
Há alguns meses, estava eu quieto em casa, quando o porteiro me interfonou: "Chegou uma caixa de vinho." Fiquei surpreso, pois não havia comprado nada, não estava esperando nenhuma entrega e nem ao menos era Natal. Como ele me conhece bem, completou: "E é das grandes!" Foi a senha para eu descer correndo e conferir o que havia chegado.
Era uma caixa de vinhos enviada pela Vinícola Almaúnica como divulgação de seus produtos. A alegria foi grande, pois eu já tinha ouvido falar muito bem desses vinhos e ainda não havia tido a oportunidade de conhecê-los.
Na recente viagem enogastronômica à Serra Gaúcha, essa vinícola não estava em nosso programa original, mas eu pedi para conhecê-la e os organizadores, gentilmente, remanejaram a agenda e abriram uma janela para que pudéssemos visitá-la. Foi um espetáculo e eu a incluí nos melhores programas enoturísticos da região (clique aqui para conferir).
Márcio Brandelli e Magda Brandelli Zandoná são irmãos gêmeos e filhos de Laurindo Brandelli, o famoso Don Laurindo. Márcio era sócio da vinícola que leva o nome de seu pai, mas decidiu seguir uma carreira nem tão solo assim: vendeu sua parte na Don Laurindo e junto com sua irmã e sua mulher Denise, inauguraram a nova vinícola em 2008, iniciando a produção 2 anos depois.
A sede impressiona por sua modernidade e beleza. Situada às margens da via principal do Vale dos Vinhedos, no alto de uma colina, com as videiras plantadas à frente, como se fossem um jardim, é uma imagem de grande imponência. Num Vale em que predominam prédios conservadores, imitando os castelos medievais, a Almaúnica cria um novo paradigma em termos de arquitetura. Lá tudo é novo, funcional, bem planejado e muito bonito. É como um cartão de visitas para a excelência dos vinhos elaborados.
Quando lá chegamos, fomos recebidos por Magda, que conduziu uma maravilhosa prova. E o que mais me surpreendeu, além dos vinhos, foi saber que uma vinícola assim tão nova, tem 95% de suas vendas dirigidas diretamente ao consumidor, seja pela Internet, seja pelo varejo. E tudo por conta de uma divulgação boca-a-boca entre os apreciadores.
Degustação em ritmo de samba |
Voltando da viagem e ainda com os aromas e sabores sambando na lembrança, convidei alguns amigos, durante o Carnaval, para conhecer os vinhos da Almaúnica e eles, entre uma Escola e outra, chegaram animados, com os cabelos cheios de confete, para uma deliciosa prova. Foram 5 os vinhos que degustamos e os elogios foram unânimes em relação à qualidade da carteira da vinícola.
O grande campeão do Carnaval foi o Almaúnica Syrah Reserva 2011 (R$55), escolhido por todos os jurados como o melhor nos quesitos elegância, equilíbrio, maciez e frescor. Os aromas frutados, de baunilha, café e especiarias foram as alegorias que encantaram as arquibancadas. Muitos apreciadores gostam de utilizar, para escolher o melhor vinho de uma prova, o critério não-oficial de "a primeira garrafa que termina" e nesse ítem, também, o Syrah conquistou o Estandarte de Ouro.
Quando o Almaúnica Cabernet Sauvignon Reserva 2009 (R$40) entrou na avenida, a torcida ensaiou um grito de "É campeão!", pois os aromas que emanavam das taças eram sedutores, com muita fruta, canela e flores fazendo um conjunto com a suculência, a persistência e a harmonia da boca. Mas o júri foi irredutível e o Cabernet ficou com a vice-liderança.
O Almaúnica Malbec Reserva 2011 (R$40), terceiro colocado no campeonato, ganhou também o troféu Simpatia, pois era um vinho muito macio, floral e com toques de madeira. E foi a segunda garrafa que terminou.
O quarto lugar foi agraciado ao Almaúnica Pinot Noir Reserva 2011 (R$40), tendo em vista que alguns jurados o penalizaram por não estar utilizando na taça as cores oficiais da Escola: visualmente, era impossível identificar a casta, pois a cor era bem fechada. Outros também tiraram preciosos décimos de pontos pela falta de tipicidade, muito embora salientassem que, dentre os blocos do Novo Mundo, este era um Pinot campeão.
A grande decepção ficou por conta do Almaúnica Merlot Reserva 2009 (R$55), cuja comissão de frente estampava a nova denominação Vale dos Vinhedos e vinha precedido de altas expectativas. Mas o vinho não tinha o número mínimo de alas exigido pelo regulamento: era muuuuito curto. Além disso, estourou o tempo do desfile e foi a única escola a sobrar na garrafa.
Oscar Daudt
15/02/2013 |