
Há cerca de dois meses, participei da Cata de Berlim, edição São Paulo, em que Eduardo Chadwick comparou, às cegas, seus vinhos com alguns dos maiores monstros sagrados na vinicultura mundial - Margaux, Mouton, Sassicaia e por aí foi.... Em minha classificação particular, emplaquei os vinhos da Errázuriz nas 3 primeiras colocações, com o Don Maximiano 2005 em honroso segundo lugar.
Claro que a alegria foi grande quando, semana passada, a importadora Vinci convidou-me para uma degustação vertical só de vinhos Don Maximiano. Aceitei o convite rapidinho e a prova se realizou durante especial almoço no Quadrifoglio do Jardim Botânico, sob o comando do enólogo Francisco Baettig, o principal responsável por esses grandiosos rótulos.
A primeira safra elaborada de Don Maximiano foi a de 1983 e nós tivemos o privilégio de conhecer a história quase que do início, provando a edição de 1984, com seus 30 anos quase completos. Genial ver como o vinho estava vivo, ainda com fruta, porém dominado pelos aromas etéreos. Foi o primeiro vinho que provamos pois, contrariando a ordem usual das degustações verticais, Francisco optou por trilhar o caminho do mais antigo para o mais novo.
Achei curioso também saber que, àquela época, o Chile ainda não usava madeira em seus vinhos e foi apenas na safra seguinte, 1985, que o Don Maximiano passou a estagiar em barricas francesas e daí não parou mais. Como a vinicultura chilena mudou em tão pouco tempo!
Francisco desculpou-se por não oferecer a safra 1989, já que a garrafa estava "bouchonée". Mas enófilo que se preze não esmorece frente a qualquer dificuldade e todos os participantes pediram para provar o vinho mesmo assim. Quem sabe a contaminação era leve? Infelizmente não era e a taça ficou só na curiosidade.
Apesar de o enólogo informar que a garrafa de 1995 estava um pouco "cansada", eu adorei essa safra e bebi como se não houvesse amanhã. Mas genial mesmo, foi a safra 2005, a melhor de todas, exuberante, floral, com muita fruta, uma estrutura gigantesca. Foi a mesma safra que me conquistou há dois meses, o que mostra que não mudamos, nem eu, nem o vinho. Segundo o enólogo, 2005 no Chile, foi uma safra privilegiada.
A safra de 2008 passou a usar um tiquinho de Carménère e tinha um caráter floral marcante, e bem merece esperar mais alguns anos que com certeza irá evoluir para melhor. A 2010, então, nem se fala, era a própria imagem do infanticídio e, para essa é obrigatório deixá-la repousar por mais alguns anos na adega. O enólogo, com seu faro clínico, avaliou essa última como a safra de melhor qualidade. Portanto, paciência...
Mais madeira, mais castas |
Conferindo as fichas técnicas, nota-se que o uso da madeira - sempre carvalho francês - vem aumentando paulatinamente:
1984; sem madeira;
1989 e 1995: 16 meses;
2005: 18 meses;
2008: 20 meses;
2010: 22 meses.
Outra tendência que se nota na evolução do vinho é a composição dos cortes. Até o ano 1995, os vinhos eram sempre Cabernet Sauvignon em pureza. Foi só a partir de 1996 que a casta base do vinho passou a ser temperada com outras uvas, em cortes inquietos, que variam de ano para ano não apenas nas proporções como também nas variedades.
Oscar Daudt
26/08/2013 |