
Enquanto me dirigia ao Mr. Lam, para a apresentação dos novos vinhos da Vinci, pensei com meus botões: "Se eu não compro vinhos de mais de 100 reais, não é correto indicar aos leitores do EnoEventos, vinhos que ultrapassam esse limite." E decidi que nessa mini-feira da importadora só iria provar e divulgar os vinhos que estivessem de acordo com as minhas limitações.
Pensei que seria um enorme sacrifício, mas qual o quê! Das 32 novidades que a Vinci exibia, apenas 5 custavam mais do que 100 reais (ou melhor dizendo, na língua de Ciro Lilla, mais de 50 dólares). E foi bem mais fácil do que eu imaginava. Houve uma exceção involuntária quando, após insistentes recomendações, provei inadvertidamente um vinho que ultrapassava o limite. Mas eu mesmo me perdoei.
Algumas pessoas nem conseguiam entender a postura e a portuguesa que representava o Monte da Ravasqueira, a bela Maria do Carmo Guedes, ficou intrigada quando me ofereceu o "top" da feira e eu disse que não poderia beber vinhos caros... Ela deve ter imaginado que esses brasileiros são meio tãn-tãns...
Apesar de a importadora ter preferido exibir os seus vinhos de mais baixo preço, foi uma tarde recheada de belos vinhos com excelente relação custo x benefício.
Muito interessante, o Piccini Memoro Bianco NV é um vinho comemorativo aos 130 anos da unificação italiana e, por isso é elaborado com uvas de 4 regiões: 40% de Viognier da Sicília, 30% de Chardonnay do Trentino, 20% de Vermentino da Maremma e 10% de Pecorino do Marche. Tamanha confusão resulta em um vinho classificado como Vino Bianco d'Italia que não pode nem ao menos ser safrado. Mas é pura história engarrafada.
Destaque também para o Grayson Cellars Chardonnay 2010, um vinho de Napa com estágio de 9 meses em carvalho francês e uma elegância sem par. Mas não demorou muito para que os gaiatos de plantão o apelidassem, injustamente, de Seu Creison...
Houve gente que preferisse o Sauvignon Blanc da O. Fournier, mas na comparação direta eu fiquei mesmo com o neo-zelandês Oyster Bay Sauvignon Blanc 2011, fresco, de excelente acidez, corpo de lutador de UFC e com discretas e deliciosas notas herbáceas. Era 20 reais mais caro do que o concorrente chileno, mas eu achei muito melhor.
Dentre os tintos, o campeoníssimo da feira (dos de menos de 100 reais) foi o Fattoria Zerbina Ceregio Sangiovese di Romagna 2007, sem passagem por madeira, frutado, gastronômico, um verdadeiro veludo.
Outro belo momento da minha degustação foi o Magaña Dignus 2005, um navarreño que mistura a Tempranillo com a Merlot, a Cabernet Sauvignon e "outras" e passa 10 meses em carvalho. Potente, elegante, com taninos educadinhos, é um vinho bastante delicioso, para deixar os riojanos de cabelos em pé.
De dentro de uma elegante e original garrafa, o Ogier Les Moirets Côtes du Rhône 2010 encanta por seu agradável nariz e sua boca macia e elegante e configurou-se como um dos campeões do custo-benefício dessa tarde.
Oscar Daudt
18/10/2012 |