
Os leitores mais assíduos sabem que vinhos doces não são a minha praia e eu costumo recusar os convites para degustações desses vinhos. Mas desta vez, a tentação foi grande e eu não pude resistir ao chamado da Importadora Vinci para uma degustação vertical de Vinhos do Porto Fonseca Vintage, com algumas das mais memoráveis safras dos últimos tempos. Eu não poderia privar os leitores dessa experiência tão exclusiva.
O título da matéria foi uma licença poética, pois os pontos que os principais críticos internacionais ofereceram para os 5 rótulos da vertical são impressionantes, mas não são todos de 100. Eu apenas arredondei por motivos jornalísticos. Na verdade, em termos de pontuação, apenas a safra 1994 recebeu os 100 pontos da perfeição. As demais obtiveram "somente" notas como 99, 97 e 95. Mas, cá entre nós, que diferença pode haver entre um vinho de 100 e outro de 95 pontos? Só os deuses do Olimpo conseguem avaliar com tanta precisão assim...
A história da Fonseca recua até o distante ano de 1815, quando são documentadas suas primeiras transações comerciais. E poucos anos depois, sem surpresas, a Inglaterra e o Brasil já eram os principais clientes da empresa.
Mas foi em 1840, quando a Fonseca lançou seu primeiro Porto Vintage, que o prestígio da casa começou a se firmar no mercado e até os dias de hoje a empresa é considerada como a melhor produtora desse exclusivo tipo de Porto. Quando os anos são extraordinários, os vinhos são declarados como Fonseca Guimaraens Vintage; mas quando os anos são clássicos, perfeitos, insuperáveis, os vinhos são declarados Fonseca Vintage;
Dentre as safras mais cobiçadas, listam-se as de 1868, 1927, 1948, 1977 e 1994, todas elas ganhadoras dos emblemáticos 100 pontos. Mas é bom nem sonhar com elas, pois se seus antepassados não as guardaram em suas adegas, você provavelmente não terá a oportunidade de desfrutá-las. Na Garrafeira Nacional, de Lisboa, dessas 5 edições, só consegui encontrar a de 1977, ao preço estonteante de 300 euros. As demais, apenas em leilões, por valores que não respeitam limites.
Para a alegria dos presentes, nossa vertical foi realizada, unicamente, com os Fonseca Vintage e foi conduzida pelo diretor-geral da empresa, Adrian Bridge, que relatava em sua linguagem com duplo sotaque - inglês e português do Douro - notas de bastidores sobre os vinhos.
As safras iniciaram no cobiçado ano de 1985, reputado como o melhor da década de 1980 e sua evolução de quase 30 anos, comprovada nas taças, ofereceu um vinho explosivo, com muita fruta, arrematadas por nozes, avelãs e toda uma cornucópia natalina. Sobre ele, o respeitado crítico português João Paulo Martins declara: "Portentoso na boca, é um vintage celestial com décadas de vida pela frente."
Provavelmente influenciado pelos 100 pontos obtidos, a safra de 1994 foi a minha preferida. Ao chegar, estava fechadinho, embora estivesse repousando em decanter por mais de uma hora. Mas foi abrindo e se exibindo com suas frutas negras, com a doçura bastante equilibrada. Um vinho jovem que, segundo o produtor, deverá evoluir com elegância até o final deste século recém iniciado.
A safra de 2003 foi considerada uma das melhores dos últimos anos e seu jovem vinho ainda merece ser guardado para os netos, que poderão desfrutar de seu caráter no momento certo. A de 2007 foi ainda melhor e o vinho apresenta uma cor quase negra, com muita concentração, com fruta cristalina.
2011 é a única safra que se encontra no catálogo da importadora Vinci. Ou melhor, se encontrava, pois quando a representante da importadora, Lilian Seldin, informou que havia apenas 12 garrafas em estoque, imediatamente Marcelo Torres, o proprietário do Giuseppe Grill, onde o evento se realizava, fechou negócio passando o rodo.
Oscar Daudt
13/11/2013 |