
A escolha da Wine Spectator |
Desde 1988, a revista norte-americana Wine Spectator elabora a lista dos 100 melhores vinhos do ano, classificando-os da 1ª à 100ª posição. A cada edição, a lista é aguardada com mais ansiedade pelos apreciadores, importadores, comerciantes e produtores. Para aumentar a expectativa, a revista passou, há alguns anos, a divulgar os resultados em doses homeopáticas, com uma contagem regressiva que desperta um frenesi entre os blogs de vinhos.

Tanto quanto seja de meu conhecimento, esta é a única escolha - dentre as muitas revistas e concursos de vinho - que tem a coragem de dar a cara a tapa e nomear o melhor de todos os vinhos. Os demais costumam premiar os melhores, que podem ser muitos. Acredito que venha desse ineditismo o prestígio da lista.
A compilação dos resultados dos ganhadores por país de origem, de 1988 até 2012, na tabela ao lado, é significativa e revela que a revista puxa a brasa para a sua sardinha, pois o grande campeão são os Estados Unidos, que conquistaram o topo do pódio nada menos do que 11 vezes, contra as 8 da França, a segunda colocada.
A edição do prêmio de 2013, recentemente revelada, trouxe uma grande surpresa: o vinho ganhador era da Espanha e, mais precisamente, da Rioja! Esse país sempre ocupou uma posição secundária no mercado internacional de vinhos, ofuscado pelo prestígio da produção francesa e italiana - e, no caso da Wine Spectator, também pelos vinhos dos Estados Unidos.
Dentro da própria Espanha, a Rioja vinha perdendo terreno dada a ascensão das novas estrelas ibéricas, os modernos ícones de Ribera del Duero e do Priorato. Foi, portanto, para os espanhóis e, mais específicamente, para os riojanos, de lavar a alma, num momento em que a economia espanhola atravessa uma crise econômica sem precedentes.
O grande vencedor foi o Imperial Gran Reserva 2004, produzido pela CUNE - Companhia Vinícola del Norte de España, uma das mais antigas e cultuadas vinícolas daquele país, fundada em 1879, em Haro. O vinho é um tradicional exemplar de Rioja, com corte de 85% Tempranillo, 5% Mazuelo e 10% Graciano e passa longos períodos de amadurecimento: 3 anos em barricas de carvalho francesas e americanas e muitos mais repousando engarrafado nas caves. Seu teor alcoólico é de 13,5% e a fermentação é realizada, exclusivamente, com leveduras nativas.
Eu, bastante influenciável por esse tipo de galardão, não precisaria nem experimentá-lo para saber que gostei. Mas não resisti a fazer parte dessa história e o degustei este fim de semana. Sem surpresas, achei um espetáculo. O vinho é profundo, com estrutura gigantesca, taninos firmes e com muita fruta madura. Os aromas são excepcionais, com forte caráter floral, louro, café, envolvidos em notas minerais. A madeira é bastante equilibrada, elegante e deixa a fruta se exibir. Fresco, é um vinho que tem longa vida pela frente e a revista sugere bebê-lo de agora até 2024: ele com certeza ainda vai evoluir positivamente pelos próximos anos, e quem quiser que espere. Eu não resisti...
Para nós, apreciadores brasileiros, que tanto invejamos os preços norte-americanos, chegou a hora da vingança. Como era de se esperar, assim que o prêmio foi anunciado, este vinho sumiu das prateleiras naquele país. Quando a revista apresentou o primeiro lugar, informou que o preço era de 63 dólares. Mas uma consulta ao wine-searcher.com, mostrou-me que, atualmente, apenas uma loja nos Estados Unidos oferece virtualmente o vinho e ao preço de 165 dólares! Fora isso, há 3 leilões nessa mesma página, cujos lances já atingem 215 dólares! E, tudo indica, os preços continuarão subindo e subindo e subindo...
Aqui no Brasil, este vinho é importado pela Vinci e seu proprietário, Ciro Lilla, decidiu que não iria especular com o preço e manteve o mesmo valor que era cobrado antes do grande prêmio. Com isso, o vinho está a venda pela bagatela - relativamente falando, é claro - de 145 dólares (o que equivale a 317 reais, de acordo com a cotação de R$2,19 que a importadora está aplicando ao dólar). Inacreditável, não é mesmo?
E para evitar especulações de terceiros e para que mais e mais pessoas possam provar, o importador o retirou do página Internet e está vendendo somente por telefone e apenas uma garrafa por cliente. Nobre, muito nobre...
Portanto, apreciadores, correi, pois os estoques são pequenos. Afinal, para experimentar o melhor vinho do mundo, o que são esses meros dinheirinhos?
Oscar Daudt
01/12/2013 |