
Sempre a sorrir tão formosa |
Há cerca de dois meses, quando fui conhecer a Enoteca Uno, do chefe Joachim Koerper, comentei com ele e com sua mulher Cíntia que estava indo ao Alentejo e que ficaria alguns dias em Lisboa. Os dois não hesitaram em me convidar para conhecer a casa-mãe de Joachim, o Eleven, que faz com que o casal viva em uma frequente ponte aérea Lisboa-Rio-Lisboa. E é claro que eu aceitei o gentil convite.
O prédio é imponente e retilíneo, localizado no ponto mais alto de Lisboa, no topo do Parque Eduardo VII. Eu estive visitando a casa à noite e a vista era deslumbrante, descortinando a cidade iluminada. Mas acredito que o mais lindo visual seja mesmo reservado para quem vai a hora do almoço, quando então a Velha Cidade, sempre airosa, exibe seus encantos e belezas. As mesas localizadas ao lado dos janelões são muito disputadas e, ao fazer sua reserva, não esqueça de dizer que gostaria de sentar numa delas.
A casa é sóbria e requintada, o espaço é amplo e confortável e o serviço é gentil e afinado.
Cíntia, uma encantadora paraense de olhos amendoados, além de mulher do chefe é também sua principal auxiliar, e contou-nos que está sempre na cozinha. Naquela noite, no entanto, em deferência, ficou à mesa conosco, fazendo as honras da casa, enquanto Joachim mexia as panelas para nos servir uma sequência interminável de delícias.
O restaurante oferece, além do cardápio normal, 3 fórmulas:
o Menu Eleven, com 6 etapas, por 69 euros
o Menu Degustação, com 8 etapas, por 89 euros
o Menu Lavagante, com 7 etapas (sendo 4 delas com Lavagantes), por 129 euros
E mais, para quem está com a carteira recheada, a casa está promovendo, temporariamente, um menu de trufas brancas, por assustadores 239 euros.
Já que estava como convidado, eu nem discuti esses detalhes mundanos naquela noite e, portanto, nem sei se o que nos foi oferecido era um desses menus ou se era apenas o chefe soltando sua criatividade, sem se ater a esquemas pré-definidos. O que sei é que foi uma noite e tanto!

Um detalhe intrigante chama a atenção nos belos pratos de Joachim: na borda, há sempre um pequeno cubo de tomate enfeitado com um cerefólio ou uma salsinha. Explicou-me Cintia que essa é a original assinatura do chefe. Sutil e elegante!
A Salada de Lavagante com frutas exóticas era um espetáculo! Para quem não sabe, o lavagante (foto à direita) é um crustáceo parecido com a lagosta que vive no Mar Mediterrâneo e na costa da Europa. Já o que eles chamam de frutas exóticas são aquelas bem conhecidas nos trópicos, como manga, kiwi e papaia.
Seguimos com a Sopa de agriao com brandade de bacalhau e o Cherne com xerem de poejo e molho de berbigão, relendo as tradições portuguesas. Após uma pequena parada no oriente, com o Risoto de missô com lagostim, a França invadiu nossa mesa com um delicioso Foie gras quente com purê de pera e macaron de caramelo.
Para finalizar os salgados, um belíssimo Cordeiro com creme de espinafre e croquete de batata líquida, derretendo-se em maciez e em gostosura.
É claro que o Eleven conta com uma carta de vinhos de diversos produtores e procedências, mas Joachim optou por harmonizar nosso jantar unicamente com vinhos assinados por ele. Assinados não com o tomatinho, mas realmente com seu nome no rótulo. E é um interessante diferencial poder acompanhar uma refeição completa apenas com seus vinhos, elaborados conforme o chefe considera mais apropriados com suas criações.
O chefe faz parcerias com gente de respeito na enologia. Tanto o espumante, quando o vinho branco foram elaborados pelo mago do Alentejo, Paulo Laureano. O Gewürztraminer que acompanhou o foie gras veio da terra natal de Joachim, o Pfalz, na Alemanha. E o tinto, um delicioso Syrah, procede de uma das mais apreciadas vinícolas do Alentejo, a famosa Quinta da Malhadinha Nova.
E até mesmo o azeite servido traz o nome - e a efígie - do chefe e é elaborado, também, por Paulo Laureano. E no rótulo pode-se ler: "Considero o azeite como a alma e o coração da minha cozinha" - Joachim Koerper.
Oscar Daudt
17/19/2013 |