
Um minuto após me ser apresentado, Gabriel Pisano disparou: "Eu faço o melhor Viognier do Uruguai. E também o melhor Cabernet Franc, o melhor Sangiovese, o melhor..." Mas diante do meu espanto com tanta imodéstia, ele emendou: "Eu sou o único a vinificar essas castas por lá!".
E assim, brincalhão e apaixonado pelo que faz, é Gabriel, quarta geração da família Pisano - proprietária da bodega de mesmo nome - e parte da equipe técnica da casa. Após formar-se em Enologia, viajou pelo mundo, trabalhando em vinícolas da África do Sul, do Chile, da Espanha e dos Estados Unidos.
De volta ao Uruguai, com a inquietude dos jovens e desejando dar asas à imaginação, livre dos grilhões que determinam as rígidas normas da Viña Pisano, decidiu abrir uma bodega para chamar de sua: a Viña Progreso. Abrir, neste caso, é força de expressão, pois Gabriel segue o modelo de muitos enólogos modernos: não tem vinhedos, não tem adega, não tem sede, mas apenas uma cabeça cheia de ideias e revoluções. E uma das mais importantes é a revolução das castas, fazendo vinhos de variedades estranhas ao cenário de nosso pequeno vizinho. Com a compreensível exceção da Tannat, visto que, afinal, ele é uruguaio.
A Importadora Vinci convidou para um almoço de apresentação de seus vinhos, realizado no novíssimo e muito bonito restaurante argentino Tragga, de Botafogo. Eu pensei cá comigo: não vai dar certo, harmonizar vinhos uruguaios com a gastronomia dos argentinos. Os dois não se bicam... Mas eu estava errado e os vinhos de Gabriel nadaram de braçada acompanhando as empanadas criollas e os bifes de ancho.
Todos os rótulos da linha Reserva custam a mesma coisa, sejam brancos, rosés ou tintos: R$57 reais. E assim configura-se o sempre tão procurado BBB: bons, baratos e... bonitos, já que seus rótulos são belos desenhos oníricos que bem combinam com a personalidade sonhadora do enólogo. O Viña Progreso Viognier Reserva 2012 era um chuá: fresquíssimo, discretamente aromático e com muita elegância, é um vinho para harmonizar com o nosso verão.
Casta raramente - ou talvez nunca - encontrada por aqui, o Viña Progreso Petite Syrah Reserva 2008 foi uma boa surpresa. Esta uva é, na verdade, a francesa Durif, virtualmente extinta em sua terra natal, mas fazendo grande sucesso na Califórnia com seu apelido. E agora, também, no Uruguai, com esse vinho carnudo, apimentado e cheio de fruta!
Também inesperado foi o Viña Progreso Cabernet Franc Reserva 2008, profundo e com uma elegância digna de Punta del Este.
Quando Gabriel trabalhou no Priorato, aprendeu uma técnica que os produtores lá utilizam para a vinificação de pequenos lotes. A receita é: pega-se uma barrica, retira-se um das tampas laterais e faz-se a fermentação por ali mesmo.
Em suas experimentações em terras cisplatinas, o enólogo pode constatar que o resultado dessa vinificação, que ocorre todo o tempo nessa barrica aberta, é um vinho mais equilibrado e mais macio. São utilizadas unicamente leveduras naturais e as uvas são prensadas manualmente, num processo prá lá de artesanal. Após a fermentação, o vinho é temporariamente retirado da barrica, enquanto Gabriel, com suas recém-adquiridas habilidades de tanoeiro, refaz o recipiente, recolocando a tampa, para em seguida trazer o vinho de volta ao local onde nasceu, permanecendo por mais 6 meses, sentindo-se em casa.
Dessa trabalheira toda, surge o Viña Progreso Sueños de Elisa Open Barrel Tannat 2011, um vinhaço meticulosamente elaborado, com uma perfeita integração de fruta e madeira, sedutor e incrivelmente aveludado para um Tannat tão novinho assim. Sensacional e imperdível!
Infelizmente, como a Vinci começa a importá-lo só daqui a um mês, ainda não tenho o preço para informar. Mas vamos torcer para seja "un sueño" e não "una pesadilla"...
Oscar Daudt
01/12/2012 |