
A história do importador Sávio Soares é inspiradora. Mineiro, partiu para os Estados Unidos aos 21 anos para ganhar a vida. Vendeu salgadinhos, trabalhou como garçom e foi subindo na hierarquia dos restaurantes até atingir o posto de sommelier, quando então comandou algumas das casas mais prestigiadas e estreladas de Nova Iorque: Jean Georges, Aureole, Gotham e Boulud.
Com a experiência adquirida, decidiu partir para seu próprio negócio e abriu uma das importadoras mais prestigiadas dos Estados Unidos: a Savio Soares Selections. E como conseguir prestígio naquele mercado gigantesco e competitivo? A estratégia de Savio foi a de se especializar na importação de vinhos de pequenos produtores europeus, comprometidos com as práticas naturais, orgânicas e biodinâmicas.
Passou a viajar para a Europa em busca dos potenciais fornecedores. Para que um produtor fizesse parte de sua carteira, era necessário que ele conhecesse suas práticas, suas ideias e acima de tudo, se tornasse um amigo: "Atualmente, tenho 103 produtores em minha carteira e conheço cada um deles pessoalmente", explica o importador. E continua, revelando o cuidado de sua busca por vinhos naturais: "Nenhum de nossos produtores tem um enólogo contratado. Todos elaboram o seu próprio vinho."
Recentemente, Sávio e sua amiga de longa data, Ivanete Soares, montaram uma sociedade para trazer para o Brasil os mesmos rótulos de sua importadora americana. E, devagarzinho, como manda a prudência, começaram a oferecer, por enquanto, 40 rótulos de 20 produtores. Conforme nos esclareceu Sávio, para abrir uma empresa aqui nos trópicos, é necessário usar um capital 4 vezes e meia maior do que aquele que seria preciso nos Estados Unidos para uma empresa similar. Durma-se com um barulho desses!
A Galeria do Vinho, recentemente instalada, tem sede em Santos, no litoral paulista, onde dispõe de uma loja/bar no Shopping Parque Balneário. Em sua página Internet, ainda não se pode comprar os vinhos virtualmente, mas Ivanete prometeu, que em poucas semanas, estará implementado o Atrevinho, a loja de venda virtual da importadora.
Em uma degustação realizada, esta semana, aqui no Rio de Janeiro, no restaurante Aprazível, os sócios apresentaram 9 rótulos de sua carteira. Foi uma tarde especial, com vinhos supreendentes e de muito caráter. Fiquei particularmente impressionado com os seguintes vinhos:
Champagne Christian Etienne Brut: essa família, já por muitas gerações, planta seus 10 hectares de vinhedos, mas foi Christian o primeiro a decidir engarrafar seus próprios vinhos. Usa apenas adubação orgânica. Com deliciosa acidez e impressionante estrutura, é um espumante das safras de 2006 e 2007 e fiquei surpreso ao saber que este é o Champagne básico da casa. Posso imaginar o resto...
La Ferme des Caudalies Les Mots Bleus 2011: essa propriedade, de apenas 5 hectares, é a realização do sonho de dois jovens que deixaram a cidade para elaborar vinhos em Anjou, além de produzirem açafrão, mel e flores. Corte de 80% Sauvignon Blanc - de vinhas velhas e colheita tardia - e o resto de Chenin Blanc, é imperdível, com aromas e boca bastante exóticas e marcantes. Como é um vinho que chegou recentemente, os importadores não souberam informar o preço. Mas é bom ficar atento...
Domaine de Montcy Cour-Cheverny 2008: a raríssima casta Romorantin, circunscrita à denominação Cour-Cheverny, onde é a única autorizada, já havia feito minha cabeça, há 2 anos, quando provei o Provignage 2008 (clique aqui para recordar); a mesma acidez elétrica e uma secura extrema, embaladas por uma mineralidade e aromas de limão fazem dele o companheiro ideal para as noites de verão, acompanhando frutos do mar; o vinho de 2 anos atrás me custou 99 dólares (em Nova Iorque!); este agora, por 110 reais (aqui no Brasil), pode até ser considerado uma barganha.
La Cuvée du Chat 2012: a descontração do rótulo é o prenúncio de um vinho alegre, fresco, com muita fruta e uma persistência inesperada; esse vinho foi um pedido do importador ao produtor, Jean-Claude Chanudet, mais conhecido como "Chat" (gato), o que é o gancho para o ébrio felino internado em uma barrica que enfeita a garrafa.
Wilfried Russen Les Galuches Chinon 2009: sem passagem em madeira, é a quintessência da Cabernet Franc: elegante, floral, macio, com muita fruta e muito frescor.
Cascina Zerbetta Barbera del Monferrato 2012: único exemplar italiano da tarde, chegou surpreendendo o paladar dos provadores, depois de tantos vinhos elegantes e sutis. A partir de uma pequena propriedade de 3 hectares, comprada em 1998 por um jovem casal milanês em busca da tranquilidade do Piemonte, o vinho é elaborado com práticas biodinâmicas. A produção é pequena, de 10.000 garrafas, o que permite aos proprietários dedicar especial atenção aos vinhedos. Ainda não tem preço definido.
Oscar Daudt
20/11/2013
Serviço:
Galeria do Vinho
Fone: (13)3288-1810
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