
Esta semana, Roland Villard, chef do Le Pré Catelan, organizou a primeira edição de seu Wine Program, uma série de jantares que serão realizados com harmonização de vinhos franceses, com o intuito declarado de difundir a cultura de seu país em nossas praias, como se dele fosse um embaixador da enologia.
A cada edição - e para este ano estão planejadas mais duas - será escolhido um produtor para apresentar seus vinhos e Roland, com sua magistral capacidade criativa e harmônica, construirá um cardápio especial. E a primeira convidada foi a vinícola Famille Perrin.
A família Perrin comprou o Château de Beaucastel, em Châteauneuf-du-Pape, no ano de 1909 e, desde então, vêm expandindo seus vinhedos pelas mais prestigiadas denominações do sul do Rhône, dentre elas Gigondas, Vacqueyras, Beaumes de Venise e muitas outras.
Preservando até hoje a composição familiar da propriedade, a vinícola faz parte da prestigiada organização PFV - Primum Familiae Vini, que reúne 11 dos mais destacados produtores familiares do mundo, em companhia de nomes tais como Antinori, Torres, Joseph Drouhin, Vega-Sicilia e Mouton Rothschild.
A família considera os vinhedos como o mais importante investimento e, desde 1964, o Château de Beaucastel optou pela agricultura orgânica e não utiliza mais pesticidas ou fertilizantes químicos, o que trouxe de volta as abelhas, as joaninhas e as minhocas, que fazem a perfeita harmonia ambiental e fortalecem as plantas.
O jantar contou com a presença do produtor François Perrin que, com seu sorriso aberto, percorria as mesas do restaurante lotado conversando sobre os vinhos.
Para acompanhar os tira-gostos, ainda em pé, iniciamos com o Famille Perrin Réserve Côtes du Rhône Blanc 2011, vinho agradável.
Mas a coisa ficou séria quando chegou o branco seguinte Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape Blanc 2011, um corte com predominância de Roussanne (80%), com um tempero de Grenache Blanc (15%) e mais 5% de Picardan, Clairette e Bourboulenc. Um vinho grandioso, cremoso e muito loooooongo, elegantemente empacotado em um nariz e uma boca cheias de fruta e de muito frescor. Um dos melhores brancos provados este ano. Mas como nada é perfeito, a etiqueta é para acabar com o sonho de qualquer um: R$564!
O chef Roland deve ter ficado tão entusiasmado com o vinho quanto eu, pois criou o mais espetacular prato que já me foi servido por lá: o Carpaccio de vieiras de Saint Jacques e lagosta, coulis de tomate e melancia. O carpaccio fazia o fundo do prato e sobre ele repousava uma forma de palmito desfiado com cubos de melancia e enfeitado com um lagostim. Cada componente separadamente já era um show, mas quando se juntava tudo numa mesma garfada, era o nirvana... E o prato era tão chique que até tomate tinha!
Na arena dos tintos, uma mini-vertical: duas safras do mesmo Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape Rouge, 2008 e a 2006 em magnum. Um vinho complicado que usa todas as 13 castas autorizadas para a denominação: são 30% de Grenache, 30% de Mourvèdre, 10% de Syrah, 10% de Counoise, 5% de Cinsault e ainda completa a fórmula com 15% das demais variedades, inclusive as 5 brancas! O resultado é de uma complexidade incrível. O 2008, com uma cor profunda, aromas de tabaco, canela e ameixas maduras é carnudo, aveludado e longo. Já o 2006, era mais etéreo, evoluído, com notas de amêndoas e elegância francesa. Ambas as safras podem ser ainda bem guardadas por mais alguns anos, por aqueles que tiverem paciência para tal.
Infelizmente o preço, mais uma vez, incomoda: o 2008 custa R$516; a magnum de 2006 eu não descobri o preço, mas dá para imaginar...
Oscar Daudt
13/04/2013
Obs: os vinhos da Famille Perrin são importados pela World Wine |