
A Casa Henriot, de Champagne, é uma das raras empresas da região que permanece sob o comando da mesma família, desde sua fundação, em 1808. A partir de 2008, a oitava geração assume o comando da vinícola, com Thomas Henriot.
E os negócios parecem estar indo muito bem, pois o grupo é proprietário de mais três respeitáveis casas francesas: a Bouchard Père et Fils, da Borgonha, a William Fevre, de Chablis, e mais recentemente adquiriu a Villa Ponciago, de Beaujolais, em Fleurie.
Um detalhe curioso, que não passou desapercebido, no almoço oferecido pela importadora Vinci, foi que o apresentador, diretor de exportações do grupo, chamava-se Luc Bouchard. Não poderia ser mera coincidência e o anfitrião me confirmou que era, sim, parte da família cuja vinícola havia sido comprada pela Henriot. Pelo jeito, foi uma transação comercial amigável.
Mas voltando aos Champagnes, a vinícola de Reims, elabora uma quantidade, digamos, discreta de garrafas ao ano, totalizando 1,2 milhões. Apegada às tradições, considera sua linha de espumantes quase que imutável. Quando perguntei se a casa não iria embarcar na onda dos Champagnes Pas Dosé, o olhar foi de espanto. E quando cometi a heresia de perguntar sobre a possibilidade de elaborarem um "Ice Champagne", aí então a expressão foi de quase ojeriza. Aprendi que não posso brincar com essas coisas...
O almoço foi harmonizado com 5 espetaculares espumantes, que mostravam seu refinamento desde o mais simples, não safrado, até o exclusivíssimo Cuvée des Enchanteleurs 1998. Mas os preços também são elevados desde o início da linha: o Brut Souverain custa R$323 e os valores vão subindo até atingir assustadores R$954 para o topo da linha. É claro que são rótulos para o alto da pirâmide e, mesmo assim, para ocasiões prá lá de especiais.
Os três exemplares não safrados - o Brut Souverain, o Blanc de Blancs e o Brut Rosé eram de uma elegância invejável, frescos, florais e muito harmoniosos. O Brut Millésime 2003 era sedutor, complexo e exalava deliciosas notas de padaria e de avelãs, envolvendo uma estrutura poderosa e balanceada.
O estranho nome do vinho superior, o Cuvée des Enchanteleurs 1998 homenageia, de forma peculiar, os trabalhadores da adega responsáveis por empilhar os barris. Reza a lenda que eles costumam separar a melhor barrica para eles próprios. Elaborado unicamente em anos especiais, é o supra-sumo da elegância francesa, e seu corte em partes iguais de Chardonnay e Pinot Noir, é encantador: seus aromas de torta de maçã, cítricos e de gengibre embalam um paladar direto, crocante e concentrado. Uma bela experiência para guardar na memória.
Oscar Daudt
04/12/2013 |