
A história do Domaine Henri de Villamont começa quando, em 1880, Leonce Bocquet, proprietário de Château Clos de Vougeot, decide construir a mais moderna cave da Borgonha e encomenda o trabalho ao arquiteto Albert Suisse, em empreitada que durou 8 anos para ficar pronta. Com área construída de 4.000m2, pé-direito de 6 metros, capacidade para armazenar 4.000 barricas de 228 litros e sistema de calefação, foi uma inovação que é admirada até os dias de hoje e sua espetacular arquitetura faz com que seja considerada por muitos como a mais bela vinícola da região.
Em 1964, o grupo suiço Schenk Holdings comprou a propriedade que fica situada no coração da pequena Savigny-lès-Beaune, de pouco mais de 1.000 habitantes. Foi então que surgiu o nome de Henri de Villamont, em homenagem a um grande cavaleiro viajante dos séculos XVI e XVII, que terminou se instalando nessa comuna, em que boa parte dos vinhedos pertenciam a sua Ordem de Jerusalém.
Apesar de sua enorme capacidade, a vinícola atualmente elabora não mais do que 300 mil garrafas ao ano, com as mais prestigiosas denominações da Borgonha: Corton-Charlemagne, Chassagne-Montrachet, Meursault, Chambolle-Musigny, Gevrey-Chambertin e muitas mais.
A Importadora Wine Stock, representante exclusiva desses vinhos no Brasil, organizou um especialíssimo jantar no Atelier Troisgros, delicioso espaço no segundo andar da CT Trattorie, onde se pode interagir com o chef. E nessa noite quem comandava as panelas era o simpático Batista, braço direito de Claude e famoso por suas aparições televisivas no programa "Que marravilha!"
A comida foi irrepreensível, mas as grandes estrelas da noite eram, com certeza, os vinhos. Elegância e exclusividade eram o nome do jogo.
Iniciamos com um Henri de Villamont Meursault 1er Cru Blagny 2009 (R$390), seco, cremoso, com aromas cítricos e de gengibre e deliciosa acidez equilibrando o conjunto. E prosseguimos com o Henri de Villamont Puligny-Montrachet 1er Cru Sous Le Puits 2010 (R$390), mais elegante que o anterior, com toques de avelãs e frutas cítricas, mineralidade e acidez metálica dançando em harmonia. Mais exclusivo o vinho não poderia ser, pois são produzidas apenas 600 garrafas. E Douglas Andreghetti, proprietário da importadora, apressou-se em explicar que a metade da produção é dedicada aos brasileiros. Ambos eram vinhaços para fazer a alegria de um compulsivo consumidor de brancos. Pelo menos até eu ver as etiquetas de preço...
Em seguida foi a vez dos tintos que começaram trazendo o grande emblema da vinícola: Henri de Villamont Savigny-les-Beaune 1er Cru Clos des Guettes 2009 (R$250), com produção de 10.000 garrafas. À primeira vista, poderia até se estranhar esse vinho ter sido escalado para escortar um risoto de camarões. Mas esse não era um risoto qualquer, pois vinha com lascas de parmesão, espuma de cogumelos e azeite trufado, e tinha força suficiente para encarar um vinho condimentado, mineral e estruturado. Como é bom ver uma harmonização insólita dar tão certo!
O segundo tinto foi um Henri de Villamont Pommard 1er Cru Les Rugiens 2009, frutado, condimentado, terroso. Na boca elegante, harmonioso e com taninos agradáveis. Persistente e suntuoso, ficou feliz em acompanhar um cordeiro cheio de esquisitices, como açaí e uma crosta verde deliciosa.
As memórias de uma noite assim são para serem bem guardadas, pois não é sempre que acontece. Mas, infelizmente, não houve um quorum razoável, como se o mundo estivesse em vias de acabar. Apenas 9 comensais e - pelas minhas contas - só 2 pagantes.
E por que isso? Bem, principalmente o preço: 540 reais o convite (ou 490 para associados da SBAV). É muuuuito caro! E segundo, pelo dia da semana: de acordo com os hábitos cariocas, sexta-feira não é, definitivamente, dia para eventos de vinho.
Oscar Daudt
08/04/2013 |