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Tempos difíceis
A bela Quinta de La Rosa, localizada no Cima Corgo, foi um presente de batismo, em 1906, para a avó de Sophia Bergqvist, atual proprietária da vinícola. Até 1988, a propriedade apenas vendia suas uvas para a Symington e foi nesse ano que seu pai, Tim Bergqvist, decidiu iniciar, ele mesmo, a produção de Vinhos do Porto. Mas a ideia de Sophia era elaborar vinhos de mesa, o que naquela época era quase uma excentricidade e contava-se nos dedos da mão as empresas que apostavam nesse mercado: era a Sogrape e mais duas ou três.

Coincidiu que, naquele mesmo momento, David Baverstock, o famoso enólogo australiano que respondia pelos vinhos da Symington, alimentava o mesmo sonho de Sophia, mas era tolhido por sua empresa que não queria apostar nos vinhos que hoje fazem o sucesso maior da região. Decisão errada! E David passou a assinar os vinhos de mesa da Quinta de La Rosa.

As histórias desse tempo, relatadas pela cativante Sophia, revelam um período difícil: não havia dinheiro para engarrafar toda a safra e a metade teve de ser vendida a granel. Já pensaram comprar um Quinta de La Rosa, assinado por David, a preço de banana? Pena que eu não estava por lá. A outra metade foi engarrafada e rotulada a mão, usando goma arábica, num processo em que cada rótulo ficava localizado em uma altura diferente. Os vinhos alinhados em uma prateleira deviam ser um desacerto!

Mesmo assim, Sophia, inglesa de nascimento, enviou algumas amostras para restaurantes e lojas londrinas que imediatamente compraram toda a produção engarrafada. A insistente proprietária, ao constatar o sucesso dos vinhos, bem que tentou recomprar a produção vendida a granel, mas recebeu um sonoro NÃO como resposta, acompanhado do irônico comentário de que ela havia feito o pior negócio de sua vida.

Douro Girl
Hoje em dia, a situação é bem diferente. O enólogo mudou e desde 2002, o cultuado Jorge Moreira, escolhido pela Revista dos Vinhos como o Enólogo do Ano de 2009 e proprietário da Quinta da Poeira, assina os vinhos da casa, numa parceria que tem o reconhecimento dos críticos e... dos consumidores, que é o que importa.

Apesar do sucesso internacional, a história desses vinhos aqui no Brasil não é das mais entusiasmantes. Inicialmente, eram importados pela Expand que com seu interminável catálogo não conseguia dar-lhes a visibilidade que mereciam e os vinhos não deslanchavam. Logo depois, com a derrocada da outrora imbatível importadora, a Quinta de La Rosa saiu de nosso mercado e só aqueles que viajavam a Portugal tinham a oportunidade de conhecê-los. Foi o que aconteceu comigo, há alguns anos, em um restaurante em Braga, quando fui apresentado ao delicioso Reserva. Foi um caso de amor ao primeiro gole e, desde então, não há viagem que eu faça à Terrinha que não volte com pelo menos uma garrafa na bagagem.

Pois agora os vinhos retornaram a nosso mercado pelos containers da Importadora Ravin, muito embora ainda não estejam na boca dos enófilos. Sophia reconheceu que esse desconhecimento é devido a ela mesma, comparando sua quase ausência em nossas terras com o trabalho intenso que os Douro Boys realizam por aqui. Eu, já bem animado pelos vinhos, sugeri a Sophia que criasse um grupo só para ela e até cunhei um bordão: "Douro Girl, a que vale por 5!". Acho que emplaca...

Os vinhos
No almoço oferecido pela Ravin, na Cavist Ipanema, foram seis os vinhos apresentados. E mais um azeite... O primeiro vinho foi o douROSA Branco 2010. Pense em uma casta branca do Douro e ela está no corte: Gouveio, Rabigato, Malvasia, Viosinho, Códega do Larinho, dentre outras! O que resulta é um vinho de boa intensidade, com aromas marcadamente minerais, delicioso. Mas Sophia, querendo me botar água na boca, disse que o melhor era o Quinta de La Rosa Branco. Pura ato de sadismo, pois esse vinho nem é trazido pela Ravin e muito menos foi servido no almoço.

O vinho seguinte foi o douROSA Tinto 2006, que chegou às taças zombando de seu idade: fresco, macio, frutado, jovial, era impossível acreditar que já tivesse 6 anos de vida. Seguimos com o La Rosa Tinto 2008, um vinho suculento, com toques de ameixa e bela estrutura tânica, que deixava perceber sua madeira na forma sutil de aromas fumados.

Quem vê os vinhos da Quinta de La Rosa pela primeira vez, encanta-se com a beleza e a elegância de seus rótulos. E foi por isso que, quando chegou o Passagem 2006, eu quase derrubei as taças de susto: um desenho primário, improvisado, me remeteu aos heróicos tempos em que os rótulos eram colados com goma arábica. Claro que eu não resisti e comentei sobre meu desagrado com a delicada Sophia. Felizmente, ela também pensava assim e me mostrou que, na safra seguinte, o desenho já havia sido mudado para o estilo usual da casa. Esse vinho é resultado de uma parceria da Quinta da Poeira com a Quinta de La Rosa e provém de um vinhedo adquirido no Douro Superior, estrategicamente posicionado em frente à Quinta do Vale Meão. Elaborado com as tradicionais Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, é um vinho carnudo, frutado, demorado que traz às taças as terras áridas e ensolaradas do Douro.

E, finalmente, chegou o meu bem-amado Quinta de La Rosa Reserva 2007, que só de ver a peninha no rótulo já me faz salivar. Corte de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca e Tinta Roriz, nem mostra os 15 meses que repousa em carvalho francês, trazendo somente elegância, frescor, complexidade, aromas sedutores e persistência. E não sou eu só que me apaixonei por ele; os grandes pontuadores das revistas internacionais, unanimemente, o premiam com notas acima de 90. Pena que o preço seja proibitivo!

Ainda teve um Porto Tawny 10 Anos para acompanhar a sobremesa. Com uma garrafa de 500ml, diferentona, chama a atenção pelo charme e elegância. Mas a essa altura do campeonato, eu já havia fechado a barraca.

Oscar Daudt
09/10/2012
Os vinhos (e o azeite)
douROSA Branco 2010
Preço (PF): R$76
douROSA Tinto 2006
Preço (PF): R$76
La Rosa Tinto 2008
Preço (PF): R$108
Passagem Tinto 2006
Preço (PF): R$159
Quinta de La Rosa Reserva 2007
Preço (PF): R$296
Quinta de La Rosa Porto Tawny 10 Anos (500ml)
Preço (PF): R$150
Quinta de La Rosa Azeite Extra Virgem (500ml)
Preço (PF): R$89
O almoço da Cavist
Crocante de parmesão recheado com bacalhau Arroz de pato
  Sobremesa
Os participantes
Sophia Bergqvist, proprietária da Quinta de La Rosa Damião Teixeira, representante da Ravin no Rio de Janeiro
Janine Sad, da Cavist A mesa na varanda
Comentários
Victor Bastos
Enófilo
São Paulo
SP
09/10/2012 Olá Oscar

O Reserva é realmente maravilhoso, mas R$ 296 é um absurdo. Lá na terrinha é vendido a 25 euros com IVA.

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