
Nos anos 1990, o Chile já se destacava no cenário mundial como produtor de bons vinhos a preços acessíveis. Suas favoráveis condições climáticas e geográficas, únicas no mundo, começaram a despertar o interesse de grandes nomes da vinicultura mundial. O primeiro deles foi o americano Robert Mondavi que, em 1995, trocou de hemisfério para lançar, em parceria com a Viña Errázuriz, aquele que foi considerado o primeiro vinho chileno de classe internacional: o Seña, corte de Cabernet Sauvignon, Carménère, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot. O vinho foi logo aclamado pela imprensa especializada e começou a colecionar prêmios e avaliações que se igualavam aos grandes rótulos do mundo.
Nessa mesma época, Eduardo Chadwick, atual presidente da companhia, convenceu seu pai, D. Alfonso, a transformar o campo de polo da propriedade em um vinhedo especial, hoje conhecido como Viñedo Chadwick, de onde saem as uvas para o vinho de mesmo nome, elaborado com a casta Cabernet Sauvignon. Foi mais um gol de Eduardo...
Elaborado desde 1870, o ícone da vinícola, Dom Maximiano, provém, desde 1993, de vinhedos plantados nas encostas do Andes, emoldurados pelo majestoso Aconcágua. É coisa muito linda de se ver! E o vinho também é uma beleza, raçudo e elegante. Pois bem, a carteira de Eduardo estava pronta...
Como naquela velha piada - o que adianta transar com a Sharon Stone se eu não puder contar prá ninguém? - o produtor estava inquieto. Ele explica: "Nossos vinhos sempre foram de classe mundial. No entanto, precisávamos obter o reconhecimento no mais alto nível." Foi quando surgiu a atrevida ideia de organizar uma degustação às cegas comparando seus vinhos com nada menos do que os mais respeitados rótulos do mundo: Lafite, Latour, Margaux, Solaia, Sassicaia, Guado al Tasso e Tignanello. Consideradas as diferentes safras, foram 6 rótulos chilenos, contra 6 franceses e 4 italianos.
O evento foi organizado com toda a pompa e circunstância, em 2004, no Ritz Carlton de Berlim, com a participação de 36 dos mais destacados críticos e compradores da Europa, sob a batuta de Steven Spurrier, em cujo currículo constava a organização do famoso Julgamento de Paris, de 1976.
A intenção de Eduardo era mostrar como seus vinhos podiam ser comparados com os grandes ícones, mas acho que nem mesmo ele esperava um resultado tão favorável. Dois de seus rótulos ficaram posicionados em 1º e 2º lugar: o Viñedo Chadwick 2000 e o Seña 2001! O furor causado pelos resultados correu mundo e, entusiasmada, a crítica inglesa Jancis Robinson, escreveu à época, batizando a degustação: "Um único evento atribuiu respeitabilidade aos vinhos californianos, que foi a degustação de Paris em 1976. Eduardo Chadwick conseguiu organizar um acontecimento similar que foi um marco para a vinicultura chilena - ou pelo menos, para seus próprios vinhos - naquele que será conhecido como a Cata de Berlim".
Eufórico, Eduardo resolveu parar por aí, pois temia que o excepcional resultado nunca mais se repetisse. E foi Otávio Piva, proprietário da Expand, quem o convenceu a repetir a prova, no ano seguinte, em São Paulo. Os resultados foram igualmente muito positivos, pois embora o primeiro lugar tenha sido reservado para o Margaux 2001, os segundo e terceiro ficaram com o Viñedo Chadwick 2000 e o Seña 2001. Com o ego dilatado, o produtor não parou mais e, em anos seguintes, provas similares foram repetidas mais 15 vezes, nas principais capitais do mundo. Se por um lado, a matéria de Jancis Robinson tenha criado uma marca, por outro causou uma certa impropriedade, pois o evento continua se chamando Cata de Berlim, mesmo realizando-se em lugares tão diferentes como Nova Iorque, Dubai e Seul.
Nesta nova edição paulistana, o painel quis mostrar a evolução dos vinhos do produtor, com 3 safras do Seña, 3 do Dom Maximiano e um desacompanhado Viñedo Chadwick, brigando de igual para igual com os venerados Château Latour, Château Margaux, Château Lafite, Tignanello e Sassicaia. Os participantes quase foram à loucura, pois quando é que se tem a oportunidade de provar tantos vinhos poderosos ao mesmo tempo?
A seriedade do processo é tão importante que a prova foi acompanhada, do início ao fim, por um auditor independente para certificar sua lisura. Cada um dos 65 degustadores escolheu, durante 45 minutos de reverente silêncio, seus 3 rótulos preferidos e votaram anonimamente.
Os resultados finais, que quase que repetiram o evento paulista de 8 anos atrás, foram os seguintes:
1º lugar: Château Margaux 2001 - França
2º lugar: Seña 2007 - Chile
3º lugar: Dom Maximiano 2009 - Chile
4º lugar: Château Mouton 1995 - França
5º lugar: Château Latour 2007 - França
6º lugar: Seña 2010 - Chile
7º lugar: Viñedo Chadwick 2000 - Chile
8º lugar: Dom Maximiano 1995 - Chile
9º lugar: Dom Maximiano 2005 - Chile
10º lugar: Sassicaia 2000 - Itália
11º lugar: Seña 2000 - Chile
12º lugar: Tignanello 2009 - Itália
E aqui revelo meus 3 vinhos escolhidos. Já praticamente carimbando meu convite para a próxima edição da prova, todos eles foram chilenos:
1º lugar: Viñedo Chadwick 2000 - Chile
2º lugar: Dom Maximiano 2005 - Chile
3º lugar: Seña 2007 - Chile
Oscar Daudt
05/07/2013 |