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Conforme já é tradição, nossa confraria Enófilos sem Fronteiras reuniu-se para um belíssimo almoço de Natal, nesse fim de semana. Mas, contrariando o próprio nome, as fronteiras foram muito bem estabelecidas e só valia levar vinhos do norte da Itália, aí incluídos o Piemonte, o Vêneto, o Friuli e o Alto Adige.
Éramos 17 à mesa e cada um levou um vinho. Mas a coisa não se limitou a "apenas" isso. Houve ainda algumas garrafas de espumantes Ferrari para iniciar os trabalhos; um dos confrades fazia aniversário e levou dois Champagnes extras para comemorar; e o restaurante, gentilmente, ofereceu, ao final, uma garrafa de Tokaji e mais uma de Grappa. Não sei como sobrevivemos...
Os vinhos foram um festival de originalidade e desfilaram em nossas taças rótulos e castas não muito usuais: Foja Tonda, Kerner, Garganega, Müller Thurgau, Vermentino, Lagrein... Até mesmo a Alicante Bouschet, tão comum no Alentejo, pode ser considerada inesperada quando plantada na Itália.
Eu escolhi para levar um rótulo que havia comprado no Friuli: o Edi Kante Extrò, um vinho maluco, não safrado, sem castas declaradas e que exibe no contra-rótulo a insólita recomendação: "Agite antes de servir". Edi Kante é um produtor fora do padrão e muitos consideram suas extravagâncias comparáveis às de Josko Gravner. Depois de bem sacudido, o vinho na taça fica leitoso, com uma cor amarelo clarinho. O nariz é confuso, com aromas de grapefruit, alta mineralidade e muita flor branca. Na boca, uma deliciosa acidez, um corpo impressionante, uma textura cremosa, todos envoltos no manto do anonimato.
Mas o melhor branco, dentre os tantos do almoço, foi um vinho que chegou com uma história que, se não é verdadeira, é muito bem contada: o Schiopetto Pinot Bianco 2005 ficou esquecido no estoque da loja Bergut e só recentemente redescoberto. Eram poucas garrafas e as probabilidades indicavam que já deveria ter perdido o seu viço. A loja testou uma das garrafas, viu que estava perfeito e colocou à venda as demais. E uma delas foi parar em nosso almoço, dando um show de interpretação.
Quando começaram os tintos, eu já estava prá lá do Alto Adige e não me sinto à vontade para falar sobre eles.
O encontro foi realizado no novo Restaurante Sá, do Hotel Miramar, na Av. Atlântica. O cardápio era previamente fechado, mas o chefe Paulo Góes nos presenteou com algumas surpresinhas e com uma gastronomia maravilhosa, à altura dos vinhos do encontro. E não posso deixar de mencionar o amigável e atento serviço, comandado pelo gerente Valmor Dutra, que não deixou a peteca cair em nenhum momento.
Oscar Daudt
09/12/2013 |
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