Cabernet simplesmente desaparece. Tudo depende dos humores do enólogo e de São Pedro. É um vinho suntuoso que estagia por 21 meses em barricas de carvalho americano novo, mas tanta madeira assim nem se pronuncia muito nos complexos e sedutores aromas, que desembocam num paladar fresco, aveludado e cheio de frutas secas, justificando a fama que tem.
A partir de agora, os vinhos da Penfolds, que de há muito vinham sendo importados pela Mistral, passam a fazer parte, de forma exclusiva, da carteira da importadora Interfood. Eu fiquei curioso em saber por qual razão uma vinícola decide, de livre e expontânea vontade, deixar de fazer parte do mais prestigiado catálogo de vinhos importados no Brasil. Indaguei, então, a Carlos Rodrigues, vice-presidente da Treasury Wine Estates, a empresa proprietária da vinícola australiana, qual era o motivo da troca.
Disse-me Carlos que o Brasil passou a ser um dos mercados estratégicos para a Penfolds e a companhia gostaria de estar presente em todo o território nacional, com a sua linha completa de vinhos. "Com a Mistral, 80% de nossos vinhos eram vendidos em São Paulo, 15% no Rio de Janeiro e sobravam 5% para todo o resto do Brasil. Além disso, a importadora não queria trabalhar com todas as nossas linhas de vinho.", explicou-me ele.
E escolheram se mudar, de mala e cuia, para a Interfood. Tudo faz crer que fizeram a escolha certa, pois essa empresa consegue distribuir seus rótulos para os mais distantes recônditos brasileiros. Se você for a um restaurante em Xapuri, no Acre, muito provavelmente encontrará uma garrafa da Interfood lhe esperando.
Com a troca de importadoras, infelizmente, os consumidores terão de desembolsar mais notas de reais para comprar os mesmos vinhos. Consultando o catálogo da Mistral de 2011/2012, impresso antes da troca, constata-se que os vinhos custavam bem menos por lá.
E mais, como a antiga importadora ainda tem esses vinhos em estoque, passou a vendê-los ainda mais baratos, talvez numa tentativa de se livrar dos mesmos o mais rápido possível.
Meu conselho é: enquanto durarem os estoques da Mistral ou até que a Interfood se apiede dos consumidores e decida baixar seus preços, o melhor a fazer é mesmo continuar comprando na Mistral. Mas aja rápido, antes que acabe...
Na tabela a seguir, apresento os preços de 3 vinhos que pude comparar entre as duas empresas: na primeira coluna, o preço (e a safra) da Interfood; na segunda, o preço que a Mistral costumava cobrar antes da troca; e na terceira, os novos preços praticados pela Mistral atualmente, onde se pode conferir a tremenda vantagem que se apresenta:

Oscar Daudt
30/11/2012 |