
Em 2011, viajei pelo Alentejo, a convite da CVRA, visitando diversas vinícolas por lá. Foi uma semana especialíssima, com vinhos maravilhosos e gastronomia inesquecível. E os organizadores reservaram para o final a até então desconhecida - para mim - Herdade do Rocim. À época, referindo-me ao acerto de a terem deixado por último, escrevi: "Depois dela, nenhuma outra instalação teria graça."
A Herdade do Rocim foi comprada no ano 2000, quando era apenas uma propriedade que plantava uvas, e foi um presente que a enóloga Catarina Vieira recebeu de seu pai. E foi um presentão completo, pois a vinícola, com um belíssimo projeto integrado às colinas da Vidigueira, foi inaugurada em 2007. É moderníssima, funcional, bem decorada e manejada com extremo capricho e paixão. Definitivamente, é algo que não se costuma encontrar pela região e a mais bonita de todas as casas que conheço por lá.
É um destino imperdível para quem vai ao Alentejo, pois sua construção foi feita com um olho no enoturismo e oferece todas as facilidades que os viajantes esperam encontrar.
Vinhos tão belos quanto... |
Catarina estudou enologia em Lisboa e completou seus estudos em Bolonha, onde surpreendentemente desenvolveu sua paixão pelos vinhos brancos. Mesmo com tintos de alta estirpe, ela confessa que sua preferência recai sobre o Olho de Mocho Reserva Branco 2011 (R$125), um 100% Antão Vaz, que se alimenta de vinhas de mais de 30 anos e consegue levar à taça uma mineralidade espetacular e uma deliciosa acidez. Apenas 35% do vinho estagia em barricas francesas novas por poucos meses, o que resulta em uma madeira perfeitamente equilibrada. A enóloga nos contou que provou recentemente a primeira safra - 2005 - e ela continua firme e forte encantando os paladares. Belíssimo vinho!
Em Portugal, mocho é o nome que se dá à nossa tão conhecida coruja. Porém, olho-de-mocho é o nome de uma florzinha de campo que nasce entre as videiras e que se assemelha ao olho da coruja. E foi esse nome, bonito que só ele, que Catarina escolheu para batizar a sua linha de vinhos reservas. E essa linha continuou nos encantando com a chegada do Olho de Mocho Reserva Tinto 2009 (R$185), um corte tipicamente alentejano de Touriga Nacional, Alicante Bouschet e... Syrah. As duas primeiras castas são pisadas no imaculado lagar de mármore branco, antes de repousarem por um ano em barricas, a metade delas de primeiro uso. Aromas encantadores, com uma estrutura vigorosa e, mais uma vez, elegante integração da madeira.
De mãos dadas, chegaram às taças o Herdade do Rocim 2009 (R$98) e o Herdade do Rocim Reserva 2008 (R$130). O primeiro mistura 5 castas: Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Syrah, Trincadeira e Aragonês; o segundo é quase a mesma coisa, deixando de lado apenas a Trincadeira. O objetivo do primeiro é focar na fruta e no frescor e a madeira é tratada de forma parcimoniosa. O segundo, com mais seriedade, já dá mostras de barricas mais exibidas em meio a uma intensidade resinosa e deliciosos aromas de caramelo e especiarias.
Finalizando a noite, um vinho cheio de sentimentalismo: o Vila da Mata Reserva 2009 (R$225) traz no rótulo a denominação Vinho Regional Lisboa e é plantado nas Cortes, em Leiria, na propriedade do avô de Catarina, um agricultor de toda a vida, a quem o vinho é dedicado. Mistura Aragonês, Syrah e Touriga Nacional e oferece um nariz maravilhoso, escandalosamente floral e com toques de elegante madeira, que anunciam uma boca harmoniosa, refinada e de grande persistência.
Os vinhos da Herdade do Rocim são importados pela World Wine.
Oscar Daudt
20/06/2013 |